Economia
Efeito Trump pressiona boi gordo e gera incertezas no mercado
Com a nova tarifa dos EUA, a carne bovina brasileira pode custar US$ 8.500 a tonelada no mercado norte-americano
Andrea Russo | São Paulo | andrea.russo@estadao.com
10/07/2025 - 14:09

Depois do anúncio dos Estados Unidos de tarifar em 50% todos os produtos brasileiros, o mercado do boi gordo abriu nesta quinta-feira, 10, travado e com as cotações em baixa. Segundo a Agrifatto, nos contratos futuros a arroba já está 1,1% abaixo do valor praticado nesta quarta, 9. Para setembro, por exemplo, o valor baixou de R$ 322,00/@ para R$ 318,00/@. Enquanto no mercado físico, o preço negociado já está R$ 10,00 a menos que a média nacional, que foi de R$305,00/@, nesta quarta.
Em entrevista ao Agro Estadão, Lygia Pimentel, analista e diretora da Agrifatto, diz que muitas indústrias estão fora das compras para ajustar suas programações. “A carne produzida hoje entraria para embarque em agosto. Muita indústria vai correr para pegar a tarifa antiga”, disse.
Ela explica que ainda há dúvidas dentro da indústria sobre a aplicação da tarifa de 50%. Isso porque o setor já trabalhava com uma taxa de 10% até uma cota de 65 mil toneladas; depois, a tarifa passa para 26% para o volume excedente à cota. A dúvida, segundo ela, é se os 50% serão somados, chegando a 76%. “Falei com duas indústrias e as informações foram diferentes, mas eu estou propensa a achar que será 76%, pelo conteúdo da carta do Trump ”, avalia.
A analista ainda explica que hoje a tonelada da carne bovina vendida para os Estados Unidos custa, em média, US$ 5.720 por tonelada. Com a aplicação da tarifa, a carne do Brasil passaria a custar cerca de US$ 8.500 a tonelada — valor mais alto do que o Japão paga pelos cortes mais nobres. “Não faz sentido isso. Vai acontecer uma dança das cadeiras. Os Estados Unidos vão tirar o Brasil e vão comprar do Paraguai, Uruguai, Argentina e Austrália, possivelmente da Colômbia”, disse.
Para a analista, não é algo impossível para esses países abastecerem o mercado norte-americano com o volume exportado pelo Brasil, mas esses mercados deixarão de atender outros países compradores, que passarão a adquirir do Brasil. Com isso, segundo a analista, o mercado tende a se reequilibrar a longo prazo.
Demais proteínas
Os Estados Unidos são o 12° principal destino das exportações de carne suína, com 14,9 mil toneladas exportadas entre janeiro e junho, gerando receitas de US$ 31,6 milhões no período. Já para as remessas de ovos, o mercado norte-americano é relevante, com 15,2 mil toneladas exportadas no primeiro semestre, gerando receitas de US$ 33,1 milhões – aponta a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que informa ainda que o Brasil não exporta carne de frango para esse destino.
No entanto, em nota, a ABPA vê com “preocupação as tratativas entre os Governos do Brasil e dos Estados Unidos”, por conta da relevância deste mercado para as cadeias produtoras. “Exatamente por isso, o setor produtivo confia que as negociações se mantenham dentro do mais alto nível das tratativas comerciais e que tenhamos uma rápida solução diplomática”, diz o comunicado.
Análise política
Na análise da Markestrat, sendo os Estados Unidos o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China, os efeitos desta tarifa tendem a ser severos sobre os produtos exportados do agronegócio. “Nesse cenário, o impacto da tarifa recairá não apenas sobre o exportador brasileiro, mas também sobre o consumidor americano”, disse José Carlos, analista e diretor da Markestrat
Para o analista, a resposta do presidente americano veio logo depois da reunião dos BRICS, na última semana, no Rio de Janeiro. Um claro sinal de que Donald Trump vai adotar uma “linha dura” contra países que buscam desdolarizar suas relações comerciais.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Arábia Saudita quer aumentar em 10 vezes sua produção de café
2
Decisão sobre salvaguardas da China leva tensão ao mercado da carne bovina
3
Rumores sobre salvaguarda da China para carne bovina travam mercado
4
Banco do Brasil usa tecnologia para antecipar risco e evitar calotes no agro
5
China cancela compra de soja de 5 empresas brasileiras
6
Exportadores alertam para perda irreversível do café brasileiro nos EUA
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Economia
Ainda sem China entre principais destinos, exportações de frango caem 6,5% em novembro
Emirados Árabes, União Europeia e África do Sul aumentaram compras de frango brasileiro, segundo levantamento da ABPA
Economia
Atrasos em embarques afetam exportações de carne suína, que têm queda de 12,5%
Ano acumula crescimento de 18,7% no faturamento obtido com a proteína, que teve as Filipinas, China e Chile, entre os principais destinos
Economia
Federarroz diz que novas regras do piso mínimo de frete agravam crise no setor
Para a entidade, adaptações elevam custos e aumentam o risco de interrupções logísticas caso haja inconsistências no cumprimento das normas
Economia
Credores aprovam plano de recuperação judicial do Grupo Manso
Com dívidas que somam aproximadamente R$ 199 milhões, pelo menos 100 credores aprovaram o plano de reestruturação do grupo.
Economia
Malásia proíbe importação de suínos da Espanha após surto de Peste Suína Africana
Compra será autorizada apenas se o Certificado de Saúde Veterinária tiver sido emitido até 28 de novembro de 2025
Economia
Índice de Preços dos Alimentos da FAO cai em novembro e tem 3º recuo consecutivo
O declínio foi impulsionado pelos índices de laticínios, carnes, açúcar e óleos vegetais, enquanto os cereais tiveram alta
Economia
Exportações para a China crescem 41% em novembro e 4,2% no acumulado do ano
O superávit com as vendas para o país asiático foi de US$ 2,57 bilhões no mês passado e de US$ 27,37 bilhões no acumulado
Economia
Soja puxa e exportações da agropecuária crescem 25,8% em novembro
Exportações de carne, café, suco de frutas e celulose para Estados Unidos ainda não reagiram após retirada do tarifaço