Economia
Consórcio de máquinas agrícolas cresce 149% em 5 anos e ultrapassa o de caminhões
Com expansão acelerada e inversão inédita observada no mês de julho, máquinas agrícolas lideram segmento de pesados e redefinem o mercado
Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
24/11/2025 - 15:50

O consórcio de máquinas agrícolas vive um momento histórico no Brasil. Dados recentes da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) mostram que, entre 2020 e 2025, o número de participantes mais que dobrou e impulsionou uma transformação estrutural no mercado de veículos pesados, resultando em uma inversão inédita registrada em julho deste ano: pela primeira vez, as máquinas agrícolas passaram a liderar o segmento, ultrapassando os caminhões.
Segundo a Abac, o total de participantes em consórcios de máquinas agrícolas cresceu 149% desde 2020. As contemplações saltaram 138,6% no mesmo período, alcançando 31,97 mil em agosto deste ano — revelando, segundo especialistas, a confiança dos produtores na modalidade como estratégia de planejamento de médio e longo prazos.
Os números confirmam uma mudança na composição do segmento de veículos pesados. Em julho, as máquinas agrícolas respondiam por 51% dos consorciados, superando caminhões (41%) e outros bens (8%). Foi a primeira vez que o segmento assumiu a liderança, após anos respondendo por cerca de um terço das vendas. Em agosto, eram 458,24 mil participantes ativos em máquinas agrícolas, em um universo de 898,50 mil consorciados de pesados.
Expansão bilionária e perfil do produtor
De janeiro a agosto de 2025, as vendas de cotas de consórcios de máquinas agrícolas somaram R$ 17,1 bilhões, alta de 13,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Somente as contemplações desses oito meses movimentaram R$ 7,99 bilhões.

O Centro-Oeste concentrou 36% das adesões, seguido por Sudeste (25,6%) e Sul (19,9%). O produtor típico foi pessoa física (67%), entre 31 e 45 anos, com atuação, principalmente, em lavouras de soja, milho e arroz.
A maior parte das cotas foi destinada à compra de máquinas novas. As faixas de crédito variaram de R$ 126,26 mil a R$ 1 milhão, com tíquete médio em torno de R$ 565 mil e os prazos alcançando até 135 meses.
Entre os motivos para que a modalidade se tornasse mais competitiva, de acordo com a Abac, estavam a ausência de cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a não aplicação de juros e a oferta de atualizações de crédito baseadas em índices como a Tabela do Fabricante e o IPCA, além de INPC, INCC e 50% da Selic.

Parcerias estratégicas
A expansão do consórcio de máquinas acompanha o movimento de parcerias estratégicas no campo. Entre 2017 e 2025, ganhou força, por exemplo, a união entre a Case IH e o Primo Rossi, formando o Consórcio Nacional Case IH.
A modalidade já representa cerca de 10% das vendas totais da Case IH, especialmente no segmento de tratores. Segundo Leandro Conde, diretor de marketing da marca, o consórcio tem sido adotado por produtores de todos os portes como alternativa aos juros elevados e também como ferramenta de planejamento financeiro.
Conforme Vittorio Rossi, sócio do Primo Rossi, de 2018 a outubro deste ano, a carteira de clientes do Consórcio Case IH cresceu 304%; as vendas, 591%; e as contemplações. 215%. “Já cumprimos 87% da meta de vendas deste ano, que, com certeza, será batida até dezembro”, afirma.
Ele avalia que. além da taxa de juros praticada no Brasil, a carência de crédito para o agronegócio estimula a adesão aos consórcios. Não apenas por pessoas físicas, mas também por grandes companhias. “Quando as taxas de juros caem, há uma tendência de que a procura pelos financiamentos cresça. Já quando os juros sobem, essas empresas começam a dar lances nas cotas de consórcios que elas têm”, explica Vittorio.
Quando perguntado sobre outros fatores que impulsionam a expansão dos consórcios de máquinas agrícolas, Vittorio menciona um estudo da Quórum Brasil, consultoria especializada em pesquisa de mercado, que, recentemente, entrevistou 2 mil pessoas, sendo mil consorciados e outros mil potenciais clientes. O levantamento apontou que os fatores levados em consideração para a adesão a um consórcio são, principalmente, garantia de entrega, com 17,4% das respostas, valor da parcela (14,4%), facilidade de retirar o bem (13%) e marca idônea (12,6%).
Outros itens citados foram, nessa ordem, atenção ao cliente, atendimento dos vendedores, facilidade de contato, suporte pós-venda, taxa de administração e marca socialmente responsável.
Consórcio ganha papel estratégico diante dos juros altos

Márcio Massani, diretor executivo-comercial da Âncora Consórcios, uma das principais administradoras independentes de consórcios do Brasil, concorda que a modalidade se tornou uma resposta natural à combinação de juros elevados e crédito rural restrito.
De acordo com ele, os consórcios já movimentam mais de R$ 50 bilhões anuais voltados ao agronegócio, o equivalente a 20% de todo o volume de crédito dos consórcios no País. No ramo específico de máquinas e equipamentos agrícolas, a fatia é ainda maior: 25% do mercado.
“Renovar tratores, colheitadeiras e pulverizadores é imprescindível para manter a eficiência da safra”, afirma. “Máquinas desatualizadas representam paradas, perdas e custos crescentes”. Nesse contexto, para Massani, o consórcio oferece previsibilidade, permite modernização da frota sem comprometer capital de giro e reduz a dependência das incertezas do Plano Safra.
Para o futuro, Massani destaca que as administradoras precisam manter a confiança dos produtores e inovar em soluções sob medida, reforçando que o consórcio não é apenas uma saída emergencial, mas uma estratégia de investimento e crescimento.
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