Sustentabilidade
Com fertilizantes lower carbon, Cooxupé vai produzir café com redução de 40% na pegada de carbono
Parceria com a Yara deve render 2,5 mil sacas de café que já foram comercializadas para cliente japonês; custo com novo produto representa desafio para expansão do uso
4 minutos de leitura 12/11/2024 - 13:00
Sabrina Nascimento | Guaxupé-MG
Grãos de café com até 40% de redução da pegada de carbono será uma realidade no Brasil. O feito se concretizará através de um grupo de oito produtores da Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo, selecionados para receber o primeiro lote de fertilizantes lower carbon (baixo carbono) da Yara, empresa norueguesa, líder mundial em nutrição de plantas.
O agrônomo e cafeicultor Mário César Ferrari, de Caconde, interior de São Paulo, é um dos produtores selecionados para a iniciativa. Com 44 anos de experiência na cafeicultura, ele já tem uma produção sustentável e a sua propriedade possui o selo Rainforest Alliance de boas práticas.
Além disso, Ferrari integra o protocolo Gerações, programa da Cooxupé que é alinhado a certificações internacionais de agricultura sustentável. Atualmente, o cultivo de café na fazenda soma 180 dos 300 hectares. Para ele, o uso do novo fertilizante representa um complemento importante às práticas sustentáveis já implementadas.
“Vejo isso como um avanço. Sempre digo que não somos os verdadeiros donos do que temos, somos apenas herdeiros dos nossos sucessores”, afirmou o produtor durante o evento de celebração da parceria, realizado na sexta-feira, 08. Ele ressaltou ainda o impacto ambiental significativo dessa iniciativa, especialmente na redução das emissões de carbono.
Como funciona a parceria para a redução da pegada de carbono
A parceria entre a Yara e a Cooxupé soma esforços para a descarbonização da cafeicultura do Brasil. Atualmente, cerca de 67% da pegada de carbono, ou seja, emissão de gases de efeito estufa gerados pelo café vem da produção e uso do fertilizante nitrogenado.
No entanto, durante a produção do lower carbon, a pegada de carbono tem um potencial de redução de até 90% quando comparado aos produtos convencionais, fabricados a partir de gás natural de origem fóssil.
“Em vez de utilizar um gás de origem fóssil, que emite muito mais carbono, ele [fertilizantes lower carbon] recorre a uma fonte de energia renovável. […] A fonte desse produto que vem da Europa é através da hidrólise, que é a quebra da água, que gera essa energia, assim como pode ser utilizada a energia eólica”, explicou Guilherme Schmitz, vice-presidente de Agronomia e Marketing da Yara Brasil.
Na perspectiva do presidente da Cooxupé, Carlos Augusto Rodrigues de Melo, a iniciativa é um passo inovador para revolucionar a cafeicultura brasileira. Além disso, mostra o compromisso do setor com a sociedade e o meio ambiente. “Estamos sempre atualizados com a realidade e levamos para dentro de nossas fazendas soluções, tecnologias e insumos que façam a diferença em nossa produção”, ressaltou o presidente da Cooxupé, que reúne mais de 20 mil produtores cooperados.
Os fertilizantes entregues aos cooperados da Cooxupé vieram da planta da Yara em Porsgrunn, na Noruega, e chegaram ao Brasil em outubro, via porto de Santos. Depois, foram transportados até Alfenas, Minas Gerais, em caminhões movidos a gás natural veicular (GNV), considerados mais sustentáveis pela baixa emissão de monóxido de carbono. Na sequência, foram embalados em big bags produzidos a partir de plástico reciclável.
Descarbonização X custo elevado
Ao passo que Yara e Cooxupé avançam em ações de descarbonização da cafeicultura, um desafio surge: o custo adicional da nova tecnologia. O valor atual é cerca de US$ 250 a mais por tonelada em comparação com fertilizantes convencionais, devido à fonte de energia sustentável, porém, mais cara utilizada na produção.
Entretanto, espera-se que um mercado promissor — impulsionado por clientes de outros países — compense o investimento, por meio de um sistema de prêmios, que remunere o diferencial de sustentabilidade. “O grande ponto dessa parceria é criar um modelo de negócio que a gente consiga gerar valor para além disso porque senão não vale a pena”, destacou Schmitz.
Conforme o executivo, nesta fase de introdução dos fertilizantes lower carbon, o custo será compartilhado entre a multinacional norueguesa, a Cooxupé e os produtores selecionados. A ideia é que, ao longo do tempo, com o aumento da escala e adoção de fontes de energia mais acessíveis, o custo diminua e o mercado para esse tipo de café cresça.
O presidente da Cooxupé admite que a nova empreitada é um risco, assim como a cadeia de produção. No entanto, o grande desafio é fazer com que esses prêmios compensem os custos elevados da produção sustentável. “Eu aqui não vou me iludir que isso será um sucesso. A cadeia toda tem que participar, desde lá fora do consumidor. O consumidor que quer um café sustentável a ponto disso, ele tem que pagar mais caro”, enfatizou Melo.
A primeira produção dos cafés baixo carbono será colhida no próximo ano. A expectativa está em torno de 2,5 mil sacas de café, que já foram comercializadas para um cliente japonês, parceiro da Cooxupé e que visitará a cooperativa nos próximos dias. O valor do prêmio pago pelos grãos não foi informado.
*jornalista viajou a convite da Yara.
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