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Crise no arroz: entenda a queda de braço entre governo e setor produtivo

“O pior erro do governo foi anunciar uma importação em grandes volumes sem necessidade”, afirma Federarroz; reunião pode ser decisiva no impasse sobre a importação do arroz

5 minutos de leitura

23/05/2024 | 15:58

Por: Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com

arroz sem casca
Foto: Adobe Stock

O setor produtivo de arroz tenta, mais uma vez, convencer o Governo Federal de que não há risco de desabastecimento do cereal, mesmo com as perdas na safra gaúcha após as inundações do final de abril. A Federação das Associações de Produtores de Arroz do Rio Grande do Sul (Federarroz) e a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) se reúnem com o Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, na tarde desta quinta, 23. O encontro será virtual e acontece a poucos dias de Fávaro transferir o gabinete para o estado gaúcho.

O Agro Estadão apurou que o tom da conversa deve ser mais duro e embasado em números do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA). O levantamento do IRGA indica uma safra de arroz gaúcha próxima de 2023, com redução de 1,2%. O volume deve chegar a 7,1 milhões de toneladas, resultado dos 758 mil hectares colhidos até agora, mais 101 mil hectares que não foram atingidos pelas inundações e devem ser colhidos nos próximos dias. De acordo com o IRGA, 22 mil hectares de lavouras foram totalmente perdidos

O documento entregue ao Ministério da Agricultura, nesta semana, mostra que  6,5 milhões de toneladas de arroz estavam estocadas nos armazéns antes das chuvas. Desse total, a estimativa é que 43 mil toneladas foram comprometidas. O produto estava em seis silos que foram afetados em Eldorado do Sul e 122 armazéns na região central do estado.

Entidades garantem produção de arroz suficiente para abastecer o país

O presidente da Federarroz destaca que o volume produzido pelo Rio Grande do Sul em 2024 somado ao restante do país chega a cerca de 10,4 milhões de toneladas, o que é praticamente o que os brasileiros consomem por ano. Portanto, não haveria necessidade de o governo importar 1 milhão de toneladas do produto – como pretende fazer por meio de leilão da Conab, que foi suspenso – nem zerar a Tarifa Externa Comum para países fora do Mercosul.

“Isso nos traz segurança em afirmar que o movimento do governo em anunciar importação é precipitado, não tem fundamento. Porque nós temos uma safra maior este ano [Brasil], aumento de 4% estipulado pela Conab”, afirma Alexandre Velho.  

Ele lembra que a estimativa de exportação do arroz também foi reduzida pela Conab em cerca de 300 mil toneladas – produto que fica no mercado interno – atingindo 1,2 milhão de toneladas enviadas para fora do país. “Se eu vou ter uma exportação menor e aumento da safra, por que eu estou com o abastecimento comprometido? Não estou”, completa.

“Temos que diminuir o barulho em função de desabastecimento. A indústria está trabalhando, os produtores estão ofertando arroz. Nós precisamos de calma e investimento em logística.”

Alexandre Velho, presidente da Federarroz

A entidade que representa os produtores de arroz também avalia que o desabastecimento do cereal é momentâneo e provocado por problemas de logística, da não emissão de notas fiscais [o sistema do governo estadual está fora do ar] e em função das chuvas, que impedem o carregamento dos caminhões.  

Segundo o presidente da Federarroz, a produção está sendo escoada por rotas alternativas até Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Por isso, a reunião desta tarde será para acalmar os ânimos. “A intenção é trazer tranquilidade ao governo com relação ao abastecimento que está sendo feito.  A indústria está trabalhando, os produtores estão ofertando arroz. Nós precisamos de calma e investimento em logística”, finaliza.

Existe uma queda de braço entre o governo e o setor produtivo?

Desde que anunciou a realização de um leilão para importar arroz, o Governo Federal é alvo de críticas dos produtores. Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), o governo está mantendo uma queda de braço com a ciência.

“Desde o século XVIII, os maiores economistas já comprovaram que as interferências do governo no preço geram problemas enormes”, afirma Antonio da Luz, lembrando que os preços do arroz no Mercosul subiram 30% desde o anúncio de que o Brasil iria importar o cereal. “Se tem uma super demanda do produto, o preço sobe… porque o governo criou um problema onde não tinha”, resume.

Já o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e consultor da FIESP, Welber Barral, afirma que o governo federal agiu de forma preventiva, se antecipando a um possível problema. “Você abrir o mercado para outras origens acaba diminuindo a especulação. Não quer dizer que vai acontecer a compra. O governo vai fazer se houver uma especulação muito grande e aumento abrupto dos preços”, afirma Barral.

Barral lembra que comprar estoques está dentro das competências da Conab e deve ser feito com qualquer produto que corra o risco de faltar. Porém, “todo mundo é a favor do livre comércio no mercado alheio”, enfatiza.

O coordenador do FGV Agro, Guilherme Bastos, classifica a decisão de realizar um leilão de compra como “uma inabilidade do governo” em entender o momento em que os produtores de arroz vão precisar ter, inclusive, preços um pouco melhor remuneratórios para compensar as perdas do RS.

“A entrada é muito ruim e acaba desorganizando os sinais de preço, que vão ajudar a reorganizar essa oferta para o ano seguinte”, afirma Bastos, que também é ex-secretário de Política Agrícola do Mapa. Na opinião dele, a medida mais acertada é zerar a tarifa de importação para que as próprias indústrias façam o papel que o governo está tentando fazer, de equilibrar a oferta.

“O governo não precisa interferir. Se é para prover as pessoas, você tem outros instrumentos de políticas públicas para fazer esse atendimento, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que você pode, inclusive, fortalecer a agricultura familiar”, conclui.

Como fica a safra 2024/2025 de arroz?

Não é de hoje que os produtores de arroz enfrentam preços baixos e optam por outras culturas em detrimento do cereal. Na safra 2023/2024, porém, o movimento foi contrário. A área de plantio aumentou 7% no Brasil – especialmente no Rio Grande do Sul, onde 70% do arroz brasileiro é produzido. 

Mas na avaliação da Farsul, a retirada da TEC para importar arroz de outros países fora do Mercosul vai impactar a próxima safra. Antonio da Luz afirma que a entrada de um arroz mais barato e de menor qualidade vai derrubar os preços no segundo semestre. 

“Justamente quando o produtor está avaliando a safra 2025… vai desestimular o plantio de arroz no Brasil. É uma trapalhada atrás da outra. A melhor coisa que o governo pode fazer é não interferir”, finaliza.

O Agro Estadão procurou o Ministério da Agricultura para comentar as críticas, mas não recebeu resposta até a conclusão desta reportagem.

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