Altas temperaturas e incêndios: como o mercado tem reagido? | Agro Estadão
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Economia

Altas temperaturas e incêndios: como o mercado tem reagido?

Com lavouras e pastagens queimadas, risco de morte de animais e degradação do solo, commodities agrícolas oscilam

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Rafael Bruno | São Paulo | rafael.bruno@estadao.com

10/09/2024 - 17:37

Foto: Adobe Stock
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Enquanto a semana segue sob forte onda de calor, aumentam os relatos e a apreensão por parte do setor produtivo. Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), somente nesta segunda-feira, 9, o Brasil registrou 5.132 focos de queimadas. 

O fogo avança sobre a Amazônia, Pantanal e estados como Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo passam por situação crítica. 

Em 24 horas, São Paulo registrou 149 focos ativos de queimadas. Em áreas agrícolas fortemente atingidas, como no caso da região de Ribeirão Preto, onde canaviais foram devastados, não houve registro no início desta semana. Ainda assim, as autoridades seguem alertas em virtude do clima seco que pode desencadear novas ocorrências a qualquer momento.

Após muitos relatos de áreas atingidas, os números continuam sendo contabilizados. Segundo nomes do setor ouvidos pelo Agro Estadão, há certa dificuldade de se chegar a uma estimativa assertiva. “A cada dia novos casos surgem, apaga aqui, pega fogo ali, difícil ter muita precisão”, diz uma fonte, informando que só depois das chuvas, quando os focos cessarem, será capaz de dimensionar os estragos – que podem ser bem piores que o até então projetado.

De acordo com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA), até a última semana, 8.049 propriedades rurais, com aproximadamente 480 mil hectares, foram atingidas pelo fogo em 317 municípios. Os impactos são na produção de gado de corte, leite, cana-de-açúcar, frutas, mel e derivados, celulose e extração de látex. Os prejuízos para o restabelecimento da capacidade produtiva das propriedades chegam a quase R$ 2 bilhões. 

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Conforme o último levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), divulgado na sexta, 6, ao menos 231,38 mil hectares de cana-de-açúcar foram atingidos por incêndios no interior de São Paulo.  Segundo a entidade, 132,04 mil hectares de áreas ainda seriam colhidas.

Culturas vizinhas da cana, como citrus e café também foram atingidas. Os dados sobre os impactados ainda estão sendo levantados. Segundo o Centro De Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), até o momento, os relatos de seus pesquisadores indicam impactos pontuais sobre ambas as culturas.

Instabilidade mexe com mercados

Açúcar e Etanol

Após certa reação no cenário internacional no fim de agosto, depois dos incêndios em canaviais, a tensão parece ter diminuído no mercado de açúcar. Nesta terça-feira, 10, por exemplo, o contrato para março de 2025 fechou em queda na Bolsa de Mercadorias de Nova Iorque, aos 18,78 centavos de dólar por libra-peso, recuo de 1,73% sobre o fechamento de segunda (US$/cent 19,10). 

“A demanda de curto prazo por parte das indústrias compradoras segue moderada, ao passo que a disponibilidade de oferta segue alta – ao menos no curto prazo”, avalia Maurício Murici, da Safras & Mercado.

O especialista explica que o mercado observa que a moagem de cana segue intensa, ainda mais depois dos incêndios entre a terceira e a quarta semana de agosto. “Os próprios incêndios colocam as usinas no padrão de aceleração da colheita de cana para evitar novas perdas. O resultado é a elevação da disponibilidade de oferta de curto prazo, resultando na pressão de baixa dos preços, tanto do etanol quanto do açúcar”, diz Murici.

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No entanto, o  analista da Safras alerta que a segunda metade de setembro deverá ser marcada por preços mais altos, revertendo a tendência baixista, até então. 

Café 

No caso do café, apesar de algumas lavouras atingidas no interior de SP, em sua maioria produções próximas a áreas canavieiras, o principal impacto sobre os preços parte da preocupação com as altas temperaturas.

“Estamos na florada do café, período crítico, e o clima seco e quente é um grande problema. Condição climática que, além de favorecer as queimadas, está impactando grandes regiões como Mogiana e Cerrado”, explica o analista de café da Stonex, Fernando Maximilliano.

Após fechar a segunda-feira com alta de 3,79% em Nova Iorque, na tarde desta terça, o contrato para dezembro de 2024 segue o ritmo altista negociado a US$ 2,74 por libra-peso, 0,9% de alta sobre o fechamento anterior.

Maximilliano sinaliza preocupação para os próximos dias em meio à indefinição climática.  “Já existe algum nível de impacto e o clima continuará impactando enquanto a chuva não chegar. Para aferir com segurança, precisamos esperar passar a florada e avaliar a porcentagem de frutos que não foram abortados nas plantas. As próximas semanas serão críticas para a produção brasileira e para o mercado de café”, ressalta o especialista. 

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Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria, também chama atenção para os volumes embarcados de café do Brasil – que podem pressionar as cotações – assim como o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), que entrará em vigor em 30 de dezembro deste ano. 

“A colheita deste ano não foi boa. Não sabemos o tamanho da quebra, mas aconteceu tanto no conilon como no arábica. O volume exportado é finito e eles estão correndo para não pegar a EUDR regulation, ou seja, o volume exportado agora pode parecer grande mas no médio prazo não vai sobrar café. E a próxima safra já está comprometida devido à seca”, analisa Haroldo. 

Ele ainda ressalta outros pontos sobre o mercado como a produção do Vietnã, maior produtor de café robusta do mundo. “Eles tiveram muita seca durante a florada deste ano e deve afetar a colheita. O quanto afetou ainda não sabemos, mas há impactos. Além disso, o estoque de passagem do Vietnã está baixíssimo. Ou seja, o Brasil é que vai ditar o comportamento do mercado de robusta mundial e afetando, é claro, os preços do arábica”, conclui Bonfá.

Citrus

Referente às áreas de citros afetadas pelos incêndios em meados de agosto, em São Paulo, a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) informou que “até a última semana, não tivemos informações de impactos na citricultura. Apenas problemas pontuais, sem grandes impactos”.

Boi

No caso da pecuária, além de relatos de morte de animais, a preocupação se volta para as pastagens e recuperação do solo. 

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A ocorrência das queimadas, aliada a forte onda de calor Brasil afora, deve atrasar a entrada de animais terminados a pasto no mercado, aumentando a dependência em relação à oferta de confinados daqui até o final do ano, segundo o analista da Safras & Mercado, Fernando Iglesias. 

Este cenário, aliado à demanda doméstica na primeira quinzena deste mês e ao bom ritmo das exportações, deve manter a pressão altista sobre a arroba.

“O que a gente tem observado nos últimos dias é uma escala de abate muito apertada, escalas curtas e em função disso a gente vê os preços subindo Brasil afora”, diz Iglesias, destacando o aumento de custos para a indústria frigorífica. “o principal custo da atividade da bovinocultura de corte é a arroba do boi, então, se a arroba está em alta vai pressionar os custos da indústria frigorífica”, conclui Iglesias.

Vai chover?

Nos próximos dias, algumas áreas afetadas pelas altas temperaturas deverão sentir um alívio temporário.  A partir desta quinta-feira, 12, uma frente fria deve avançar pelo Sul do país e provocar chuvas de fraca a moderada intensidade no subsistema Sul. 

De acordo com a especialista em meteorologia da Tempo Ok, Maria Clara Sassaki, a frente fria pode avançar para o Sudeste e organizar algumas instabilidades no Centro-Oeste entre sábado, 14, e domingo, 15. “Mas não há previsão de volumes elevados. A frente fria se afasta na segunda-feira (16)”, informa. 

“Chuvas mais efetivas, mesmo, devemos ter só na segunda metade da primavera. Por enquanto, as pancadas que ocorrerem serão pouco volumosas e mal distribuídas”, diz Sassaki.

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