Economia
Carrefour França diz que não venderá carne do Mercosul; agro no Brasil repudia
Setor pecuário vê protecionismo e Mapa afirma que pecuária brasileira atende à padrões mais rigorosos do mundo, inclusive da União Europeia

Sabrina Nascimento | Presidente Prudente (SP)
20/11/2024 - 20:33

O CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, afirmou que a rede no país não vai mais comercializar carne de países do Mercosul, o que inclui o Brasil. A declaração foi publicada nesta quarta-feira, 20, nas redes sociais do empresário e é endereçada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
Na carta, Bompard afirma ouvir em toda França, “o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul”. Ele segue mencionando “o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas”.
Diante disto, o CEO da rede na França, assegura que “o Carrefour quer agir em conjunto com o setor agrícola e assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul.”
Bompard ainda apela aos donos de restaurantes “que representam mais de 30% do consumo de carne na França – mas onde 60% é importada – para que se unam a esse compromisso”. O dirigente diz esperar “inspirar outros atores do setor agroalimentar e impulsionar um movimento mais amplo de solidariedade.” (Confira abaixo a íntegra do comunicado).
Segundo o grupo Carrefour Brasil, “nada muda nas operações” aqui no país.
Vale lembrar que a publicação da carta do CEO do Carrefour França acontece menos de um mês após o diretor financeiro da Danone francesa indicar que a empresa deixou de comprar soja brasileira.
Agro brasileiro rechaça declarações: “é protecionismo”
O assunto repercutiu entre o setor pecuário brasileiro que avalia como protecionista a atitude do CEO do Carrefour na França.
Em nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) lamentou a “postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações.”
A nota segue: “o posicionamento do Mapa é de não acreditar em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do Acordo Mercosul – União Europeia, debatido na reunião de cúpula do G20 nesta semana”. Segundo o Ministério, “tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, não serão aceitas.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) também se manifestou. De acordo com a entidade, “ao adotar um discurso protecionista em defesa dos produtores franceses, o Carrefour fragiliza seu próprio negócio e expõe o mercado europeu a riscos de abastecimento, já que a produção local não supera a demanda.”
Já a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) chamou de “infundadas” as declarações de Bompard “que se utiliza de argumentos equivocados ao dizer que as carnes produzidas pelos países-membros do Mercosul não respeitam os critérios e normas do mercado francês”. Para a ABPA, a “argumentação é claramente utilizada para fins protecionistas, ressonando uma visão errônea de produtores locais contra o necessário equilíbrio de oferta de produtos de seu próprio mercado”.
Para Maurício Veloso, presidente da Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon), a decisão de Bompard foi intempestiva e “faz com que a possibilidade de respeito por ele caia por terra”. “Ele [Alexandre Bompard] está muito preocupado com uma narrativa ligada à proteção de um pequeníssimo núcleo de produtores pecuários, em detrimento de toda a população francesa”, afirmou Veloso ao Agro Estadão durante a Feicorte 2024.
Conforme o presidente da Assocon, o dirigente do Carrefour francês quer penalizar a excelência da pecuária de corte brasileira, à revelia dos interesses mais legítimos que da população francesa. “Ele não merece resposta maior, apenas que ele seja devidamente ignorado”, enfatizou Maurício.
Em nota, a Associação Brasileira de Angus e Ultrablack destacou, que a declaração se trata é “improcedente e que acarreta sérios prejuízos à imagem e à reputação da proteína brasileira, produzida a partir de um trabalho sério e responsável feito por criadores e empresas do setor. E ainda mais grave quando a mesma é proferida por um executivo de uma companhia global com ampla ligação com o nosso país”. Segundo a Associação, “quando líderes mundiais discutem a fome e a ampliação do acesso de mais e melhores alimentos, medidas protecionistas como a anunciada pelo executivo colocam em risco esses esforços”.
Íntegra do comunicado do CEO do Carrefour na França

“Senhor presidente,
Em toda a França, ouvimos o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas.
Em resposta a essa preocupação, o Carrefour quer agir em conjunto com o setor agrícola e assume hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul.
Esperamos inspirar outros atores do setor agroalimentar e impulsionar um movimento mais amplo de solidariedade, além do papel da distribuição, que já lidera a luta em favor da origem francesa da carne que comercializa.
Faço um apelo especial aos restaurante, que representam mais de 30% do consumo de carne na França – mas onde 60% é importada – para que se unam a esse compromisso.
Somente unidos poderemos garantir aos pecuaristas franceses que não haverá nenhuma possibilidade de contornar essa questão.
No Carrefour, estamos prontos, qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer.”
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