Economia
Incêndios: prejuízos à agropecuária passam de R$ 14,7 bilhões
Orplana vê quebra de safra com 414 mil hectares de cana queimada
Rafael Bruno | São Paulo | rafael.bruno@estadao.com e Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com | Atualizada em 27/09/2024 às 17h55
26/09/2024 - 19:12

De junho a agosto de 2024, as perdas com incêndios causaram um prejuízo de R$ 14,7 bilhões em 2,8 milhões de hectares de propriedades rurais no Brasil, segundo estimativa divulgada nesta quinta-feira, 26, pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Conforme o levantamento, os estados com mais perdas – considerando apenas as atividades da bovinocultura de corte e cana-de-açúcar – foram: São Paulo (R$ 2,8 bilhões), Mato Grosso (R$ 2,3 bilhões), Pará (R$ 2 bilhões) e Mato Grosso do Sul (R$ 1,4 bilhão).
Segundo a CNA, os maiores prejuízos foram com pecuária e pastagem (R$ 8,1 bilhões), cercas (R$ 2,8 bilhões), perdas com a produção de cana-de-açúcar (R$ 2,7 bilhões), e outras culturas temporárias e permanentes (R$ 1,068 bilhão).

Os valores estimados para as áreas incendiadas foram calculados utilizando as áreas queimadas de culturas agrícolas apontadas em levantamentos do Mapbiomas e em áreas de pastagem indicadas pelo Laboratório de Sensoriamento remoto e Geoprocessamento (Lapig/IESA/UFG), em sobreposição com as áreas queimadas indicadas pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE).
A CNA também ressalta em nota técnica que “os produtores rurais são, com certeza, os maiores prejudicados com os incêndios florestais, já que na maioria dos casos a destruição dessa vegetação acontece em áreas de produção ou de conservação florestal, atingindo benfeitorias, maquinários, culturas e rebanhos.”
No documento, a Confederação ainda apresenta um panorama da legislação brasileira referente ao uso do fogo na vegetação, destacando as distinções entre queimadas controladas e incêndios criminosos, bem como as responsabilidades e penalidades associadas a cada prática.
Confira aqui a nota técnica completa.
Orplana estima quebra de safra de 15%
Nesta sexta-feira, 27, a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) divulgou um novo balanço sobre os incêndios na cana-de-açúcar nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. De acordo com o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira, os impactos devem gerar uma quebra de safra de 15%.
“Estimamos uma quebra na safra de cana-de-açúcar de cerca de 15% em comparação com a safra passada, o que impactará diretamente na oferta mundial de açúcar, o que, por sua vez, afetará os preços do etanol”, afirmou Nogueira em nota.
Quanto aos prejuízos diretos para produtores de cana, a entidade estima um número parecido ao da CNA, com R$ 2,67 bilhões em perdas até o dia 20 de setembro. O estado de São Paulo é teve a maior área de cana queimada, cerca de 263 mil hectares. Em Minas Gerais foram 61 mil hectares e em Goiás mais 43 mil hectares. Mato Grosso do Sul (28 mil hectares) e Mato Grosso (19 mil hectares) completam a lista dos estados com mais lavouras de cana queimadas. Ao todo são 414 mil hectares de área com cana queimada.
Estado de São Paulo teve alta de 780% em focos de incêndio
Um levantamento da Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo (Canaoeste) com a GMG Ambiental mostrou que o estado paulusta teve 11.628 focos de queimadas em agosto deste ano. O número é 780% maior do que o mesmo período de 2024.
O estudo também contabilizou 658,6 mil hectares de área queimada no estado durante esse mês, sendo que 328,2 mil hectares foram queimados somente no dia 23 de agosto. A área inclui não só as lavouras de cana, mas de outras culturas também.
Segundo as entidades, uma combinação de fatores climáticos tornou o cenário mais propício para as ocorrências, especialmente, no dia 23 de agosto: ventos com rajadas de 38 a 40 quilômetros por hora; temperatura máxima na casa dos 35ºC; e umidade relativa do ar em 10%.
Sobe para 15,4 milhões o número de pessoas diretamente afetadas pelas queimadas
Levantamento divulgado nesta semana pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), aponta que 15,4 milhões de pessoas já foram diretamente afetadas por incêndios florestais desde o início deste ano. Os prejuízos econômicos com as queimadas chegaram a R$ 1,3 bilhão. A informação foi adiantada pela Coluna do Estadão.
“O período entre agosto e setembro deste ano foi atípico e expressou valores fora do padrão até então relatados para estes meses. O cenário reforça a urgência de o Brasil adotar medidas concretas e que possibilitem a prevenção e o enfrentamento de desastres como esses que estamos agora vivenciando e que impacta gravemente a saúde de milhões de pessoas, o meio ambiente e o desenvolvimento do país“, destaca em nota o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
Fundo Climático
Em comunicado à imprensa, a CNM destaca que atuou na coleta de assinaturas suficientes para tramitação no Congresso Nacional da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 31/2024, que institui o Conselho Nacional de Mudança Climática, a Autoridade Climática Nacional e o Fundo Nacional de Mudança Climática.
A proposta prevê a aplicação dos recursos do Fundo Nacional de Mudança Climática fora do Orçamento Geral da União. A PEC também institui o Conselho Nacional de Mudança Climática e a Autoridade Climática Nacional.
Consórcio nacional
A CNM também defende a criação de um Consórcio Nacional para Gestão Climática e Prevenção de Desastres. “Estudos mostram que os Municípios não estão preparados para enfrentar as questões climáticas. Mais de 94% dos Municípios enfrentam dificuldades nas questões climáticas, 43% das prefeituras não têm uma pessoa responsável pelo monitoramento dos eventos climáticos e 47% não têm sistema de alerta”, conclui a CNM
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