Agropolítica
Teixeira culpa dólar e Trump pela alta dos alimentos no Brasil
No Senado, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, confirmou R$ 76 bi no Plano Safra para Pronaf
Redação Agro Estadão
10/04/2025 - 09:43

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, atribuiu a alta no preço dos alimentos nos últimos meses, principalmente, à valorização do dólar e às políticas comerciais adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A explicação foi apresentada durante audiência realizada nesta quarta-feira, 9, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal.
“Alguns alimentos são precificados em dólar, como trigo, milho, soja e carne. Além disso, os insumos utilizados na agricultura — como fertilizantes, defensivos e até embalagens — muitos deles são importados, logo a variação cambial vai para a mesa dos nossos brasileiros”, explicou.
Segundo Teixeira, grande parte dos alimentos produzidos pela agricultura familiar manteve preços estáveis, enquanto a alta da inflação esteve concentrada em seis itens: carnes, ovos, café, açúcar, laranja e derivados de soja — especialmente o óleo.
Ele atribuiu o aumento do ovo ao preço do milho, ao abate de matrizes quando o preço do ovo estava baixo, ao aumento do consumo, ao clima e à quaresma. “Pós-Páscoa, nós vamos ter uma diminuição [do preço do ovo] e outros produtos estão diminuindo. Torço para que o mundo retome a racionalidade que hoje o presidente dos EUA tirou. O dólar estava a R$ 5,65 e chegou a R$ 6,00. Portanto, ele é o grande responsável se tiver retorno [do aumento] do preço dos alimentos do Brasil”, completou.
Plano Safra da agricultura familiar
Teixeira também confirmou que o próximo Plano Safra 2025/26 terá R$ 76 bilhões disponíveis para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O valor é igual ao montante disponibilizado no Plano Safra 2024/25.
Segundo o ministro, o Pronaf registrou mais de 1,8 milhão de operações em 2024, e a meta do governo é atingir 2 milhões em 2025. Entre 2022 e 2024, os recursos do programa contribuíram para o custeio da produção de alimentos como batata, feijão, arroz, banana, açaí, peixe, carne suína, tomate e cenoura. Nesse mesmo período, afirma Teixeira, ouve aumento de 59% na mecanização da agricultura familiar e de 123% no acesso ao microcrédito.
Desenrola Rural
Sobre o programa Desenrola Rural, que permite a renegociação de dívidas de produtores com descontos de até 85%, o ministro Teixeira afirmou que a meta do governo para 2025 é renegociar 250 mil contratos.
O senador Beto Faro (PT-BA) ponderou que muitos produtores rurais da Região Norte possuem dívidas contraídas entre 2003 e 2012 — período não contemplado pelo programa Desenrola. Por isso, sugeriu que o programa amplie seu alcance para incluir esses casos ou que o Banco da Amazônia (Basa) retome a aplicação de uma legislação anterior que já previa esse tipo de renegociação.
O ministro Teixeira esclareceu que a pasta já está em reunião com instituições financeiras como o Banco do Brasil, o Basa e o Banco do Nordeste para ampliar o financiamento para os agricultores.
Reforma agrária e conflitos de campo
O senador Marcos Rogério criticou a falta de acompanhamento por parte do governo nos assentamentos da reforma agrária, citando dados que apontam evasão em 30% dos lotes. Ele mencionou um acórdão do TCU que identificou mais de 205 mil lotes vagos e 580 mil beneficiários com possíveis irregularidades.
Teixeira respondeu que, se 30% dos lotes falharam, 70% tiveram sucesso, comprovando os resultados positivos da reforma agrária para a maioria. Ele também destacou que a concentração fundiária e a mecanização da produção afastam os pequenos do campo e que há 120 mil pessoas acampadas à espera de terra.
“Fazer Reforma Agrária hoje não é tão fácil, tendo em vista que o preço da terra no Brasil aumentou. Nós estamos condicionados a pagar o preço de mercado”, acrescentou o ministro.
Sobre os conflitos no campo, Teixeira afirmou que, ao assumir a pasta em 2023, havia 514 conflitos fundiários registrados. Entre 2022 e 2023, o número de mortes relacionadas a esses conflitos caiu 34%. “Essas ações de Reforma Agrária, de mediação, estão diminuindo os conflitos no campo brasileiro, diminuindo as mortes e dando uma perspectiva para ambos os lados”, ressalta.
Críticas ao MST
Os senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES) criticaram o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Seif afirmou que o governo está sendo omisso diante das ocupações, além de indicar membros do movimento para cargos públicos e questionou o fato do governo não coibir o repasse de recursos para acampamentos ilegais.
Em resposta, Paulo Teixeira afirmou que o governo não reconhece o MST como grupo terrorista e destacou o papel do movimento na produção agropecuária. “Tenho visto as ações do MST como cooperativas que produzem leite e derivados, arroz orgânico, produtos industrializados com muito mérito. Então, eu não tenho conhecimento que nós tenhamos algum grupo terrorista que não deva ser atendido pelo Estado brasileiro”, ressaltou.
Para completar, o ministro disse que a questão das invasões de terra não é competência do governo federal. “Essa é uma competência estadual e o estado tem o seu sistema de justiça e o seu sistema também repressivo”, reforçou.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Mapa confirma que 'não há perspectiva' de liberação de orçamento do Seguro Rural
2
Governo discute tornar Seguro Rural despesa obrigatória, mas depende de convencimento interno
3
Brasil abandona acordo por transporte pesado elétrico um dia após assinatura
4
Agronegócio é afetado pelo shutdown mais longo da história dos EUA
5
CNA pede que STF suspenda novas demarcações de terras indígenas até julgamento do marco temporal
6
Justiça amplia decisão que impede Governo de SP de vender áreas de pesquisas
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agropolítica
Bahia investe R$ 10 milhões em Câmaras Setoriais no setor agropecuário
Objetivo é reativar espaços de diálogo entre governo e setor produtivo que perderam continuidade ao longo dos últimos anos
Agropolítica
Crédito para renegociação trava no RS e Banco do Brasil busca explicação
BB e Mapa visitam o Estado nesta quarta-feira, dia 3; apesar do volume de recursos subsidiado, menos de 30% do montante foi acessado
Agropolítica
Brasil pode incrementar US$ 33 bi em 5 anos com novas aberturas comerciais
Ministério da Agricultura vê perspectiva para bater meta de novos mercados e estuda ampliação de atuação dos adidos
Agropolítica
Sem vetos, saiba como o licenciamento ambiental destrava o agronegócio
Simplificação do licenciamento ambiental atende demandas do agro e de infraestrutura; governo pretende judicializar o tema com ação no STF
Agropolítica
Conab: MP destina recursos para reposição de estoques públicos de milho
Medida prevê recompor 83 mil toneladas de milho, destinadas a atender pequenos criadores do semiárido nordestino.
Agropolítica
Congresso derruba vetos ao Licenciamento Ambiental
Para parlamentares do agro, vetos do Presidente Lula desconfiguravam a legislação; foram derrubados 52 dos 63 vetos presidenciais
Agropolítica
Já imaginou tomar um choque por causa de um peixe?
Do radar à defesa, peixes-elétricos usam bioeletricidade para caçar, navegar e se comunicar nas águas turvas
Agropolítica
Isenção de Imposto de Renda para produtores rurais avança na Câmara
Comissão de Agricultura aprova PL que amplia faixa de isenção para pessoas físicas rurais até R$ 508 mil, com atualização pelo IPCA