Economia
Carne mais cara nos EUA pode ter efeitos indiretos no Brasil
Especialista aponta reflexos na taxa de câmbio, nos juros, nas demandas e ofertas internas, impactando os investimentos no campo
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
23/08/2025 - 05:00

A semana foi marcada pelas notícias sobre a escalada nos preços da carne bovina no varejo norte-americano, que atingiu recordes, afetando os consumidores do país. Entretanto, no médio e longo prazos, os impactos indiretos dessa alta podem chegar também ao Brasil, influenciando dólar, juros e oferta interna, exigindo readequação do agronegócio.
O sócio da Markestrat Group, José Carlos de Lima, lembra que o valor do dólar é baseado na confiança do país emissor, ou seja, ligado à segurança econômica dos EUA, assim como o Real no Brasil. Assim, a relação cambial entre ambas moedas depende das condições econômicas e políticas de cada país.
“Se a inflação nos EUA corroer o poder de compra do norte-americano, o dólar pode se desvalorizar. Por outro lado, se o Real cair mais rápido que o dólar, o câmbio sobe, impactando custos de produção e exportações”, explica Lima. Ele ainda ressalta que fatores políticos, como atritos entre os governos do Brasil e dos EUA, podem intensificar essas variações cambiais.
Além disso, a alta nos preços da carne nos EUA também pode pressionar o Federal Reserve (FED, Banco Central dos EUA) a manter os juros elevados por mais tempo. Atualmente, a taxa no país está na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano, visando conter a inflação.
Segundo Lima, esse cenário pode repercutir no Brasil. “Se houver percepção de risco ou insegurança institucional, o Banco Central brasileiro pode precisar elevar a Selic para conter a saída de capital estrangeiro, mais do que para controlar a inflação doméstica”, afirma.
Oferta interna
O especialista explica ainda que a alta dos preços nos EUA pode gerar efeitos diretos na oferta interna brasileira. Com possíveis exportações menores devido às tarifas ou à demanda americana restrita, parte da carne ficaria no mercado doméstico, provocando sobreoferta e queda de preços ao consumidor no curto prazo.
No entanto, se não houver redirecionamento desse volume, com ampliação ou abertura de novos mercados, o cenário pode ser inverso. “Na ausência de abertura de outro mercado comprador ou revisão nas negociações tarifárias, os produtores poderiam diminuir os investimentos na produção, o que levaria a redução na oferta futura, com consequente aumento nos preços ao consumidor”, salienta.
Apesar do café brasileiro também sofrer com as tarifas de 50% dos EUA, e o consumidor norte-americano relatar alta de preço, o especialista esclarece que o impacto reverso é limitado. Isso ocorre, uma vez que o produto pode ser estocado por um longo período, evitando o risco de decomposição, como pode ocorrer à carne caso não seja refrigerada.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
China acelera compras de carne bovina à espera de decisão sobre salvaguardas
2
Brasil deve registrar recorde histórico na exportação de gado vivo em 2025
3
Adoçado com engano: apicultores denunciam uso de ‘falso mel’ na indústria alimentícia
4
Oferta de etanol cresce mais rápido que consumo e acende alerta no setor
5
Soja brasileira será brutalmente atingida pelo acordo entre EUA e China?
6
Frigorífico Zimmer pede recuperação judicial com dívidas de R$ 75 milhões
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Economia
Alta da carne bovina impulsionou avanço de 8,2% no consumo de peixes no País
Com inflação pressionando proteínas tradicionais, pescados ganharam espaço no carrinho de compras de janeiro a setembro; tilápia foi destaque
Economia
Suspensão da sobretaxa pelos EUA traz previsibilidade ao setor, avalia Faesp
Para o presidente da entidade, Tirso Meirelles, medida representa um reconhecido da qualidade dos produtos brasileiros
Economia
Decisão dos EUA frustra produtores de mel, pescado e café solúvel; veja a reação do setor
Setores que ficaram de fora da isenção de tarifas dos EUA relatam dificuldades de crédito, perda de mercado e risco da redução de produção
Economia
Trump retira tarifa de 40% sobre café, carne e outros produtos brasileiros
Café solúvel, pescado e mel seguem taxados; confira a lista completa dos produtos brasileiros beneficiados com o fim do tarifaço
Economia
BNDES aprovou R$ 2,45 bi a produtores afetados pelo clima
Linha de liquidação de dívidas rurais soma 8,3 mil operações em 16 estados; 61% dos recursos foram destinados a pequenos e médios produtores
Economia
Como saber se o vinho é seguro para consumo? Veja o que olhar no rótulo
Materiais gráficos reforçam a importância da leitura dos rótulos e contrarrótulos de produtos brasileiros e importados
Economia
Arábia Saudita quer aumentar em 10 vezes sua produção de café
País quer reduzir as importações e agregar valor ao café, gerando renda a pequenos produtores e empregos para jovens no campo
Economia
Shopping digital conecta consumidores a produtos da floresta
Espaço criado pelo Banco do Brasil e Amazon vai reunir itens produzidos por comunidades da Amazônia e Pantanal