Sustentabilidade
Mudanças climáticas e agronegócio: o Brasil precisa construir agenda para mitigar perdas
Agropecuária brasileira teve prejuízos de R$ 287 bilhões em 10 anos por causa de eventos climáticos adversos; tema foi discutido no Estadão Summit Agro
Igor Savenhago | São Paulo
13/11/2024 - 13:26
O Brasil precisa construir uma agenda de ações para reduzir os efeitos das mudanças climáticas no agronegócio. Esta é a visão de especialistas que participaram do painel “Mudanças climáticas e o agronegócio”, durante o Estadão Summit Agro, nesta quarta-feira, 13, em São Paulo.
O superintendente executivo de Negócios e Soluções Rurais da Brasilseg – empresa da BB Seguros, Paulo Hora, destacou que o Brasil teve, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), perdas de R$ 287 bilhões relacionadas a eventos climáticos adversos entre 2013 e 2022 na agricultura e pecuária. Só em 2022, ano da seca intensa, foram R$ 70 bilhões de prejuízos, segundo o levantamento. As seguradoras, nesse ano, indenizaram R$ 8,8 bilhões, segundo dados SUSEP. Nesse mesmo período de 10 anos, as ferramentas de transferência de risco que possuímos no Brasil (Seguro rural e Proagro) indenizaram mais de R$ 50 bilhões: aproximadamente 26 bilhões gastos com Seguro e 29 bilhões com o Proagro.
Esse relatório não inclui os prejuízos provocados pelas secas severas dos últimos dois anos, o que torna a situação ainda mais preocupante, na opinião de André Lima, secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Segundo ele, só em 2024, as queimadas afetaram 25 milhões de hectares – sendo 4 milhões na Amazônia – e comprometeram 20% do bioma do Pantanal.
André Lima afirmou que a colaboração do setor agropecuário é “determinante” para combater o desmatamento ilegal no país, por mais que o setor se isole da responsabilidade deste tipo de desflorestamento. “Não porque a maior parte do desmatamento ilegal seja proveniente do agro, mas porque o governo federal precisa principalmente de apoio político neste tema”, pontuou.
Ele disse ainda que as pressões sobre o Brasil aumentam por causa da proximidade da COP30, que será em 2025 em Belém (PA). E que o país precisa estar preparado para responder a elas. “Temos um contexto climático muito desafiador, tanto para o poder público quanto para o segmento privado. É inevitável que a conservação dos biomas esteja associada ao agro”, afirmou Lima.
Risco hídrico
O pesquisador na área de Mudanças Climáticas Globais na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Giampaolo Queiroz Pellegrino, alertou que a intensificação das mudanças climáticas aumenta os riscos para a agricultura, principalmente o de falta de água. “As perdas agrícolas estão vinculadas ao déficit hídrico. Os desafios são entender onde as perdas acontecem e tentar mitigá-las. Com o aumento das temperaturas, há tendência de haver redução ainda maior da disponibilidade de água. Daí a importância de práticas de agricultura regenerativa”.
O cenário também preocupa a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). De acordo com Eduardo Bastos, presidente do Comitê de Sustentabilidade da instituição, um dos diferenciais do Brasil no competitivo mercado mundial é a capacidade de tirar mais de uma safra em uma mesma área, o que pode ficar comprometido pelas condições extremas do clima. “Por isso, é fundamental que o país aprenda a ter uma agenda de adaptação e de mitigação”, avaliou durante o painel, que foi mediado pela editora-chefe do Agro Estadão, Letícia Luvison.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
CONTEÚDO PATROCINADO
BNDES financia expansão do biometano
2
Adiamento da lei antidesmatamento deixa “gosto amargo” com mudanças aprovadas, avalia CNA
3
“Temos o CAR, mas ele não funciona”, diz assessor especial do Mapa
4
Controle de pragas com baculovírus tem eficiência superior a 80%, afirma Promip
5
Abelhas paranaenses reforçam apiários do RS afetados pelas enchentes
6
Pecuária como aliada do clima
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Sustentabilidade
Mapeamento da pegada de carbono do algodão deve aumentar competitividade da produção brasileira
Projeto da Embrapa Meio Ambiente tem apoio técnico da Abrapa, Abiove e Bayer para captar dados das principais regiões produtoras da pluma
Sustentabilidade
Governo federal quer restaurar florestas com ajuda da iniciativa privada
Manejo florestal em Unidades de Conservação ainda é pouco utilizado e esbarra em desafios para acelerar processos de concessão
Sustentabilidade
Restrições com ipê e cumaru devem reduzir vendas internacionais de madeira em 2025
Mercado florestal ainda calcula impacto, mas já projeta algumas áreas de manejo inviabilizadas; Setor também critica demora em regulamentação
Sustentabilidade
Yara inicia produção de amônia e adubo nitrogenado a partir de biometano
A amônia renovável será usada na planta de Cubatão para produção de adubo nitrogenado e comercializada para outras indústrias
Mapa reconhece Selo Ambiental do Instituto Rio Grandense do Arroz
Com o Selo Ambiental, produtores que receberam o certificado terão descontos em linhas de crédito do Plano Safra
Manejo Florestal Sustentável: entenda o que é e como produtor pode gerar receita com reserva legal
Atividade tem avançado, mas ainda causa receio em produtores rurais; confira na série de reportagens do Agro Estadão sobre o setor florestal
Moratória da Soja deve mudar após pressões políticas
Empresas signatárias da moratória da soja devem votar, na próxima semana, nova metodologia de monitoramento por área individual ou talhão
Fábrica de celulose da Suzano é inaugurada em Mato Grosso do Sul
Unidade é a terceira da empresa no estado e custou R$ 22,2 bilhões