Economia
Relembre os recordes na pecuária de corte em 2024
As expectativas para o novo ano são de um mercado mais favorável à pecuária e expansão das exportações; o tema protecionismo também deve estar na pauta do setor em 2025

Sabrina Nascimento | São Paulo
30/12/2024 - 10:13

Ao longo de 2024, a palavra recorde esteve presente, constantemente, no setor de pecuária bovina. Novos patamares históricos de abate, produção, preços e exportação foram alcançados.
Os dados dos primeiros meses indicaram como seria o ano. O primeiro trimestre marcou um novo pico no número de abate de bovinos no Brasil. No período, o país abateu 9,3 milhões de cabeças — alta de 24,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o levantamento de estatísticas da produção pecuária divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Contudo, o volume, que era recorde, foi superado: pela primeira vez na história brasileira, o setor pecuário abateu mais de 10 milhões de cabeças de bovinos. O marco foi alcançado no terceiro trimestre de 2024 e teve o impulso da demanda crescente, no mercado interno e externo, mas, sobretudo, foi resultado de um maior abate de fêmeas. Neste intervalo, o envio de matrizes aos frigoríficos cresceu 19,6% em relação ao terceiro trimestre de 2023, enquanto que o abate de machos subiu 12,5%.
“2024 foi caracterizado por uma oferta muito grande de bovinos para abate. Essa oferta, já vinha grande em 2023 e continuou grande devido à ampla oferta de animais que são provenientes de um ciclo de maior retenção de fêmeas observado entre 2019 e 2022. […]Em 2022, presenciamos a inversão do ciclo: o preço dos bezerros recuou, e as fêmeas passaram a ser enviadas para o abate”, explicou ao Agro Estadão o engenheiro agrônomo e diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres.
Esse cenário de maior oferta impactou também as exportações, favorecendo o aumento do volume da proteína enviada ao exterior. Entre janeiro e novembro, o Brasil exportou mais de 2,6 milhões de toneladas, consolidando um novo recorde, mesmo sem o acréscimo dos dados de dezembro. O resultado do acumulado do ano supera em aproximadamente 15,5% o volume embarcado no mesmo período do ano anterior (2,2 milhões de toneladas). Os dados são da secretaria de Comércio Exterior, compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Além disso, houve ainda a abertura de novos mercados e o reconhecimento nacional de área livre de febre aftosa sem vacinação. A medida agrega valor à carne bovina e serve de argumento para a entrada em mercados mais exigentes. Em entrevista ao Agro Estadão, em abril, o secretário de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart, adiantou que, após conseguir o status internacional — aguardado para 2025 —, o país irá pleitear uma modificação em acordos de comercialização de carne bovina com outros países.
Outro aspecto marcante na pecuária bovina este ano foram os preços. Apesar das oscilações e baixos níveis verificadas no primeiro semestre, com destaque para a mínima do ano registrada em junho — R$ 215,30 —, os valores reagiram nos meses subsequentes. “Naquele período [de preços baixos], as pastagens estavam ruins, e muitos pecuaristas aumentaram suas vendas, inclusive de fêmeas, para diminuir custos e limitar a perda de peso”, enfatiza em boletim o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Em agosto, as condições do mercado começaram a mudar. Os frigoríficos passaram a intensificar a busca por novos lotes de animais para o abate, oferecendo preços mais altos a cada dia. Esse cenário gerou um aumento acentuado no valor da arroba, o que, por sua vez, elevou também os preços da reposição dos animais. Resultado: houve uma trajetória de valorização. No dia 27 de novembro, o preço médio do boi gordo no estado de São Paulo atingiu o valor nominal recorde de R$ 352,65 por arroba no indicador Cepea. Até então, o recorde nominal era de R$ 352,05, registrado em março de 2022.
Porém, no encerramento de novembro, os valores passaram a cair pressionados pelo recuo da demanda, já que os frigoríficos começaram a diminuir as compras de bovinos. No indicador Cepea, no acumulado de dezembro (até o dia 27) a desvalorização da arroba era de 9,55%, mas ainda sendo negociada acima de R$ 315.
Embora tenha ocorrido uma queda recente nas cotações, as perspectivas são positivas em 2025. “A expectativa, de maneira geral, é de um mercado mais favorável ao pecuarista do que foi em 2023 e do que foi em 2024”, destaca Torres.
Pecuária unida contra o protecionismo
Ao longo de 2024, a pecuária de corte brasileira também teve de lidar com críticas em relação à sustentabilidade do setor. Ao passo em que se projetava um cenário expansão das exportações de carne bovina, com aumento de cotas após a assinatura do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, opiniões protecionistas tentaram manchar a imagem do setor.
Esses posicionamentos, sobretudo, vieram de países da UE, onde os produtores protestaram contra a chancela do tratado. Em especial, na França, o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard declarou que, em apoio ao setor local, não compraria mais carne bovina do Brasil para comercializar em seus supermercados.
A resposta do setor de carne bovina brasileira foi unânime: boicote ao Carrefour brasileiro. Grandes frigoríficos, como Minerva, deixaram de entregar carne aos supermercados da rede. O movimento também ganhou o apoio de outros setores da economia.
Com as repercussões negativas e o risco de desabastecimento nas lojas do Brasil, o CEO global do Carrefour se retratou. Em carta enviada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, Bompard pediu desculpas por seu posicionamento.
No entanto, o caso Carrefour, não foi o único desencadeando críticas às carnes brasileiras e de outros países do Mercosul. Com a mesma visão, deputados franceses afirmaram, durante discurso no parlamento do país, que seus pratos não eram lixeiras para receber a proteína produzida brasileira.
O assunto deve continuar na pauta em 2025, pois o texto do acordo comercial ainda precisa ser ratificado pelos Congressos e Parlamentos dos países membros de ambos os blocos econômicos. Além disso, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil deve tomar ações legais na União Europeia contra a posição do Grupo Carrefour por ter prejudicado a imagem dos produtos brasileiros, especialmente a carne, no comércio internacional.
Ainda no cenário global, o governo e as indústrias brasileiras acompanham atentos a investigação aberta por Pequim para apurar as importações de carne bovina feitas pelo país entre 2019 e 2023. O procedimento anunciado nos últimos dias de dezembro, atinge todos os países que exportam a proteína bovina para a China.
Sem a adoção de qualquer medida preliminar, as investigações devem durar oito meses, podendo ser prorrogadas. No entanto, o fato acende um alerta à pecuária em 2025, uma vez que, o país asiático é o principal comprador da carne bovina do Brasil. E, caso o governo de Pequim decida por aumentar as tarifas de importação, o impacto sobre o setor pode ser significativo.
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