Economia
Clima segue impactando preços das commodities
Efeitos das queimadas e temperaturas elevadas ainda refletem sobre os mercados físico e futuro

Rafael Bruno | São Paulo | rafael.bruno@estadao.com
23/09/2024 - 15:12

O clima seco e quente segue mexendo com os preços no mercado agrícola, exercendo, majoritariamente, uma pressão altista sobre as cotações. Em análise semanal, a consultoria Markestrat Group aponta, além do clima, demais destaques e pontos de atenção para importantes culturas agropecuárias.
Cana-de-açúcar
As queimadas e secas na principal região produtora de cana-de-açúcar continuam a impactar o mercado, como previsto. Nas últimas semanas, houve uma redução na produção de açúcar e aumento da produção de etanol, o que pressionou os preços, explicam consultores da Markestrat.
Segundo levantamento da consultoria, os contratos futuros de açúcar em Nova Iorque, com vencimento em outubro, subiram 13,25%, com expectativa de novas altas. Na B3, os preços do etanol valorizaram 3,85% na última semana, pressionados pela valorização do petróleo e menor produtividade dos canaviais
Café
Após semanas de valorização, os preços das sacas de café arábica e robusta apresentaram quedas ao longo da última semana.
O arábica encerrou a sexta-feira, 20, com uma desvalorização de 2,15%, frente à semana anterior, sendo negociado a R$ 1.460,14 por saca. Já o café robusta, que havia atingido seu maior preço no início da semana, fechou com uma variação negativa de 4%, a R$ 1.468,87. Apesar do recuo, a variedade segue com preços históricos, em patamares que não eram observados desde 2022, período em que fatores climáticos também influenciaram as cotações.
Para os próximos meses, a expectativa é de que os preços mantenham uma tendência de firmeza, com possibilidade de alta, devido a fatores climáticos adversos e problemas de produtividade em grandes países produtores, como é o caso do Brasil e Vietnã, resultando em uma oferta limitada em um cenário de demanda global crescente pela bebida, indicam os analistas.
Laranja
As secas impactaram significativamente os preços do suco de laranja tanto no mercado interno quanto no externo. Na última semana (16 a 20 de setembro), os contratos futuros para novembro, em Nova Iorque, registraram alta de 1,2%. De acordo com Markestrat, a expectativa é que novas valorizações ocorram nas próximas semanas.
“Esse cenário é resultado da menor produtividade das lavouras pela quarta safra consecutiva, causada pelas altas temperaturas e falta de chuvas, o que reduziu o tamanho dos frutos. Problemas de produção no Brasil, tem reflexo no mercado global do produto, já que o país é responsável por 72% da produção global de suco de laranja”, explicam os analistas.
Soja
Na última semana, os preços da soja no mercado físico permaneceram estáveis, enquanto no mercado futuro os contratos de novembro na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) caíram 0,75%, fechando a US$ 10,13 por bushel. Conforme a Markestrat, a queda foi influenciada pelo avanço da colheita nos Estados Unidos. “A longo prazo, espera-se que os preços continuem em queda devido ao aumento da oferta de grãos dos EUA e às projeções de crescimento da produção brasileira na próxima safra”, analisa a consultoria.
Os analistas da Markestrat também destacam as projeções divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que indicam um aumento na produção de grãos para a safra 2024/25, impulsionado principalmente pela soja.
“Tanto consultorias públicas quanto privadas concordam com o cenário de aumento de produtividade, devido à expansão da área plantada, ocupando pastagens degradadas e pousios (prática que consiste em “descansar” o solo das atividades agrícolas, como forma de permitir a recuperação da terra e promover vitalidade), além de melhores condições climáticas associadas ao La Niña”, analisam os especialistas.
O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA) também projeta uma redução de 2,17% nos custos de produção em Mato Grosso, tendência que pode se refletir em outros estados. Apesar da queda nos preços da commodity, a liquidez e os preços pagos ao produtor incentivam o cultivo.
Pecuária
A arroba do boi gordo seguiu em alta na terceira semana de setembro. No mercado físico, as cotações encerraram a sexta-feira em R$ 261,05, registrando uma valorização de 3,4%, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), compilados pela consultoria Markestrat.
No mercado futuro (B3), os contratos com vencimento em setembro também acompanharam essa tendência, com alta de 2,6%, fechando a R$ 263,35 por arroba.
De acordo com a consultoria, os movimentos de valorização se estendem aos contratos com vencimento nos próximos meses, sinalizando que os preços devem se manter firmes e aumentando até o final do ano. “Esse cenário é sustentado pela demanda aquecida, tanto no mercado interno quanto externo, e pela oferta limitada de gado, especialmente no período de transição entre a seca e as águas”, explica.
As altas da arroba do boi gordo pressionam a procura e os preços por boi magro no mercado de reposição, que segue atento à previsão de chuvas para outubro, o que poderá impactar os preços.
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