Agropolítica
“Quem destrói é uma minoria”, diz Marina sobre irregularidades em imóveis rurais
Na Câmara dos Deputados, ministra falou ainda sobre o controle do javali e juros mais baixos para quem preserva

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com.br
02/07/2025 - 17:08

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse que a “minoria” do agronegócio tem irregularidades ambientais. A chefe da pasta compareceu a uma audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 2. Quando questionada sobre os índices de desmatamento e sobre a atuação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em propriedades rurais, a ministra respondeu que a parcela de imóveis rurais com irregularidades é pequena e “não fala pelo agronegócio brasileiro”.
“Quem destrói é uma minoria. Apenas 2,6% dos imóveis rurais concentram 60% das irregularidades. Aqueles que o Ibama está atuando e confiscando o gado são aqueles que, comprovadamente, estão em atividades fora da lei”, afirmou.
A presença da ministra aconteceu depois da aprovação de dois requerimentos de convocação feitos, respectivamente, pelos deputados federais Evair de Melo (PP-ES) e Rodolfo Nogueira (PL-MS), presidente da comissão. Apesar da convocação, parte da base do governo se organizou para participar da audiência, diferente das últimas visitas da ministra ao Congresso Nacional. No ano passado, na mesma comissão, Marina foi chamada de “adestrada”.
Licenciamento ambiental da BR 319
O deputado Evair de Melo criticou a atuação dos órgãos ambientais. “O Ibama, na sua gestão, se transformou numa indústria de multas”. Além disso, indicou que o governo aprova licenciamento ambiental sem critério igualitário. Ele comparou a construção de uma rodovia de 13 quilômetros em Belém (PA) para a COP 30 e a BR 319, que liga Manaus a Porto Velho.
Marina Silva rebateu as críticas e disse que as duas obras não podem ser comparadas. “A BR 319 é um licenciamento complexo. Não é de 13 quilômetros, são 400 quilômetros, no coração da floresta, um impacto ambiental que pode prejudicar o agro brasileiro para o resto de nossas vidas se não for feito com governança, que é o que precisa ser feito”, disse.
Além disso, apontou que o discurso sobre o licenciamento ambiental da BR é um “bode expiatório” para a eleição de parlamentares. “Eu fiquei 15 anos fora do governo, por que não fizeram [nesse período]? Não fazem por incompetência, falta de compromisso, e a culpa é da Marina. Vai ser pelos próximos séculos”, ironizou a ministra.
MMA diz estar estudando forma de enfrentar os javalis
O deputado Rodolfo Nogueira também cobrou uma posição do MMA sobre o controle de javalis. “É um problema ambiental e acaba com a agricultura”, disse o presidente da comissão.
A chefe da pasta reconheceu que os animais são um problema, mas ponderou que é preciso observar a ética com os animais e a ciência, antes de fazer ações para controle.
“O Ministério do Meio Ambiente está fazendo o plano nacional de prevenção, controle e monitoramento do javali. Nós estamos fomentando uma pesquisa, avaliando os métodos para fazer esse manejo adequado e fazendo estímulos a novos protocolos de manejo. Mas a gente não faz as coisas de qualquer forma”, comentou.
Juros mais baratos para produtores
A ministra do Meio Ambiente também afirmou que o ministério trabalha em uma forma de compensar proprietários rurais que têm excedente de reserva legal. A ideia é que isso ajude a reduzir os juros do financiamento rural.
“Nós estamos trabalhando mais uma inovação. Se o agricultor tem excedente de reserva legal, ele presta um serviço ambiental, um serviço ecossistêmico, que é bom para todos, então, isso contaria também como um redutor de juros. A gente ainda está em fase de finalização junto com Ministério da Agricultura e o Ministério da Fazenda”, revelou.
Sobre o desmatamento, Silva disse que o governo vem atuando para diminuir. E por isso, há uma mudança na forma como essa supressão vem acontecendo.
“Pela primeira vez nós temos uma situação em que, chegando agora, inclusive em 2025, o desmatamento por incêndio tem se constituído maior do que o desmatamento por corte raso. Enquanto o corte raso atingiu algo em torno de 48% das áreas desmatadas, o desmatamento por queimadas atingiu algo em torno de 52% a 51%”, destacou.

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