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Economia

Ampliação da área irrigada no Brasil pode gerar R$ 37,1 bilhões a mais no PIB

Ministério da Agricultura quer lançar programa de fomento à irrigação com foco na capacitação e articulação interministerial para diminuir gargalos

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Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

21/11/2024 - 08:30

Lavoura de trigo irrigada em Cristalina (GO). Foto: Daumildo Júnior/Agro Estadão
Lavoura de trigo irrigada em Cristalina (GO). Foto: Daumildo Júnior/Agro Estadão

Um aumento de 6 milhões de hectares na área irrigada brasileira até 2040 pode gerar um crescimento de R$ 37,1 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. O estudo inédito com os resultados foi apresentado nesta terça-feira, 19, durante o 2º Workshop “Setor Agropecuário e a Gestão da Água – Polos de Agricultura Irrigada” organizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). 

A pesquisa aborda o que novas políticas de incentivo poderiam impactar para o crescimento da agricultura irrigada. Para isso, os pesquisadores traçaram o que eles chamaram de linha base, ou seja, um parâmetro de crescimento constante até 2040. Se não houver nenhuma outra política de incentivo e mantendo o crescimento nas taxas dos últimos cinco anos (que varia entre 180 mil a 200 mil hectares de área irrigada), o Brasil chegaria a 2040 com 12,1 milhão de área irrigada (8,5 milhões de hectares atuais mais 3,6 milhões de hectares de crescimento).

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No entanto, se adotar novas políticas que estimulem a irrigação, o país pode sair dos atuais 8,5 milhões de hectares para 18,1 milhões no panorama mais otimista. O exercício feito traz a projeção para dois cenários em cima da linha base. No primeiro cenário, o impacto de medidas de incentivo adicionais seria de mais 4,2 milhões de hectares sobre a linha base, totalizando 16,3 milhões de hectares irrigados. No segundo quadro, a ampliação sobre a linha base seria de 6 milhões, o que faria o país alcançar 18,1 milhões de hectares irrigados em 2040.

Com isso, os pesquisadores traçaram os efeitos desses crescimentos na economia brasileira. No primeiro cenário, o PIB aumentaria em R$ 25,9 bilhões (0,16%). Já no segundo, o crescimento seria de R$ 37,1 bilhões (0,23%). A princípio, o número pode parecer baixo, mas colocado em perspectiva, é um impacto maior do que outras políticas, como o Plano Nacional de Energia 2030 (+0,033% sobre o PIB) e disponibilidade de crédito rural analisado de 1999 a 2018 (+0,2% sobre o PIB).

“O que nós observamos é que considerando que o aumento da área irrigada aumenta significativamente a produtividade da agricultura, nós obtemos muitos efeitos positivos, em termos de PIB e também em todos os estados um aumento da renda desde os mais pobres até os mais ricos”, avalia um dos pesquisadores responsáveis, Joaquim Bento de Souza. 

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Imagem: Joaquim Bento de Souza/GPP da Esalq

Na análise por estados ou regiões, o impacto é ainda maior, já que em muitas localidades o peso da atividade agropecuária é maior. É o caso de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e a área conjunta de Goiás e Distrito Federal. No caso de MS, o primeiro cenário traria um crescimento de 1,29% no PIB do estado e de 1,77% na hipótese do segundo cenário. Em MT, os incrementos no Produto Interno Bruto estadual seriam de 1% e 1,44%, respectivamente. Para Goiás e Distrito Federal, as altas seriam de 0,73% e 0,97% para os respectivos cenários. 

Outro efeito computado é a queda nos preços dos alimentos. O cenário 1 traria uma redução na casa de 0,32% na inflação dos alimentos. Já no cenário 2 o declínio nos preços seria de 0,45%. Segundo o pesquisador, isso se deve ao aumento da produtividade o que geraria elevação da oferta interna e consequentemente uma queda nos preços. 

Arroz: cultura pode expandir produção em mais de 20%

O estudo também projetou como esse aumento de área impactaria as principais culturas irrigadas. Para isso, os pesquisadores utilizaram os parâmetros de 2019 em que arroz (15,9% do total), cana-de-açúcar sem fertirrigação (9,1%) e café (5,5%) aparecem como as principais lavouras com sistema de irrigação. A partir desses números, eles projetaram o crescimento das áreas irrigadas mantendo as proporções por cultura.

O arroz pode ter um acréscimo de produção de 29,6% no panorama mais otimista, enquanto a cana pode render mais 9,1%. Algodão e lavouras permanentes, como de laranja e banana, podem ter um incremento acima de 4% (ver quadro abaixo). As exportações também podem subir com o crescimento da produção desses alimentos.

Imagem: Joaquim Bento de Souza/GPP da Esalq

Mapa quer conscientizar outras pastas e espera lançar programa de fomento

A pesquisa feita pelo Grupo de Políticas Públicas da Esalq/USP foi encomendada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A intenção era traçar em números os impactos da agricultura irrigada no aspecto socioeconômico, como conta o coordenador-geral de Irrigação e Conservação de Solo e Água do Mapa, Gustavo Goretti. “ A gente já sabia dessa realidade, mas não tínhamos um número em si, desse impacto socioeconômico nas regiões”, afirma.

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O próximo passo é mostrar a outras pastas da Esplanada dos Ministérios que a agricultura irrigada traz benefícios extras.  “A ideia é que a gente consiga mostrar isso para os outros ministérios, como o Ministério do Meio Ambiente, outras partes do Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, e que eles podem se beneficiar do aumento da irrigação. […] O produtor vai ser o principal beneficiado e demandador de crédito para implementação, mas toda a sociedade a sua volta ganha”, aponta Goretti.

Além disso, a secretaria de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Mapa está prestes a lançar um programa de fomento à irrigação dentro do Plano ABC+, que trata de agricultura de baixo carbono. A ideia é que haja atuação em dois eixos: articulação com outros ministérios e, principalmente, capacitação. 

“A ideia é que a gente priorize a parte de capacitação, de fomento da tecnologia em si e de articulação com os outros ministérios para tentar desamarrar os nós que existem para o crescimento”, ressalta o coordenador. Segundo ele, faltam alguns detalhes como a aprovação final do ministro Carlos Fávaro para que o programa seja anunciado, o que ainda não há data para acontecer.

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