Agropolítica
Negociação de dívidas do Agro gaúcho é retomada na Expointer
Reuniões discutiram alternativas para socorrer agricultores e reforçaram disposição para diálogo, mas entidades cobram condições mais favoráveis

Mônica Rossi | Esteio (RS) | monica.rossi@estadao.com
01/09/2025 - 05:00

Após semanas de pouca movimentação nas tratativas sobre as dívidas do Agro gaúcho, uma visita do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura (Mapa), Guilherme Campos Júnior, à Expointer pode trazer avanços às negociações.
O secretário e os superintendentes José Cleber Souza (Mapa/RS) e Milton Bernardes, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA/RS), conversaram com os líderes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) e da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) neste fim de semana, na exposição.
“Nós, do Mapa, do MDA, do Ministério da Fazenda, do governo federal, temos a ciência da importância e da necessidade de acharmos um caminho para dar condição ao produtor rural gaúcho de continuar a sua atividade e continuar produzindo o que sempre produziu ao longo de toda a sua história”, explicou o secretário ao relatar que a presença dele em Esteio (RS), durante a Expointer, foi um pedido do ministro Carlos Fávaro.
Na mesa, estava a proposta feita há poucos dias pelo governo federal para auxiliar agricultores de todo país, mas especialmente os gaúchos. O que a União propõe:
- volume inicial de R$ 10 bilhões para repactuação de dívidas em 2025;
- sete anos para pagamento, com um ano de carência;
- juros escalonados de 6% ao ano para a agricultura familiar (até R$ 250 mil), 8% para médios produtores no Pronamp (até R$ 1,5 milhão) e 10% para os demais (até R$ 3 milhões).
Pleito do setor

O superintendente do Mapa no Estado apontou que as solicitações das entidades vão além do oferecido pelo governo. Segundo José Cleber Souza, tanto Fetag como a Farsul defenderam que o prazo seja ampliado para 10 anos, com dois de carência, e o aporte de mais R$ 10 bilhões de renegociação para 2026. A Farsul teria solicitado ainda que produtores que usaram financiamentos com recursos livres sejam incluídos. A assessoria econômica da entidade ficou encarregada de levantar qual seria o volume desses recursos.
“O relevante a destacar é essa disposição do governo e que houve uma boa acolhida da Fetag e da Farsul em somar esforços nesse processo de diálogo para construir essa solução”, afirmou Souza.
O superintendente do Mapa reforçou que a União vem trabalhando bastante no apoio à agricultura gaúcha desde o início da crise climática a partir das enchentes de 2023. “Foram cerca de R$ 9 bilhões que foram aportados, mais a repactuação das dívidas do Pronaf e demais agricultores de R$ 1 bilhão. Nós acompanhamos, na estatística do Rio Grande do Sul, que efetivamente apareceu o volume na carteira de crédito rural. No primeiro semestre de 2024, eram em torno de R$ 80 bilhões e passou para R$ 90 bilhões de crédito rural ativo”.
Solução política para as dívidas do Agro gaúcho
Em resposta a uma das críticas do setor, que é a demora no fechamento de uma solução, o secretário Campos Júnior reconheceu haver necessidade de agilizar o processo de negociação. “O duro é quando o problema real fica sendo usado como um argumento para uma disputa política. E é a disputa política que afeta ainda mais a velocidade das ações a serem tomadas. Nós temos que tirar, nessa fase, a disputa política e focarmos no problema”, declarou, ressaltando que, nas reuniões deste sábado, observou que todos os participantes concordam sobre a importância de deixar a disputa política de lado e focar na construção de soluções concretas para o problema.
Em conversa com o Agro Estadão, o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, disse que além dos ministérios, houve conversas com o Banco do Brasil sobre essa última proposta. “Fizemos três pedidos: para rever a questão do juro, que achamos que está alto, mas principalmente para aumentar o prazo, sete anos é muito pouco. Além disso, só R$ 10 bilhões não chega, é pouco, então nós pedimos para eles mais 10 bi para o ano que vem, incluindo todos que vão vencer em 2026”.
A Farsul reiterou, por meio de nota, o pedido de R$ 25 bilhões para a repactuação das dívidas, sendo R$ 15 bilhões para este ano e R$ 10 bilhões em 2026. Também reforçou que, independente desta negociação, continua apoiando o Projeto de Lei n.º 5.122/2023 ,que tramita no Congresso Nacional e autoriza a liquidação, anistia, renegociação e rebate de dívidas originárias de crédito rural para agricultores
Uma sinalização de que a discussão sobre as dívidas do Agro gaúcho estaria próxima do fim seria a presença do chefe do Mapa, Carlos Fávaro, nos pavilhões da 48 ª Expointer. Há uma possibilidade da agenda se confirmar para a próxima sexta-feira, 5, mas o secretário Guilherme Campos lembrou que o ministro vem sendo muito demandado para viagens a fim de solucionar os problemas gerados pelo tarifaço dos Estados Unidos.

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