Cotações
Arroba do boi gordo em alta: o que vem pela frente
Demanda elevada e oferta restrita mantém tendência de alta no mercado pecuário; Consultoria Markestrat também analisa cenários para soja, milho, cana, algodão e café
Sabrina Nascimento | São Paulo
05/11/2024 - 05:00
No último mês, a arroba do boi gordo no mercado físico teve valorização de 15,3%, alcançando R$ 320,55, no fechamento da última semana no indicador Cepea.
O movimento foi impulsionado pela forte demanda, especialmente no mercado exportador, e pela oferta ainda restrita, fatores que resultaram na maior média mensal da arroba em mais de dois anos, de acordo com a Markestrat.
Segundo a consultoria, desde junho, o mercado tem sido pressionado pela oferta limitada de animais, enquanto a demanda permanecia aquecida. Esse cenário reduziu as escalas de abate e aumentou o poder de negociação dos pecuaristas, resultando em uma valorização de 36% após a menor média mensal do ano, registrada em junho — R$ 215,30.
O movimento de alta está sendo impulsionado, principalmente, pelo aumento das exportações de carne bovina, que até outubro já registraram volumes e receitas recordes.
“A desvalorização cambial dos últimos meses e a menor oferta de carne dos Estados Unidos, com o rebanho em níveis mais baixos desde a década de 1960, impulsionaram as exportações de carne bovina brasileira para o mercado global, impactando os preços e disponibilidade interna”, explicam os especialistas da Markestrat.
Tendência do mercado do boi gordo
Nos próximos meses, espera-se um aumento no consumo interno devido às festas de fim de ano.
A demanda externa, no entanto, costuma recuar, enquanto a oferta tende a aumentar com a maior disponibilidade do “boi de capim” — favorecido pelas chuvas e pela melhoria das condições das pastagens. Isso pode moderar o impacto nos preços, já que valores de contrato futuro para dezembro e janeiro sofreram retração na última semana, conforme a consultoria.
Na B3, os contratos futuros para outubro (BGIV24) encerraram o mês a R$ 312,56 a arroba, enquanto os contratos de novembro (BGIX24) subiram 2%, fechando a R$ 325,10 a arroba. Já os contratos para dezembro e janeiro registraram leve queda, “indicando um mercado mais cauteloso em relação ao ritmo de valorização recente”.
As categorias de reposição continuam em valorização. O preço do bezerro no indicador Cepea subiu 5,1% na última semana, chegando a R$ 2.425,28/cabeça, com uma valorização acumulada de 12,9% em outubro.
“Essa tendência de valorização deve se intensificar nos próximos meses, incluindo alta para animais reprodutores, como vacas e novilhas”, projetam os analistas da Markestrat.
Soja
A saca de soja seguiu em alta no mercado físico pela segunda semana consecutiva. Em Paranaguá-PR, foi cotada a R$ 144,28, um aumento semanal de 0,8%.
Com as chuvas mais regulares nas principais regiões produtoras, o plantio avançou no Centro-Sul, atingindo 37% da área estimada. Ainda assim, está abaixo do ritmo da última safra, quando 40% da área já havia sido semeada no mesmo período.
A Markestrat alerta para os níveis de umidade do solo. “Esse cenário concentra as operações de plantio e, futuramente, de colheita, elevando o risco de problemas logísticos no escoamento da safra, o que pode impactar o valor do frete e, consequentemente, nos preços e as margens de comercialização”, pontua.
No mercado futuro, a soja subiu 1,6% na CBOT. Os contratos para novembro (ZSX24) fecharam a sexta-feira a US$ 9,95/bu. A alta foi limitada pela proximidade do fim da colheita nos EUA e pelo avanço do plantio no Brasil, mesmo com exportações aquecidas e aumento nos preços do óleo de soja.
As eleições norte-americanas também estão no radar do mercado da soja. Importadores chineses estão preocupados com uma possível vitória de Donald Trump, que poderia trazer novas tarifas sobre produtos americanos. “Isso levou a um aumento nas compras antecipadas de soja dos EUA para embarque em 2024, resultando em prêmios mais altos por bushel. Um aumento nas compras de soja brasileira para 2025 também foi observado”, indica a consultoria.
Cana-de-açúcar
Os problemas enfrentados na última safra de cana-de-açúcar, que resultaram em menor produtividade dos canaviais, somados a outros fatores, continuam afetando os preços do açúcar e do etanol no período de entressafra no Brasil, que deverá ser prolongado.
A demanda interna aquecida e exportações recordes em outubro mantiveram a pressão nos preços do açúcar no mercado físico. Ao longo da última semana foi registrada uma alta de 5%, com a saca negociada a R$ 164,66. No mês, a elevação acumulada foi de 12,7%, o que manteve os preços do açúcar mais atrativos no mercado interno, do que no externo.
No mercado futuro em Nova York, o contrato com vencimento em março (SBH5) permaneceu praticamente estável (-0,05%) durante a semana, sendo negociado a US$ 22,07/lb.
Para o etanol, os contratos com vencimento em outubro (ETHV24) foram liquidados a R$ 2.655,00/m³. Já os contratos com vencimento em novembro (ETHX24) tiveram valorização de 0,2% ao longo da última semana, fechando em R$ 2.711,00/m³.
De acordo com a consultoria, esse movimento de alta reflete a valorização dos combustíveis e a forte demanda pelo biocombustível, favorecida por uma paridade atrativa com a gasolina.
Além disso, os preços deverão ser impactados pela maior produção de etanol em detrimento de açúcar pela Índia na safra de 2024/25, em razão de políticas para diminuir a dependência e utilização de combustíveis fósseis no país, destaca a Markestrat em relatório.
Milho
Os preços do milho (CEPEA) subiram 1,3% no mercado físico na última semana. A saca foi negociada a R$ 73,11, impulsionada pela alta demanda interna e pela oferta limitada, comum na entressafra.
No mercado futuro, os contratos na B3, que vinham em alta, recuaram. Os contratos de novembro (CCMX24) caíram 0,4%, fechando a R$ 72,99 a saca. Os contratos para janeiro também tiveram queda de 0,3%, terminando a R$ 76,73 por saca. A desvalorização foi atenuada pela alta da commodity em Chicago e pela valorização do câmbio no Brasil.
O plantio da safra 2024/25 avançou para 36,8% da área prevista, favorecido pelo aumento e pela regularidade das chuvas nas principais regiões produtoras. Esse índice está próximo ao de 2023, com destaque para o Sul, que já semeou mais de 80% da área projetada.
Na CBOT, o contrato CZ24 subiu 0,2%, negociado a US$ 4,28/bu. Esse aumento reflete o fim da colheita nos Estados Unidos e o ritmo firme de exportações, especialmente para a China.
Café
Na última semana, os preços da saca de café mantiveram um movimento de queda tanto no mercado físico quanto no futuro.
O grão arábica foi negociado a R$ 1.516,17/saca no indicador Cepea — praticamente estável (-0,1%) na semana e acumulando alta de 2,1% em outubro. Em
contrapartida, o café robusta registrou uma desvalorização de 1,68%, sendo comercializado a R$ 1.416,10/saca, com uma queda acumulada de 4% no mês.
Após uma sequência de altas, o ritmo de valorização dos preços desacelerou nas últimas semanas. No mercado futuro, os contratos do arábica com vencimento em dezembro (KCZ4) na bolsa de Nova York recuaram 2,2%, fechando a US$ 2,42 por libra. O café robusta na bolsa de Londres acompanhou a tendência e desvalorizou 2,8% para os contratos de novembro (RCX24), encerrando a semana a US$ 4.274 por tonelada.
“Os preços do arábica permanecem comedidos devido ao retorno das chuvas no Brasil, que coincidem com a abertura das floradas de café”, indica o relatório. “Embora as floradas estejam dentro do esperado, a produtividade ainda é incerta, pois restrições hídricas anteriores limitaram o desenvolvimento de folhas, essenciais para a nutrição e crescimento dos frutos”.
No cenário internacional, a colheita no Vietnã — maior produtor mundial de robusta — está em plena safra, aumentando a oferta global e pressionando os preços.
Algodão
A pluma de algodão registrou desvalorização semanal e mensal. No mercado físico, o preço caiu 0,5% na última semana, com negociações a R$ 397,94 por arroba. No acumulado de outubro, a queda foi de 1,6%.
No mercado futuro, os contratos com vencimento em dezembro (CTZ4) em Chicago recuaram 0,5%, encerrando a semana a 70,23 cents por libra-peso. Segundo a Markestrat, esse movimento baixista é reflexo de uma oferta abundante devido ao período de colheita nos principais países produtores, além de uma demanda enfraquecida. Houve redução de compras nos principais países importadores devido a desafios políticos e financeiros.
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