Agropolítica
O que querem – e temem – os chefes da Agricultura nas Américas?
Evento reúne ministros em Brasília e promete discutir futuro da agropecuária no continente
Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
03/11/2025 - 09:15

A capital federal será palco a partir desta segunda-feira, 03, até dia 05 de novembro da Conferência de Ministros da Agricultura das Américas. O evento organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) deve trazer a discussão de uma “nova narrativa” do setor agropecuário.
Conforme revela o diretor-geral do IICA, Manuel Otero, a intenção é mostrar o papel do agricultor e aproximar o público urbano do dia a dia da produção. “Somos os garantidores da segurança alimentar e da sustentabilidade ambiental do planeta”, afirmou ao Agro Estadão. “Mas muitas vezes só se fala da agricultura para apontar problemas. É hora de mostrar o que ela realmente entrega à sociedade”.
A mudança de imagem passa pelo que Otero qualifica como uma “agressiva estratégia de comunicação”. A escolha do Brasil como sede do encontro também passa por isso, pois o país é líder na produção de alimentos no Hemisfério Sul e também vem construindo uma narrativa do setor junto aos outros níveis da sociedade. Segundo o diretor-geral, ainda há uma lacuna na comunicação do agro em outros países das Américas.
“Temos que construir pontes com os setores urbanos e mostrar o milagre diário da alimentação”, pontuou. “O agro precisa explicar o que faz, não só quando há uma crise ou um desastre, mas também que produz com ciência, sustentabilidade e compromisso social”, destacou Otero.
Uma só sanidade: temática terá peso na cúpula
Outro assunto que deve ganhar destaque entre os líderes das Agriculturas nas Américas é a sanidade, tanto vegetal como animal. O tema, segundo Otero, voltou a preocupar devido ao avanço de doenças que ameaçam a segurança alimentar e o comércio internacional.
“Estamos vendo o retorno de enfermidades que pareciam erradicadas”, alertou o diretor. “A peste suína africana, por exemplo, afeta a República Dominicana e o Haiti. Está controlada, mas é uma bomba-relógio, e precisamos agir de forma conjunta”, completou.
Além da peste suína, o IICA chama atenção para a mosca-da-bicheira e as doenças associadas aos carrapatos, que atacam o gado e podem inclusive afetar os seres humanos. Também preocupa a murcha de Fusarium, praga que compromete plantações de banana em países andinos e que pode se espalhar de forma simples.
“Se um País faz bem o trabalho e outro relaxa, todo o esforço se perde”, advertiu Otero. “Precisamos de serviços veterinários fortalecidos e de ações coordenadas entre as nações, porque a sanidade é uma responsabilidade compartilhada”, disse ao falar da necessidade de se pensar como uma só sanidade: animal, ambiental e humana.
Mudança de comando
A expectativa é de que, ao final do encontro, os ministros aprovem uma resolução sobre sanidade. Também são esperados apontamentos para temáticas como solos, produção animal sustentável e agricultura digital. Esses documentos servirão como marcos para o próximo diretor-geral do IICA, que será eleito no dia 04, e terá mandato de quatro anos prorrogáveis por mais quatro.
Na disputa aparecem três nomes:
- Muhammad Ibrahim, ex-diretor geral do Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE) e candidato da Guiana e Comunidade do Caribe;
- Laura Suazo, atual secretária de Agricultura e Pecuária de Honduras;
- Fernando Mattos, ex-ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai.
Mais integração no comércio das Américas
Otero também analisa que a atual conjuntura geopolítica é “turbulenta”, o que afeta as relações comerciais. Por isso, ele cobra um maior empenho no fluxo de mercado entre os países americanos. Apesar de ser uma região exportadora, pouco desse comércio é entre vizinhos.
“Somos a principal região exportadora de alimentos do mundo, mas o comércio entre nós ainda representa apenas 14% ou 15% do total. Temos de avançar muito mais”, enfatizou.
De acordo com o diretor-geral, o IICA tem buscado estreitar esses laços com alguns projetos em andamento. Ele cita, por exemplo, a implementação de certificados sanitários eletrônicos com um padrão regional e a ideia de harmonizar os horários das aduanas.
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