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Brasil busca ampliar mercados e diversificar exportações no agro

Estratégias para reduzir dependências, explorar novos mercados e valorizar a sustentabilidade direcionam o futuro do agronegócio brasileiro

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Gabriel Azevedo | Broadcast Agro

22/11/2024 - 14:43

Foto: Adobe Stock
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O agronegócio, setor responsável por quase metade das exportações do Brasil, enfrenta o desafio de diversificar seus mercados e reduzir a forte dependência de parceiros comerciais, como a China. Com recorde de exportações no acumulado de 2024, somando US$ 140,02 bilhões até outubro, o Brasil consolidou sua posição como um dos maiores players global em alimentos e commodities agrícolas. No entanto, a concentração em mercados específicos, os crescentes desafios regulatórios e a necessidade de expansão para novos destinos colocam o País em uma encruzilhada estratégica.

A China, maior compradora de produtos agrícolas brasileiros, é responsável por cerca de 35% das exportações do setor. Produtos como soja, carne bovina e de frango lideram as vendas. “A dependência é ruim. Caiu a dependência dos Estados Unidos e da União Europeia proporcionalmente, mas aumentou a da China. Temos  que rever isso”, destaca o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Caio Carvalho. Em 2023, as exportações para a China somaram US$ 63 bilhões. Segundo Carvalho, o risco de concentrar as vendas em um único destino demanda ações de diversificação e fortalecimento de parcerias com outras regiões. 

Com potencial para parcerias

Entre os mercados com maior potencial estão o Sudeste Asiático e o Oriente Médio. O coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, aponta que países como Malásia, Singapura, Tailândia e Indonésia apresentam oportunidades significativas de expansão para o Brasil. “Os países do Sudeste Asiático têm mais de 600 milhões de habitantes e são superinteressantes. Podemos ampliar bastante nossa presença por lá”, afirmou. O Oriente Médio, por sua vez, desponta não apenas como comprador, mas também como investidor estratégico. “Temos recebido grupos importantes, preocupados com segurança alimentar, como fundos soberanos dos Emirados Árabes e da Arábia Saudita”, complementa Carvalho. 

No contexto de ampliação de parcerias, o acordo Mercosul-União Europeia, que já se arrasta há mais de 20 anos, segue sendo tema central nas discussões. Para Jank, as cotas restritivas impostas pela Europa para produtos sensíveis, como carne bovina, açúcar e frango, limitam os ganhos do setor agropecuário brasileiro. “A Europa não é mais um continente dinâmico, e os volumes negociados são pequenos. No entanto, o acordo seria importante para o Brasil se integrar ao cenário global”, avalia. Carvalho reforça que o acordo, embora limitado para o agronegócio, é essencial para posicionar o Brasil como um player estratégico no mercado global. “Precisamos equilibrar relações e não ficar dependentes de um ou outro mercado.” 

Para o longo prazo, mercados como Índia e países da África apresentam potencial significativo, embora hoje representem parcela pequena das exportações. “A Índia, mesmo sendo mais populosa que a China, é muito protecionista. E a África ainda é muito complicada. São mercados que precisamos olhar, mas com horizontes mais longos”, avaliou Jank.

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No entanto, segundo o presidente da Abag, a abertura de novos mercados exige esforços conjuntos entre governo e iniciativa privada. Em 2024, o Brasil alcançou sua 198ª abertura de mercado, totalizando 276 novos acessos comerciais em 61 destinos desde o início de 2023. Entre os produtos que ganharam novos mercados estão carnes, algodão e frutas. “A integração público-privada é fundamental. Não com críticas ou posturas ideológicas, mas com o interesse maior do País”, reforçou Carvalho, destacando o papel de entidades como a Apex e associações setoriais no fortalecimento da imagem do Brasil no exterior. 

Desafios 

Apesar das conquistas, o cenário internacional impõe desafios. A Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR), que entrará em vigor em 2025, exige rastreabilidade completa de produtos como soja, carne e café. Segundo Jank, atender às exigências pode gerar custos significativos. “Separar uma linha de carregamento específica para produtos rastreados ou manter cadeias completas de ciclo fechado, como no caso da pecuária, é inviável para grande parte dos produtores. Isso aumenta os custos e reduz a competitividade dos produtos brasileiros”, alerta. 

Para Carvalho, a EUDR reflete um protecionismo disfarçado, que ignora as especificidades dos países do Hemisfério Sul. “Eles querem transformar o mundo como se fosse o Hemisfério Norte, e não é. Temos diferenças significativas, e essas diferenças precisam ser reconhecidas”, criticou. 

Além da Europa, os Estados Unidos voltam ao radar com a reeleição de Donald Trump. “A relação comercial Brasil-EUA no agro é marcada pela concorrência direta. Eles exportam tudo o que exportamos, de carne a grãos”, observou Jank. Para ele, a política protecionista de Trump, que já impactou o comércio global em seu primeiro mandato, pode levar a uma maior dependência da China, caso uma nova guerra comercial entre americanos e chineses se intensifique. “O Brasil saiu ganhando na última guerra comercial, especialmente na soja, mas hoje as possibilidades de ganhos são menores. O que precisamos é diversificar mercados e produtos para não ficarmos vulneráveis”, analisou. 

Diferenciais

A busca por novos mercados também passa pela valorização da sustentabilidade como diferencial competitivo. Segundo o pesquisador do Centro de Bioeconomia da FGV, Leonardo Munhoz, o Brasil possui características únicas que podem ser transformadas em vantagem estratégica. “O Brasil é o único país que exige preservação de matas em propriedades privadas, por meio de servidão administrativa. Isso pode ser transformado em um selo de sustentabilidade reconhecido globalmente”. Munhoz acredita que a comunicação desses avanços é essencial para rebater críticas e fortalecer a posição do país em negociações internacionais. 

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Apesar dos obstáculos, o Brasil tem se consolidado como líder global em segurança alimentar, registrando aumentos consecutivos nas exportações desde 2020. “O agro brasileiro reagiu rápido às crises globais, seja a pandemia, a guerra na Ucrânia ou a inflação alimentar. Isso reforçou nossa posição como fornecedor confiável”, pontuou Jank. Ele destacou que, mesmo com a queda nos preços internacionais, os volumes exportados continuaram crescendo, garantindo recordes sucessivos. 

A diplomacia também é vista como ferramenta indispensável para equilibrar relações comerciais e ampliar mercados. “O Brasil precisa adotar uma postura multilateral, alinhando-se a parceiros estratégicos sem dependências excessivas”, recomenda Carvalho. Para ele, a integração entre governo, setor privado e associações é crucial para melhorar a imagem do País e atrair investimentos externos. “O Brasil é rico em recursos naturais, mas precisa de capital. E para isso, uma melhor relação público-privada e uma diplomacia clara são fundamentais”, conclui.

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