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Economia

Violência no campo: roubos e furtos de máquinas agrícolas crescem 37,5% no 1º semestre

Crimes atingem tratores, caminhonetes e peças de irrigação, com São Paulo liderando os casos; produtores cobram patrulhamento rural

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Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@estadao.com

18/08/2025 - 05:00

Tratores furtados em Ourinhos (SP) foram recuperados pela Polícia Ambiental em Lucianópolis (SP). Foto: Polícia Ambiental/Divulgação
Tratores furtados em Ourinhos (SP) foram recuperados pela Polícia Ambiental em Lucianópolis (SP). Foto: Polícia Ambiental/Divulgação

Os roubos e furtos de maquinário agrícola cresceram 37,5% no primeiro semestre de 2025, em relação ao mesmo período do ano passado. São Paulo lidera os casos, com 70% das ocorrências, seguido pelo Paraná, com 10%. Na sequência, aparecem Maranhão, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Minas Gerais. Os dados são do Grupo Tracker, empresa de rastreamento presente em 17 estados.

Além de tratores, pulverizadores e plantadeiras, os furtos atingem as caminhonetes, que registraram crescimento de 22,8% nas ocorrências, com destaque para o modelo Toyota Hilux a diesel. Os veículos são muito valorizados no comércio de peças ilegais, clonagem e, até mesmo, utilizados como moeda de troca no Paraguai. 

De acordo com o gerente de Comando e Monitoramento da Tracker, Vitor Corrêa, o furto é o crime mais comum no campo, já que tem pena mais branda e é mais difícil de provar. “Os bandidos conhecem a rotina das propriedades. Em muitos casos, esperam o fim de semana, quando os trabalhadores deixam o local, para agir. O crime só é percebido na segunda-feira”, detalha.

Tratores furtados em março deste ano na região de Taquarituba.
Foto: Grupo Lava Gado/Divulgação

As máquinas agrícolas, que podem facilmente ultrapassar seis dígitos em valor, são descaracterizadas após o furto, com remoção de placas, adesivos e qualquer identificação. Algumas vezes, são revendidas em outros estados e raramente trafegam em rodovias. 

“Muitas vezes, após os crimes, elas são escondidas em áreas de preservação ambiental, para dificultar a visualização”, explica o cabo Morales, da Polícia Ambiental de Ourinhos, no interior de São Paulo. Ele e a equipe do batalhão conseguiram recuperar — com o apoio do grupo de WhatsApp “Lava Gado”, criado há dez anos por produtores rurais do estado — dois tratores na região, em outubro do ano passado.

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Com as dicas fornecidas pelo grupo, o policial conseguiu visualizar as máquinas abandonadas em uma área de mata utilizando um drone. Após a perícia, o proprietário compareceu à delegacia, reconheceu os tratores e recuperou mediante apresentação das notas fiscais.  

Um levantamento extra-oficial feito pelo pecuarista Marcos Capelari, administrador do “Lava Gado”, aponta 74 ocorrências de furtos em áreas rurais entre 1º de janeiro e 12 de agosto de 2025. A média é de uma ocorrência a cada três dias. Os casos, que circularam no grupo, envolvem desde o furto de veículos e tratores até a subtração de rebanhos inteiros de gado.

O gestor de uma empresa do setor de base florestal, que não quis se identificar, conta que, só neste ano, teve três tratores furtados, sendo dois na mesma noite. “A gente normalmente tenta deixar em uma área de sinal [do equipamento de rastreamento], que também seja um pouco mais fácil de alguém passar, ver, mas, mesmo assim, não foi suficiente para impedir os crimes”. Cada máquina é avaliada em cerca de R$ 600 mil. Todas contavam com sistema de rastreamento e foram recuperadas.

Segundo o gestor, o sistema foi instalado após vários casos de furtos no ano passado. A empresa também pretende contratar mais vigilantes noturnos.

Prejuízos milionários e segurança improvisada

Mas nem todos os casos têm o mesmo desfecho. Em Santa Cruz do Rio Pardo (SP), o produtor de soja Rogério Ezequiel Ferrari contabiliza 14 furtos de fios de cobre desde 2014, quando instalou pivôs de irrigação em sua propriedade. Em um deles, os danos chegaram a R$ 100 mil. 

Só neste ano, o produtor foi vítima duas vezes. Em maio, o prejuízo foi de R$ 60 mil. Em junho, ele e os filhos conseguiram chegar a tempo de afugentar os criminosos. “Quando você chega lá, ele corre. Não leva nada, mas largou tudo cortado”. Os bandidos esperam o anoitecer, vão até a casa de máquinas e cortam os fios. “Geralmente, eles aparecem entre 19 horas e meia-noite”, conta.

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Com a repetição de casos, Ferrari criou o próprio método de segurança. Toda vez que a energia elétrica da casa de máquinas é desligada, ele recebe um aviso em casa. “É um sossego que não é sossego, porque a queda de energia pode ser ocasionada também por outros fatores. Na semana passada, a gente saiu uma hora da manhã e fomos lá pra ver, mas era oscilação da própria rede de energia”.

O produtor Rogério Ezequiel Ferrari teve fios de cobre levados da propriedade duas vezes neste ano. | Foto: Rogério Ferrari/Arquivo pessoal

Patrulha rural

Ele conta que, somente entre 2022 e 2024, não houve nenhum caso, por causa da criação de uma patrulha rural no município, desfeita no início deste ano. Segundo Ferrari, o caso dele não é isolado. “Muitos produtores da região têm relatado furtos de peças de máquinas, como pneus de pivôs e gado”, afirma. “A sensação que a gente tem é a de que estamos abandonados. Que o campo está abandonado”, lamenta.

Os números reais ainda são desconhecidos. A Secretaria de Segurança de São Paulo informou à reportagem do Agro Estadão não dispor de dados sobre ocorrências envolvendo veículos e máquinas agrícolas. A reportagem reiterou o pedido por meio da Lei de Acesso à Informação e aguarda resposta.

Em entrevista ao Agro Estadão, o presidente da Aprosoja São Paulo, Andrey Rodrigues, disse que o número de casos, especialmente de furtos, têm preocupado os produtores do estado. Segundo o gestor, há relatos de todos os tipos, de tratores a defensivos agrícolas.

Ele conta que entregou, pessoalmente, ao secretário de Agricultura do estado, Guilherme Piai, um requerimento solicitando o reforço do patrulhamento rural. “É uma responsabilidade compartilhada entre estado e município. E aí, infelizmente, por alegar falta de recursos, alguns municípios tiraram. Então, a gente está numa luta. Se é o estado ou se é a prefeitura, não sei. Mas nós, produtores, não podemos ficar sem a patrulha rural”, defende.

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Procurada, a Secretaria de Agricultura de São Paulo informou que não recebeu o documento. Ainda afirmou por meio de nota que o governo intensificou a presença das forças de segurança em regiões estratégicas de produção agrícola no estado, com foco especial em áreas de cultivo de culturas de alto valor comercial. “Um exemplo é a área rural do município de Franca, com significativa produção cafeeira”, diz o texto enviado pela assessoria da secretaria.

A SAA ressaltou ainda que, em abril, o governo anunciou a expansão do Grupo de Investigação em Área Rural (Giar) para todo o estado, com equipes especializadas no combate a crimes no campo. “A medida integra o Programa Muralha Paulista ao endereçamento digital do Rotas Rurais e ao programa Agro SP+Seguro, com apoio da Polícia Civil, tecnologia e georreferenciamento, reduzindo o tempo de resposta policial. Também foi lançada cartilha com dicas de segurança”.

Como proteger as propriedades rurais

Em relação à prevenção, o presidente da Aprosoja conta que tem recomendado aos produtores a instalação de câmeras de segurança, além de evitar exposições desnecessárias. “Evite mostrar o que já comprou, o que está guardado na propriedade e levar pessoas desconhecidas para dentro da fazenda. Antes das quadrilhas roubarem, elas já sabem tudo o que tem lá dentro”, reforça.

Já Vitor Corrêa, gerente de Comando e Monitoramento da Tracker, sugere combinar medidas físicas e tecnológicas de prevenção:

  • Dispositivos de segurança: travas, cadeados e bloqueadores de combustível dificultam a ação criminosa;
  • Portaria 24h: controlar a entrada e saída de pessoas evita movimentações suspeitas;
  • Retirada da bateria: inibe o uso imediato da máquina pelos criminosos;
  • Rastreamento: se possível, usar rastreadores e sistemas de monitoramento.

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