Economia
CNA projeta crescimento de até 5% no PIB do Agro em 2025
Entidade representativa também prevê ano “desafiador” devido às incertezas internas e externas
Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com | Atualizada às 13h
11/12/2024 - 10:01
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio em 2025 pode ser 5% maior do que em comparação com este ano, podendo chegar a R$ 2,85 trilhão. A projeção é da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que divulgou nesta quarta-feira, 11, o balanço do setor em 2024 e as previsões para o próximo ano.
Essa elevação tende a ser puxada pelo crescimento na produção agrícola brasileira, principalmente dos grãos. Além disso, as agroindústrias de exportação e de insumos também podem se destacar como forças para alavancar os números.
Neste ano, o PIB do Agro deve fechar com alta de 2% em relação ao ano passado (R$ 2,72 trilhão). Segundo a entidade, os preços de alguns produtos, como da carne bovina, ajudaram na reversão da tendência de queda do PIB, que era observada alguns meses atrás, como comentou o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi.
“Este ano a nossa expectativa era fechar com um PIB negativo na ordem de menos 3%. Tivemos uma seca intensa, o que já era uma problema previsto para este ano, mas não sabíamos ainda a magnitude dele, com frustração de safra. Porém, nós tivemos uma recuperação positiva no último trimestre do ano para várias cadeias, entre elas as carnes e outras culturas [café, cacau e laranja, por exemplo]”, citou o diretor, que ainda acrescentou que uma conjuntura entre oferta mais escassa e demanda em alta ajudou na elevação dos preços.
O presidente da entidade, João Martins, lembrou os desafios com seca, quebra de safra e as enchentes no Rio Grande do Sul e classificou o ano como “difícil”, mas mostrou otimismo com a resiliência dos produtores rurais. “Esse cenário fez com que o Agro brasileiro não esmorecesse. Esperávamos encerrar o ano com um PIB negativo, mas nós vamos encerrar o ano com 2% positivo”, disse no discurso de abertura.
O parecer da CNA também indica que em 2024 a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ficar acima da meta, que é de 4,5%, e chegar a 4,84%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), de janeiro a novembro, o IPCA registrado foi de 4,29%.
Próximo ano promete ser “desafiador para produtor”, avalia CNA
Questões internas e externas traçam um “cenário desafiador para o produtor rural” em 2025, aponta a entidade. Um desses aspectos analisados é a Taxa Selic, que referencia os juros no Brasil (veja as projeções abaixo). A questão fiscal no país, ou seja, os gastos públicos, devem pressionar a política monetária adotada pelo Banco Central, órgão responsável por subir ou abaixar a taxa. Com isso, o crédito rural tende a ficar mais caro.
No ambiente internacional, a expectativa é de que haja uma subida de tom nas disputas comerciais. A CNA cita a lei antidesmatamento da União Europeia com uma das medidas vistas como sanções aos produtos agropecuários do Brasil.
Além disso, as medidas que serão adotadas pelo novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos devem influenciar no câmbio e nas exportações para o país da América do Norte. Quanto à China, o país asiático vem em uma desaceleração do crescimento nos últimos tempos, o que deve continuar em 2025, podendo ser agravada pela subida de tarifas nos Estados Unidos.
“A meta deste ano [de crescimento] colocada pela China é de 5%, acima da média mundial. Mas comparado ao que a China cresceu nos últimos anos, a gente começa a ficar um pouco preocupado. O fato é que o crescimento das exportações agropecuárias brasileiras têm uma relação direta com as compras chinesas”, explicou a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori.
Nessa visão do mercado chinês, a entidade já alerta para que os produtores tenham no radar as oportunidades e desafios para exportar ao país asiático. Isso porque internamente a política adotada pelo líder chinês, Xi Jinping, é de ampliar as produções próprias de soja, milho, arroz e trigo e assim reduzir as importações desses produtos nos próximos dez anos. Porém, há algumas outras janelas que mostram que os chineses devem comprar mais, como é o caso das frutas, da carne bovina e dos produtos lácteos. “A gente não deve pensar em reduzir exportações para a China, mas sim em ampliar exportações para outros produtos”, salientou Mori.
Confira as projeções dos principais indicadores econômicos para 2025:
- PIB do Brasil: crescimento de 2%
- Selic: 13,5% a.a.
- IPCA: 4,59% a.a.
- Dólar: R$ 5,77
- Valor Bruto da Produção (VBP): R$ 1,43 trilhão (+7,4%)
Grãos e pecuária com bons horizontes
A entidade adotou as perspectivas da safra de grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que estima um recorde de 322,53 milhões de toneladas de grãos. Isso representa 8,6% a mais do que em relação ao colhido no ano agrícola 2023/2024. Isso é explicado por uma melhora na produtividade e uma ampliação na área plantada geral.
Quanto à pecuária, a produção leiteira deve crescer 1,5% em 2025. A bovinocultura de corte deve recuar 3,3% devido ao ciclo pecuário. No entanto, com um dólar mais alto, o produtor poderá ganhar nessa valorização e com a diminuição da oferta, o que acarretará na sustentação de preços mais altos. Além disso, há expectativa de aumento nas exportações de carne bovina em 1,8% e redução no consumo interno de 1,5%.
O clima em 2025 também deve ajudar as produções agropecuárias brasileiras, segundo o diretor técnico da CNA. “Há uma possível perspectiva de El Niño que se desenha para o final do ano que vem, mas ainda muito fraca para a gente afirmar que vai ter um problema climático. A tendência é que a gente aproveite muito mais o clima do que foi neste ano”, pontuou Lucchi.
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