Agropolítica
Crédito rural de R$ 12 bi segue indisponível nas instituições financeiras
Segundo o Banco Central, sistema está apto a receber as operações de renegociação, mas apenas o Banrisul confirmou o início dos registros
Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@estadao.com
21/10/2025 - 05:00

Segundo o Banco Central do Brasil (BCB), a linha de crédito de R$ 12 bilhões, criada pela Medida Provisória nº 1.314/2025, já está disponível no Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor) e apta a receber os registros das operações de renegociação. No entanto, a linha com recursos controlados ainda está indisponível nas instituições financeiras.
O Banrisul confirmou o início das operações. Segundo apuração do Agro Estadão, nas agências do Banco do Brasil, Sicredi e Cresol, a informação dada aos produtores rurais é de que os recursos ainda não foram disponibilizados.
Questionadas a respeito do assunto, o Sicredi informou por meio de nota que iniciará as operacionalizações na próxima semana e que mantém diálogo com os órgãos do governo federal sobre as regras e condições para operar o crédito. Segundo a instituição, ainda restam questões regulatórias a serem definidas, mas que não impedem o início da operacionalização nos próximos dias.
Já o Branco do Brasil, conforme informou o vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do BB, Gilson Bittencourt, as operações de renegociação de dívidas rurais utilizando recursos livres já começaram. Já a fase com recursos subsidiados pela União, via BNDES, deve ser operacionalizada até o fim desta semana.
De acordo com Grazi Camargo, coordenadora do movimento SOS Agro RS, no Sul do País, “a resposta dos bancos é sempre a mesma: o sistema não está disponível”, afirmou. “A sensação é de abandono total. O produtor não tem como se recompor sem recurso. O governo demora, e o plantio atrasa”, disse.
O anúncio da Medida Provisória ocorreu há quase 50 dias, durante a Expointer. “Os produtores estão indignados. O plantio da soja e do arroz já começou no Rio Grande do Sul, e ninguém consegue resolver o passivo das dívidas que vêm das enchentes e das perdas da seca. Estamos 20 dias atrasados e isso certamente vai impactar na produção”, disse.
O início das operações era aguardado para a última quarta-feira, 15. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) chegou a anunciar a abertura do protocolo para recebimento de pedidos de crédito para quinta-feira, 16. O atraso teria ocorrido por erro do Ministério da Agricultura (Mapa).
Para o produtor rural Lucas Scheffer, integrante da Associação dos Produtores e Empresários Rurais (APER), a demora não surpreende. “Desde o ano passado, a promessa é grande, os anúncios ainda maiores, mas o que chega ao produtor é insignificante”, afirmou. Segundo ele, o governo anunciou medidas semelhantes em 2024 e no início deste ano, mas poucas saíram do papel. “Prometeram até anistia de dívidas, mas desafio achar um agricultor que teve sua dívida anistiada”, disse.
O crédito tem prazo de até nove anos, com um ano de carência, e juros subsidiados conforme o perfil do produtor. Pelo menos 40% dos recursos serão destinados a agricultores familiares e médios produtores, atendidos pelos programas Pronaf e Pronamp.
Serão elegíveis operações de custeio, investimento e Cédulas de Produto Rural (CPRs) contratadas até 30 de junho de 2024, desde que os beneficiários tenham registrado perdas superiores a 30% em duas ou mais safras entre 2020 e 2025. Também é necessário que o município tenha decretado situação de emergência ou calamidade pública reconhecida pelo governo federal no período.
Crédito rural brasileiro vive retração histórica
De acordo com um levantamento da Assessoria Econômica da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), os recursos disponíveis para o crédito rural no Brasil atingiram o menor nível desde o Plano Real, em 1995. O estudo apontou que a escassez de recursos pode agravar ainda mais a crise de financiamento do agronegócio.
De julho a setembro, primeiros meses da safra 2025/2026, houve redução de 23% nos valores destinados ao custeio das lavouras brasileiras em relação ao ciclo anterior. Nos investimentos, a queda chegou a 44%.
Também houve o aumento da inadimplência no setor. Em julho, a taxa chegou a 5,14%, a mais alta da série histórica.
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