PUBLICIDADE

Inovação

Qual a estratégia brasileira para evitar extinção da banana?

Pesquisador da Embrapa aponta o caminho para o país enfrentar a murcha de Fusarium, doença que ameaça acabar com as bananeiras

Nome Colunistas

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

26/08/2025 - 07:00

Planta contaminada com a murcha de Fusarium, principal ameaça mundial às bananeiras - Foto: Fernando Haddad/Divulgação
Planta contaminada com a murcha de Fusarium, principal ameaça mundial às bananeiras - Foto: Fernando Haddad/Divulgação

“A gente está lutando com um tanque de guerra”. Essa é a definição do pesquisador Edson Perito, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para o fungo causador da murcha de Fusarium, principal ameaça mundial à banana. Esse microrganismo é capaz de dizimar uma lavoura da fruta em três ou quatro anos e, além disso, uma vez presente no solo, permanece por décadas. 

O avanço apontado recentemente pela unidade Mandioca e Fruticultura da Embrapa é a comprovação de que pelo menos três variedades brasileiras de bananeiras são resistentes à doença: a BRS Princesa, BRS Platina e BRS Gerais. Além da tolerância, elas apresentam um nível de produtividade semelhante às que não são resistentes. “Nós já temos uma alternativa para que o produtor siga produzindo a banana”, indica Perito ao Agro Estadão.

Princesa foi uma das três novas variedades desenvolvidas durante a pesquisa – Foto: Edson Amorim/Divulgação

O que é a murcha de Fusarium?

Conhecida antes por mal do Panamá, a doença é o principal temor da bananicultura do mundo, pois ainda não há um manejo com defensivos capaz de controlar de forma eficaz em todas as situações. Outro ponto é que o fungo é capaz de produzir estruturas resistentes chamadas de clamidósporos — é como se ele hibernasse. Esse mecanismo permite que permaneça no solo por até 50 anos, segundo a literatura científica. 

Como explica o pesquisador, há três tipos básicos da doença:

  • raça 1;
  • raça 4 tropical;
  • raça 4 subtropical.

Brasil corre risco de não ter banana?

A raça 1 está no país há alguns anos. Ela foi a causadora de uma redução drástica na produção de bananas-maçã no Brasil, pois são o tipo mais suscetível ao fungo. As bananas prata costumam ser um pouco mais resistentes à doença, enquanto as nanicas toleram bem o microrganismo. Já a raça 4 subtropical, que também está no está no Brasil, principalmente, nas regiões produtoras do Sul e Sudeste, tem um efeito brando, além de que precisa de um estresse com frio para ser ativada.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

O problema está na raça 4 tropical, a mais grave entre as três. Bananas-maçã, prata e nanica são afetadas pela doença. O Brasil ainda não tem nenhum caso registrado no território, mas Perito projeta: “É questão de tempo”. Isso porque em países vizinhos, como Colômbia, Peru e Venezuela, já há casos, além de que a transmissão pode ocorrer de forma simples, a partir do solado de sapato, por exemplo. 

Por isso, a estratégia da Embrapa foi de apostar no melhoramento genético preventivo. Os testes começaram em 2022 e foram feitos na Colômbia, em parceria com a Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (AgroSavia) e com a Associação de Bananeros da Colômbia (Augura). Os experimentos mostraram que menos de 1% das plantas das variedades BRS Princesa, BRS Platina e BRS Gerais foram afetadas pela doença. O número é considerado baixo, o que permite qualificar as variedades como resistentes. 

“O que a gente pode dizer a partir disso é que não, a banana não vai ser extinta com a raça 4 tropical de Fusarium. A Embrapa está colaborando com a produção de banana mundial, não só brasileira, desenvolvendo cultivares que são resistentes a essa doença”, destaca o especialista.

Testes com as novas variedades começaram em 2022, na Colômbia – Foto: Agrosavia/Divulgação

BRS Princesa e BRS Platina

Essas duas cultivares não são novidade no portfólio desenvolvido pela Embrapa. A Princesa é uma variedade de banana-maçã, a primeira do tipo que é resistente à raça 4 tropical e também não sofre com a raça 1. “Temos observado ao longo desses anos um aumento da adoção dessa cultivar pelos produtores brasileiros, chegando ao ponto, por exemplo, segundo informações dos técnicos da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), de que quase 100% do que circula lá hoje, quando se fala de banana-maçã, é a banana BRS Princesa”, acrescenta.

Já a BRS Platina é uma variedade da banana prata, a mais consumida no país — cerca de 50% dos 456 mil hectares são de banana prata. Ela também já é plantada no Brasil, mas devido a algumas características de mercado, como tempo de amadurecimento nas prateleiras, apresenta certa desvantagem em relação a variedade mais plantada (Prata-Anã). 

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
Primeira floração da BRS Platina na Colômbia – Foto: Embrapa/Divulgação

BRS Gerais

A Gerais é outra variedade de banana prata. No entanto, essa é uma melhoria da Platina, ficando no mesmo nível da banana Prata-Anã. A cultivar ainda não está disponível para compra e multiplicação. O pesquisador antecipou à reportagem que o lançamento oficial da nova variedade está previsto para 2026. Mesmo assim, os testes já foram feitos com a nova cultivar, que também demonstrou resistência à murcha de Fusarium. 

“Essa nova cultivar, que nós estamos finalizando o trabalho este ano, é muito similar em termos de sabor, de aroma e até mesmo de pós-colheita, como tempo de climatização, vida de prateleira, do que a banana Prata-Anã, que é a banana prata tradicional no Brasil”, afirma o pesquisador, que ainda revelou que o registro junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) foi obtido na semana passada. 

Além disso, Perito também comenta que testes e experimentos com novas variedades de banana nanica — principal tipo exportado – também começaram e, no próximo ano, pode haver alternativas de nanica resistentes à raça 4 tropical.  

Resistentes a outros problemas

Além da raça 1 e da raça 4 tropical, as três cultivares desenvolvidas pela Embrapa são resistentes à raça 4 subtropical, ou seja, nenhuma delas sofre com à murcha de Fusarium. Outro ponto é a resistência a outro tipo de fungo, causador da Sigatoka-amarela. “Isso diminui o uso de fungicidas no manejo”, completa o pesquisador. 

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Como a tecnologia ajuda na semeadura de inverno

CONTEÚDO PATROCINADO

Como a tecnologia ajuda na semeadura de inverno

As culturas de inverno enfrentam variações de temperatura e umidade, além da palhada. A semeadora SKADI, com seu sistema pantográfico individual, garante a profundidade ideal da semente e a uniformidade da lavoura, superando as adversidades climáticas

Descubra a melhor forma de realizar o plantio nas culturas de verão

CONTEÚDO PATROCINADO

Descubra a melhor forma de realizar o plantio nas culturas de verão

Estudos da Embrapa comprovam que o espaçamento desigual das sementes compromete o potencial produtivo. Descubra como a semeadora SPE TOPLINE FLEX AIR, com seu sistema pantográfico, garante uniformidade e maximiza a rentabilidade das culturas de verão.

Saiba como a semeadura dos grãos pode ser melhor realizada

CONTEÚDO PATROCINADO

Saiba como a semeadura dos grãos pode ser melhor realizada

A irregularidade na semeadura causa perdas de produtividade, como aponta a Pesquisa Agropecuária Tropical (PAT). Conheça a DONNA, a semeadora pantográfica que garante uniformidade e otimiza a janela agronômica mesmo em solos úmidos

Embrapa combina IA e sensores para identificar lagarta-do-cartucho no milho

Inovação

Embrapa combina IA e sensores para identificar lagarta-do-cartucho no milho

Nova tecnologia detecta lagarta-do-cartucho no milho com mais precisão e evita perdas de até 70% da produção

PUBLICIDADE

Inovação

Tecnologia brasileira monitora remotamente uso de água e crescimento de florestas

Solução desenvolvida pelo Instituto Senai em parceria com a startup Agroambiência usa microeletrônica e tem nível alto de precisão

CONTEÚDO PATROCINADO

Aumente a eficiência no campo com o pulverizador ideal

Equipado com motor de 190cv, tanques versáteis e tecnologias como GPS e piloto automático, o Pulverizador Baldan Avola otimiza rotas e elimina sobreposições, garantindo aplicação exata em qualquer terreno

Inovação

Estudo usa inteligência artificial para mapear 50 anos de agricultura

Levantamento identificou seis áreas de pesquisa, lacunas em culturas básicas e crescimento previsto em práticas sustentáveis até 2030

Inovação

Biológico com concentração multiplicada por 10 promete facilidades aos produtores

Produto será lançado em 2026 pela Corteva com a expectativa de otimizar logística, transporte e reduzir o número de embalagens na lavoura

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.