Agropolítica
Lupion: reciprocidade às vésperas de defesa do Brasil nos EUA dificulta negociação
Medida é avaliada como imprudente também por ex-presidente do Banco dos Brics, para quem a articulação do setor tende a ser mais efetiva
Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
02/09/2025 - 15:47

A análise do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), é de que o início do processo de aplicação da lei de reciprocidade deve afetar as negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. Ele considera que a medida veio em hora inoportuna.
“A gente não está vendo, por parte do governo federal, uma negociação efetiva. Pelo contrário. Esse anúncio e essa tratativa de aplicar efetivamente a lei da reciprocidade, justamente na véspera da nossa defesa lá nos Estados Unidos, é algo extremamente preocupante, dificulta muito a negociação, dificulta muito a nossa defesa lá”, ressaltou o presidente da bancada a jornalistas após a reunião-almoço da frente nesta terça-feira, 2.
Entidades de diferentes setores da economia brasileira se preparam para iniciar a defesa em um processo aberto pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) com base na Seção 301 da Lei de Comércio americana de 1974 – que permite investigar práticas ou condutas comerciais feitas por outros países que podem ser consideradas injustas para os Estados Unidos. A defesa dos setor produtivo deve ser feita pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Outro agravante indicado por Lupion é o julgamento do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro. A interpretação do parlamentar é de que isso deve gerar uma resposta pesada por parte dos americanos.
“É óbvio que, com o julgamento do presidente Bolsonaro no Supremo [Tribunal Federal], iniciado hoje [terça-feira, 2], o componente político dessa disputa se torna ainda mais pesado. Vêm sanções novas americanas, eu tenho certeza disso. Algo deve vir por aí, não tenho como precisar o que é efetivamente, qual será a iniciativa do Departamento de Estado Americano, mas eu não tenho dúvida que algo pesado vem por aí justamente na questão política do julgamento do presidente Bolsonaro”, disse.
“Eu tenho um entendimento, infelizmente, preocupante, de que para o governo isso virou uma onda a ser surfada e uma oportunidade de resgate da imagem do governo na questão da soberania e uma questão muito mais política do que de mercado”, comentou.
Relação entre exportadores e importadores pode trazer mais resultados do que negociação governamental
O ex-presidente do Banco dos Brics, Marcos Troyjo, também participou da reunião com a bancada nesta terça. Na avaliação do também economista, a lei da reciprocidade no atual contexto é uma medida imprudente. Para ele, uma efetivação de tarifas recíprocas traria danos para produtores rurais e, principalmente, para consumidores finais, que pagariam mais por diversos produtos que dependem de importação vinda dos Estados Unidos.
Outra avaliação destacada pelo especialista é de que a articulação entre exportadores e importadores americanos deve trazer mais resultado do que uma negociação formal entre os governos. “Eu entendo que essa aliança, essa comunhão de interesse, tem mais chance de sucesso do que simplesmente a atuação do governo brasileiro, que, nesse momento, acabou se tornando muito pouco efetivo”, disse Troyjo ao traçar o horizonte até outubro de 2026.
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