Agro na COP30
Brasil leva soja regenerativa ao palco das finanças verdes da COP 30
Com execução da CJ Selecta e apoio da Unilever, programa Renova Terra pretende regenerar 45 mil hectares no Cerrado até 2030
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
20/11/2025 - 05:00

A transição regenerativa na produção de soja brasileira está entre os temas tratados na 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30). Nesse sentido, o projeto Renova Terra, desenvolvido pela CJ Selecta em parceria com a Unilever, será apresentado nesta quinta-feira, 20, na Blue Zone — espaço dedicado às negociações oficiais da conferência.
Com a meta de inserir a soja brasileira na agenda das finanças verdes, o programa é resultado de mais de um ano de diagnóstico de campo e planejamento técnico. O objetivo geral é, até 2030, implementar práticas de agricultura regenerativa em 45 mil hectares de propriedades rurais do Cerrado, concentradas principalmente em áreas de Minas Gerais e Goiás.
“A Unilever tem a meta global de regenerar um milhão de hectares em suas cadeias de suprimento. Acreditamos que boa parte virá do Brasil, especialmente da soja. Nosso papel no Renova Terra é contribuir com conhecimento técnico e engajamento junto aos produtores”, afirmou Patrícia Sugui, gerente de ESG da CJ Selecta, uma das maiores exportadoras mundiais de concentrado proteico de soja.
Pensando nessa finalidade, cada propriedade participante passa por um diagnóstico individualizado. Depois, recebe um plano de manejo regenerativo de, no mínimo, cinco anos. Mas são os produtores que escolhem por onde querem começar. “A regeneração é uma jornada onde cada produtor escolhe as práticas que se adequam à sua realidade: se querem começar por bioinsumos ou microbiológicos, por exemplo. Mas todos têm o compromisso de manter o solo coberto e implementar melhorias contínuas. Quem faz a mudança é o produtor”, explicou Patrícia.
Atualmente, o Renova Terra conta com cerca de 8 mil hectares e 16 produtores participantes. A meta é escalar gradualmente o projeto até atingir os 45 mil hectares em 2030.
Segundo Patrícia, esse crescimento mais rápido é fundamental para que os resultados ambientais sejam mensuráveis ainda nesta década. “Todo esse arcabouço técnico e científico nos dá segurança para prever uma redução de 20% nas emissões na etapa agrícola”, apontou.
Para isso, a execução do programa conta com apoio técnico da organização sem fins lucrativos, TechnoServe, responsável pelo monitoramento, verificação e reporte dos resultados, o chamado MRV. O modelo inclui análises de solo, assistência técnica contínua e incentivos financeiros por hectare para produtores que adotam práticas regenerativas, como o uso de plantas de cobertura, bioinsumos e compostos orgânicos.
Metas ambientais e viabilidade econômica
Com investimento total estimado em R$ 32 milhões ao longo de cinco anos, o programa busca alinhar metas ambientais à viabilidade econômica. A proposta é que, no médio prazo, a soja produzida sob práticas regenerativas gere créditos de carbono e novos selos de sustentabilidade, fortalecendo o acesso do produto brasileiro a mercados internacionais cada vez mais exigentes em rastreabilidade e descarbonização.
“O programa é caro, complexo e de resultados de longo prazo. Mas é também uma jornada de aprendizado para todos: produtor, indústria e consumidor. O retorno vem em forma de redução de emissões, solo mais saudável e confiança do investidor”, disse a gerente da CJ Selecta.
A dirigente comemorou ainda a visibilidade conquistada na 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas. “A COP é o espaço ideal para mostrar que o Brasil pode ser protagonista na agenda regenerativa. O capital verde precisa chegar aos projetos que realmente fazem diferença no campo, e não a iniciativas de fachada”, destacou.
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