Economia
Tarifas dos EUA impulsionam fortalecimento do BRICS, diz Fávaro
Titular do Ministério da Agricultura e Pecuária destaca potencial do Brasil para suprir demanda chinesa por carne bovina

Paloma Custódio | Guaxupé (MG) | paloma.custodio@estadao.com | Atualizada em 18/04/2025 às 11h39
17/04/2025 - 18:40

Após o encontro do Grupo de Trabalho (GT) da Agricultura do BRICS — onde foi elaborada uma nova agenda agrícola com foco em sustentabilidade e segurança alimentar — o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, falou sobre as tarifas impostas pelo presidente norte-americano ao Brasil e às demais nações. Na fala aos jornalistas, o titular da pasta afirmou que o tarifaço de Donald Trump motiva o fortalecimento do bloco econômico dos países emergentes.
“A afronta, neste momento, por parte do governo norte-americano — um protecionismo sem precedentes que cria barreiras tarifárias —, certamente nos induz ao fortalecimento do bloco. Buscamos, nisso, oportunidades. Cada país membro traz à mesa suas potencialidades, e discutimos juntos a ampliação das relações comerciais”, disse em coletiva de imprensa.
Diante da guerra tarifária entre EUA e China, o ministro Fávaro afirmou que, apesar do tamanho e da relevância da agropecuária norte-americana, “o Brasil é um dos pouquíssimos — ou talvez o único país do mundo — com a potencialidade de expandir, no mínimo, 40 milhões de hectares de áreas em estado de degradação e incorporá-las ao sistema produtivo com alta tecnologia”, destacou. Considerando que o Brasil tem duas safras por ano, o potencial de cultivo poderia chegar a 80 milhões de hectares em um ano.
Comércio de carne bovina com o mercado chinês
Perguntado sobre a possível rejeição do governo chinês às carnes bovinas de 28 frigoríficos brasileiros indicados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Fávaro disse que não houve rejeição. “Eles estão avaliando. Se fosse um problema específico, seria [rejeitada] uma ou outra planta frigorífica. Como foram todas, é impossível dizer que todas erraram. O ministro do Comércio chinês me disse que eles pretendiam avançar nas compras de suínos e frangos em 2025. Portanto, já era um indicativo de que eles queriam frear um pouco a compra de carne bovina”, avaliou.
Com a decisão da China de suspender cerca de 60% das compras de carne bovina dos Estados Unidos, o titular do Mapa ressaltou que, embora não se deva comemorar momentos de instabilidade, há uma oportunidade para serem revisadas as pendências com esses frigoríficos brasileiros, além de ampliar a lista dos indicados. “O Brasil tem plenas condições de suprir essa demanda com qualidade e segurança sanitária”.
O titular da pasta também destacou que representantes da Alfândega Chinesa (General Administration of Customs China – GACC) farão uma visita de rotina ao Brasil na próxima terça-feira, 22, com o objetivo de discutir a ampliação dos negócios entre os dois países. Além disso, ele confirmou que o Brasil está “na iminência” de abrir o mercado de pescados para a China nos próximos dias.
Amparo ao produtor diante das mudanças climáticas
Presente na coletiva, a secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Fernanda Machiaveli, reforçou que “está constante na Declaração Ministerial de Agricultura a busca por financiamento para superar, não só a questão da insegurança alimentar, mas especialmente a questão da adaptação climática”.
“É importante dizer que, embora seja responsável por grande parte da produção de alimentos no mundo e desempenhe um papel fundamental na mitigação dos efeitos climáticos, a agricultura familiar recebe apenas 1% dos financiamentos internacionais voltados à adaptação e mitigação climáticas. Portanto, é necessário reverter esse quadro”, declarou.
O ministro Fávaro aproveitou para relembrar os programas já existentes no Brasil voltados ao fortalecimento da resiliência do setor diante dos desafios climáticos. Entre eles, o Fundo Clima, o Eco Invest Brasil e os recursos do Plano Safra para recuperação de pastagens degradadas.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Tarifa: enquanto Brasil espera, café do Vietnã e Indonésia pode ser isento
2
COP 30, em Belém, proíbe açaí e prevê pouca carne vermelha
3
Exportações de café caem em julho, mas receita é recorde apesar de tarifaço dos EUA
4
Rios brasileiros podem ser ‘Mississipis’ do agro, dizem especialistas
5
Violência no campo: roubos e furtos de máquinas agrícolas crescem 37,5% no 1º semestre
6
Suco de laranja: apesar da isenção, setor ainda perde R$ 1,5 bilhão com tarifas

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
Colheita do milho safrinha atinge 86% da área no PR, aponta Deral
Operação entra em fase final em grande parte do Estado; lavouras afetadas por estiagem ou geadas tiveram baixo rendimento

Economia
Alta dos fertilizantes atrasa compras e encarece safra de soja
Segundo o IMEA, aquisição de fertilizantes em Mato Grosso já recuou 18% em 2025, o menor nível dos últimos seis anos

Economia
Indonésia abre mercado para carne bovina brasileira
Nova habilitação autoriza exportação de cortes com osso, miúdos e produtos cárneos ao país asiático

Economia
Funcafé libera R$ 31 milhões para produtores afetados por geadas
Valor é parte dos R$ 7,187 bilhões do Funcafé disponíveis para a safra 2025/26
Economia
Brasil fecha acordo para exportar ovinos vivos à Argélia
Agronegócio brasileiro soma 401 aberturas de mercado desde 2023
Economia
Conab: colheita de milho 2ª safra está atrasada ante 2024
Colheita chega a 89,3% da área, enquanto algodão e trigo seguem abaixo do ritmo histórico
Economia
Mercado pecuário exige equilíbrio entre venda e reposição; entenda
Consultoria Markestrat indica cenário favorável a negociações imediatas, mas alerta para atenção às margens de lucro
Economia
Soja em alta, milho em baixa: veja as compras da China em julho
As compras da China de óleo de soja cresceram mais de 200% em relação ao mesmo período do ano passado