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Economia

Newcastle: entenda como o RS se livrou do vírus em uma semana

Metade das 14 mil aves da granja em Anta Gorda morreu em três dias; foco de Newcastle foi considerado finalizado após uma semana

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Fernanda Farias | Porto Alegre | fernanda.farias@estadao.com

30/07/2024 - 14:38

Granja onde foco de Newcastle foi identificado passou por limpeza e desinfecção. Foto: Rodrigo Etges/Seapi
Granja onde foco de Newcastle foi identificado passou por limpeza e desinfecção. Foto: Rodrigo Etges/Seapi

Mais de 80 servidores da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) formaram a equipe responsável por livrar o Rio Grande do Sul da emergência zoossanitária em função da doença de Newcastle. O trabalho começou em 18 de julho, um dia após a confirmação do foco no município de Anta Gorda.

O diretor-adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Seapi, Francisco Nunes Lopes, explica que o protocolo sanitário obriga produtores e empresas a notificarem as autoridades sempre que uma mortandade de 10% do plantel acontecer no período de 72 horas.

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“Essas coletas de suspeitas são rotina no trabalho. Ou por sinal nervoso ou gatilho de mortalidade. E quando chegou na secretaria, 50% dos animais já haviam morrido”, conta Lopes ao Agro Estadão. Ele completa que ao ser notificado, o Estado tem 12 horas para fazer o primeiro atendimento no local.

Nesse caso, a granja tinha 14 mil aves, e a morte de metade delas em três dias era sinal de que havia algo errado – mas não necessariamente a doença de Newcastle. É que as chuvas e as baixas temperaturas podem provocar a morte de aves, e o clima no estado estava com essas características.

“Elas tinham edema de cabeça e diarreia, principalmente – sem sinal nervoso. O colega teve uma habilidade técnica bem grande, porque com o acumulado das chuvas, a cama das aves estava úmida. E sempre ocorre alguma mortalidade um pouco adicional com o frio”, relata.

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Como acontecem as análises nas aves

Para saber a causa da morte das aves, foi realizada uma coleta de amostras com Swabs, as mesmas hastes usadas para os testes de RCovid-19 durante a pandemia. De acordo com o diretor-adjunto da área de sanidade animal da Seapi, 30 aves tiveram amostras de traqueia e cloaca coletadas e cinco passaram por necropsia para a análise de órgãos. 

Os materiais foram enviados ao Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA) de Campinas (SP). De acordo com Francisco Lopes, o vírus foi identificado em parte das amostras. “Não significa que o vírus estava presente em todas as aves”.

Galpão onde havia 14 mil aves em Anta Gorda. Foto: Rodrigo Etges
Telamento da granja foi um dos itens fiscalizados. Foto: Rodrigo Etges

Ele afirma que não é possível saber como o vírus da doença de Newcastle surgiu na granja. Mas como é um vírus que ocorre em animais silvestres, pode ter acontecido algum contato direto das aves com pombos infectados ou com fezes.

De acordo com o profissional, a propriedade estava em dia com documentações e processos. “A biossegurança adequada, nós conferimos a questão do telamento, do telhado, tudo adequado. Mas sempre há algum risco”, diz. 

Operação para conter o foco

Com a suspeita, antes mesmo da coleta das amostras, a granja em Anta Gorda foi bloqueada. A medida é importante para que não aconteçam movimentações de animais até a chegada do resultado das análises. 

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E assim que o foco foi confirmado, uma operação de guerra começou a ser montada no dia 18 de julho. Cinco barreiras sanitárias foram montadas no raio de até 3 km do foco e outras três no raio de 10 km. Ao mesmo tempo, começaram as visitas em todas as propriedades deste perímetro. 

“As barreiras eram 24 horas por dia e envolveram cerca de 60 pessoas. Mas a campo, estávamos com sete a oito equipes de duplas fazendo mais de 100 vigilâncias por dia”, conta Lopes. As barreiras serviram para evitar a movimentação de saída da zona de foco de cargas de risco. “Aves, ração, laticínios, camas de aviários. Todas essas cargas alvo poderiam carregar o vírus de um lugar para o outro”, justifica. 

Na última sexta-feira, 26, o trabalho de visita às propriedades foi encerrado – uma semana após a confirmação do foco.  E com isso, o Ministério da Agricultura e Pecuária comunicou a OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) para que as restrições às exportações de carne de aves e derivados possam ser derrubadas. 

As autoridades de saúde animal do estado reforçam que não existe risco no consumo de carne e ovos. A doença de Newcastle preocupa pela alta mortalidade de aves, por isso, torna-se uma doença comercial, que afeta a economia. 

Próximos passos 

Mesmo com o foco de Newcastle considerado finalizado no Rio Grande do Sul, as vistorias em granjas comerciais continuam. O diretor-adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Seapi, Francisco Nunes Lopes, diz que as granjas que ficam no raio de 3 km serão visitadas a cada três dias e as que estão no raio de 10 km, a cada sete dias. 

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“Vamos manter isso até a saída da maior parte das aves dessas granjas. E as barreiras, vamos reduzindo”, conta. No fim de semana, a equipe já trabalhava com apenas três das oito barreiras instaladas inicialmente. 

O local do foco passou por limpeza e desinfecção com produtos específicos e em 42 dias após a confirmação do fim da doença, poderá receber novos animais. Inicialmente, serão  permitidos 20% da capacidade do aviário. Os animais passarão por exames em 15 e em 30 dias, mesmo sem sinais clínicos de alguma doença. Se os resultados derem negativo para Newcastle, as aves poderão sair do galpão após 42 dias. 

Tecnologia desenvolvida por universidade gaúcha contribuiu para rapidez

O diretor-adjunto conta que o uso de uma plataforma de defesa sanitária animal inédita contribuiu para a agilidade do trabalho, pois tornou mais rápida a elaboração da estratégia. Desenvolvida pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com recursos do Fundesa (Fundo de Defesa Sanitária Animal), a ferramenta foi construída a partir de outros programas gratuitos de georreferenciamento, por exemplo. 

“Quando tivemos o caso de influenza aviária em aves silvestres no Taim [Reserva Ecológica do Taim, no sul do RS], em maio de 2023, nós trabalhamos os dados usando quatro ou cinco ferramentas gratuitas. E trabalhávamos a madrugada inteira pra fazer raios e polígonos de ação”, lembra. 

Segundo Lopes, a plataforma de defesa sanitária animal é exclusiva do Rio Grande do Sul e permitiu à equipe definir os raios de ação para controle do foco de Newcastle com mais rapidez. “No dia 18 definimos a estratégia e no dia 19, já começamos o trabalho. A gente determinou os raios de ação e já verificou a quantidade de propriedades rurais que estavam envolvidas, quantas rodovias e necessidades de barreiras de higienização e fiscalização”, diz. 

Segundo ele, a plataforma contribui para que fosse possível determinar, em um curto espaço de tempo, que o vírus não circulou além da granja. E, com isso, evitou que a emergência zoossanitária permanecesse por mais do que uma semana. 

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