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Economia

Salvaguarda à carne bovina: Câmara Brasil-China vê desfecho favorável ao setor brasileiro

Cenário é projetado diante da dependência chinesa pela carne e da relação comercial entre os países, que se fortaleceu após o tarifaço

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Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com

29/12/2025 - 14:22

Tang afirma que a tendência é que a China se aproxime cada vez mais do Brasil. Foto: Câmara Brasil-China/Divulgação
Tang afirma que a tendência é que a China se aproxime cada vez mais do Brasil. Foto: Câmara Brasil-China/Divulgação

O ano de 2025 caminha para o seu encerramento com expectativas em torno da conclusão da investigação em curso na China sobre medidas de salvaguarda para a importação de carne bovina de diversos países, incluindo o Brasil. Dependendo do desfecho, o gigante asiatico poderá aplicar cotas ou tarifas em suas compras externas. 

O processo foi aberto há pouco mais de um ano e, inicialmente, deveria ter sido concluído em meados deste ano. As autoridades chinesas, porém, postergaram sua decisão duas vezes, com o novo prazo estipulado para janeiro de 2026.  

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Apesar do temor frente a rumores e incertezas sobre qual decisão deverá ser adotada, o presidente da Câmara Brasil-China, Charles Tang, não acredita que o setor brasileiro será afetado. Ao Agro Estadão, ele destacou que o fortalecimento da relação entre ambos os países, especialmente nos últimos meses, durante o tarifaço dos Estados Unidos, e a falta de capacidade chinesa para atender à demanda interna por carne bovina devem pesar na deliberação. 

No acumulado deste ano (janeiro até novembro), o Brasil exportou 2,8 milhões de toneladas de carne bovina fresca, refrigerada ou congelada e o mercado chinês foi o principal destino dos embarques, sendo responsável por 53,9% das compras, de acordo com dados da plataforma ComexStat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Tang ainda falou sobre o apetite chinês pela soja brasileira diante do acordo comercial com os EUA, apontou as janelas de oportunidade para o agronegócio em 2026 e destacou como os chineses têm olhado os mecanismos de sustentabilidade para fechar negócios. Confira, a seguir, a íntegra da entrevista:

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Qual balanço o senhor faz da relação entre Brasil e China em 2025, no aspecto do agronegócio?

Olha, a relação entre o gigante da América do Sul e o gigante da Ásia nunca esteve tão próxima. Com o tarifaço de Trump contra a China, o país parou de comprar soja dos Estados Unidos, para o desespero dos fazendeiros norte-americanos, e reduziu drasticamente a compra de proteínas animais dos EUA. Com isso, aumentou brutalmente as compras de grãos e proteínas animais do Brasil. 

No primeiro governo Trump, quando ele taxou a China em 25%, o Brasil, que exportava pouco mais de 50% da safra de soja para os chineses, passou a exportar mais de 90%, a um preço 25% superior. Toda vez que os EUA impõem restrições e tarifas contra a China, é uma bonança para o Brasil. Sem dúvida alguma, Brasil e China vêm se aproximando cada vez mais. Além disso, a China é o único país que está trazendo novas tecnologias para o Brasil.

Falando em investimentos e tecnologia, ao andar pelo interior do Brasil, nas áreas agrícolas, percebemos cada vez mais a presença de empresas chinesas. Essa é uma tendência que deve continuar nos próximos anos?

Sem dúvida alguma. A China é muito importante para o Brasil e o Brasil é muito importante para a China também. A excelência da agricultura brasileira ajuda a garantir a segurança alimentar do povo chinês. Além disso, o Brasil fornece os minérios essenciais para o avanço tecnológico e para as indústrias sofisticadas da China.

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Voltando à questão do fortalecimento da relação Brasil-China neste ano, muito influenciada pelo tarifaço dos EUA, houve um acordo entre os governos chinês e Trump para a compra de soja norte-americana. O que os produtores de soja do Brasil podem esperar? A demanda chinesa seguirá aquecida?

Os EUA e a China vivem uma era de tensão. Mesmo com a queda nas exportações para os EUA, a China conseguiu exportar cerca de US$ 1 trilhão no ano passado. Esse acordo afeta um pouco, mas o setor agrícola brasileiro pode ficar muito tranquilo quanto ao contínuo aumento do consumo de produtos brasileiros pela China.

Isso mesmo com a Argentina também aumentando os embarques de soja para a China?

Sim, claro. Como a China parou de comprar dos EUA, precisou comprar de todos os fornecedores do mundo. Mas o governo argentino é mais alinhado aos EUA. Se a China tiver que escolher entre a soja do Brasil ou da Argentina, a escolha tende a ser do Brasil.

Além da soja, o Brasil exporta muita carne bovina para a China e está em curso uma investigação para possível aplicação de salvaguardas contra as importações. O que os produtores podem esperar?

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Acredito que a decisão fique para 2026. A China precisa importar carne bovina porque é autossuficiente em aves e suínos, mas não consegue ser autossuficiente em carne bovina, por falta de terra. Apesar de ser maior que o Brasil em território, a China tem vastas áreas de desertos e montanhas e uma população muito maior. Não há espaço suficiente para produção de gado em escala. Então, acho que o direcionamento deve ser favorável ao Brasil.

Recentemente, houve visitas de comitivas chinesas ao Brasil, especialmente ao Mato Grosso, para discutir possíveis protocolos de sustentabilidade. Como esse tema está sendo tratado?

Sustentabilidade é muito importante para a China. A política internacional chinesa se baseia em igualdade, sustentabilidade e parceria. O plano quinquenal chinês está centrado nessas três filosofias. Quando os Estados Unidos saíram do Acordo de Paris, a China assumiu a liderança da pauta ambiental. Foi a China que tornou a energia solar mais barata, e o país segue avançando em tecnologias de energias limpas. O presidente Xi Jinping afirma que a China terá emissão zero até 2060.

Nesse aspecto da sustentabilidade, discute-se no Brasil, em diversas instâncias da justiça, inclusive na Suprema Corte, a Moratória da Soja. Uma eventual derrubada desse acordo poderia comprometer os negócios com a China sob o aspecto da sustentabilidade?

Pode comprometer, sim, mas não é tão simples. A China precisa de soja, especialmente do Brasil, mas também presta muita atenção à sustentabilidade.

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Este ano, o Brasil teve os primeiros estabelecimentos habilitados para exportar DDGs e sorgo à China. Podemos esperar novas habilitações no próximo ano?

Sim. Estamos focados em ampliar investimentos chineses no Brasil e apoiar produtores brasileiros na obtenção de licenças para exportação. Também ajudamos importadores a acessar financiamento do governo chinês, com juros de até 3% ao ano. A Câmara Brasil-China atua há décadas aproximando os dois países e trazendo investimentos. 

O que o setor agro pode esperar de investimento chinês em 2026?

Estamos trazendo grandes grupos industriais, incluindo fabricantes de ônibus, caminhões elétricos, equipamentos de energia, drones agrícolas e microtratores voltados à agricultura familiar. Esses microtratores, de baixo custo, atendem à realidade do pequeno produtor e podem ser usados para plantio, pulverização, irrigação e geração de energia.

Como o senhor avalia as perspectivas da relação Brasil-China para o agronegócio em 2026?

Para a satisfação dos agricultores brasileiros, a China deve continuar sendo um mercado gigantesco para o Brasil, cada vez mais relevante. Além disso, a excelência agrícola da Embrapa e dos produtores brasileiros faz com que o País seja um dos principais celeiros do mundo. A China também já começou a investir na infraestrutura que falta ao Brasil. A ferrovia bioceânica tende a dar um impulso significativo à economia brasileira e, principalmente, ao setor agropecuário, contribuindo de forma expressiva para o avanço do PIB.

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