Agropolítica
Fim da desoneração da folha não agrada, mas estabilidade é bem vista, afirma setor de proteína animal
Avaliação é de que Brasil pode perder competitividade com a volta dessa arrecadação tributária
3 minutos de leitura 14/09/2024 - 09:00
Daumildo Júnior* | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
A semana em Brasília contou com mais um esforço concentrado por parte dos parlamentares para votação de matérias importantes. Um dos projetos aprovados pela Câmara dos Deputados foi o 1.847/2024, que trata do fim da desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia, entre eles o setor de proteína animal.
O aumento da carga tributária não agradou nem gregos e nem troianos, mas foi um meio termo frente ao impasse depois que a Lei 14.784/2023 foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Isso porque, essa legislação garantia a desoneração até 2027 e o governo federal entrou com a ação no STF para reverter os efeitos. A briga entre Executivo e Legislativo e o setor produtivo teve contornos extremos com a Medida Provisória 1.227/2024, que limitava benefícios fiscais e depois foi recusada pelo presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, a aprovação é bem-vinda e celebrada, pois traz estabilidade jurídica para o tema. “No contexto que a gente tinha de uma decisão jurídica que não permitia a fluição do programa [de desoneração], a gente fez esse acordo, então é bom que tenha tido aprovação para que você possa ter estabilidade das empresas”, avaliou Santin ao Agro Estadão.
Como a lei que garantia a desoneração foi contestada no STF, o ministro relator do caso, Cristiano Zanin, decidiu dar um prazo para que Executivo e Legislativo buscassem uma solução. Caso contrário, a lei seria suspensa imediatamente, ou seja, haveria uma reoneração total e imediata. Essa validade chegou a ser prorrogada, mas o prazo final vencia nesta semana.
Apesar da comemoração, a medida pode trazer impacto negativo no futuro e tornar o país menos competitivo, segundo Santin. “Você tira a competitividade das empresas no exterior quando você tem isso”.
Além disso, pode haver um aumento no preço dos produtos comercializados por esses setores, como a carne de frango ou suína. O presidente da ABPA fala que isso não seria para este ano, mas sim para os próximos, que é quando a medida de fato irá valer. “Não tem efeito neste ano. Pode ser que no ano que vem tenha impacto em cada um dos 17 setores conforme cada setor”, comenta Santin.
Outro ponto é que a desoneração foi adotada para facilitar a criação de novos empregos, no entanto, o presidente da ABPA não prevê que haja demissões por conta do fim desse benefício fiscal. O que pode haver é uma geração de empregos menor do que com o incentivo da desoneração. Dados da ABPA com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que de janeiro de 2019 a agosto de 2023 os 17 setores registraram um crescimento de 18,9% dos empregos formais frente aos 13% de crescimento nos outros setores.
“Nós entendemos, todos entendem, que esse é um programa que deveria ser mantido integralmente e não ter essa reoneração, porque é um programa que foi vitorioso”, enfatizou o presidente.
Como deve funcionar agora?
A desoneração foi criada em 2011 e previa que as empresas desses setores poderiam pagar uma alíquota de contribuição social de 1% a 4,5% sobre a receita bruta ao invés de pagar 20% de INSS sobre a folha salarial dos empregados.
O projeto aprovado pelos deputados nesta semana estipula uma volta gradual desse pagamento sobre os salários. Em 2024, a desoneração da folha fica mantida, mas a partir de 2025 recomeça com 5% e vai aumentando até chegar em 20% em 2028. Em contrapartida, a tributação sobre a receita bruta irá diminuir também de forma escalonada:
- em 2025, será entre 0,8% a 3,6%;
- em 2026, entre 0,6% a 2,7%;
- em 2027, entre 0,4% a 1,5%;
- em 2028, a alíquota é zerada.
A proposta que vai à sanção presidencial também determina que as empresas que optarem por essa transição devem firmar um termo de compromisso em que garantem manter uma média de empregados igual ou superior a 75% da média do ano anterior. Esse compromisso deve ser renovado a cada ano até 2027.
*Com informações da Agência Câmara
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
BNDES orienta bancos sobre novas regras para financiamento a produtores rurais no RS
2
CMN ajusta norma do PCA para câmaras frias
3
Luis Rua é nomeado secretário de Relações Internacionais
4
Governo prevê retorno das exportações de frango do RS para China em outubro
5
Brasil abre mais 20 novos mercados para produtos agro
6
Produtores afetados por queimadas poderão recorrer à linha do Plano Safra
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agropolítica
Mapa quer discutir regulamentação da lei europeia antidesmatamento com o setor produtivo
Secretário de Relações Internacionais do Mapa também avalia aberturas de mercado e confirma expectativa de chegar a 300 até o fim do ano
Agropolítica
Bioinsumos, incêndios, Marco Temporal e União Europeia são prioridades na agenda da FPA
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária criticou atuação do governo no combate às queimadas e qualificou como “incompentente” a ministra Marina Silva
Agropolítica
Lula sanciona lei do Combustível do Futuro
Lei trata de mobilidade sustentável, propõe o aumento da mistura do biodiesel ao óleo diesel e eleva o percentual mínimo obrigatório de etanol na gasolina
Agropolítica
“Vamos buscar todas as oportunidades que existirem em todas as cadeias produtivas”, diz novo secretário de Relações Internacionais do Mapa
Luís Rua tomou posse na tarde desta sexta, 04, e falou com exclusividade ao Agro Estadão sobre as “missões” dadas pelo ministro da Agricultura
Mapa troca diretor de Gestão de Risco
Jonatas Pulquério lamenta a saída após 18 meses e afirma: “sempre fui crítico ao modelo do seguro rural”
Luis Rua é nomeado secretário de Relações Internacionais
Saída de Roberto Perosa acontece três dias após substituir Fávaro no Mapa
Entidades agrícolas da Alemanha pedem que UE adie implementação de lei antidesmatamento
Em comunicado, as entidades disseram que a lei trará enormes impactos negativos para a agricultura e a silvicultura na Alemanha se entrar em vigor na sua forma atual ao fim de 2024
Brasil abre mais 20 novos mercados para produtos agro
O mês de setembro tem, até o momento, 50 aberturas de mercados para produtos brasileiros