Agro na COP30
O que é e como aderir ao Protocolo de Carne de Baixo Carbono
Lançado durante a COP, protocolo receberá adesões a partir do início do próximo ano; MBRF deve pagar bônus pela carne certificada
Daumildo Júnior | Belém (PA) | daumildo.junior@estadao.com
20/11/2025 - 16:27

Uma das entregas do setor agropecuário durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) é o Protocolo de Carne de Baixo Carbono (CBC). Esse certificado pretende ajudar criadores de bovinos a adaptarem suas propriedades para reduzir as emissões de carbono no processo de produção dos animais.
Testes feitos em diferentes imóveis rurais que adotaram o CBC mostraram um nível de redução das emissões de carbono entre 26% e 50%, sendo que a média ficou em 35%. Além disso, o CBC indica um aumento da produtividade. Por exemplo, a taxa de lotação média no Brasil é de um animal por hectare. Nas fazendas que adotaram o protocolo, a média chega na casa de dois por hectare, com alguns casos chegando a três.
O pesquisador Roberto Giolo, da unidade Gado de Corte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), destaca que o CBC é uma receita de como o produtor pode atingir um potencial produtivo maior a partir de boas práticas de manejo, seja do solo, da pastagem e dos animais. “Não é um protocolo complicado. A gente imagina que o produtor tenha certa facilidade de entrar no protocolo”, destacou o pesquisador.
O que é o Protocolo de Carne de Baixo Carbono?
O CBC é um protocolo de certificação a que o produtor adere de forma voluntária. Além disso, é um método desenvolvido para sistemas pecuários que funcionem predominantemente a pasto, sendo permitido o estágio de terminação (os últimos 120 dias) em sistema de confinamento ou semiconfinamento.
O protocolo preconiza, também, a rastreabilidade do rebanho e tem compatibilidade com as exigências das exportações à China, ou seja, o chamado Boi-China.
Apesar de poder ser aplicado em qualquer parte do País, há algumas limitações. Uma delas é que o CBC ainda não tem uma recomendação para imóveis localizados no bioma Pantanal. Outro ponto é que ele ainda não contempla uma metodologia que abarque sistemas de produção de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) — os sistemas ILP podem aderir ao protocolo.
O projeto é incentivado por parceiros, a ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e a MBRF. Essa última, empresa frigorífica, deve pagar um adicional pela carne certificada com o protocolo CBC. Há a previsão também de que a MBRF possa explorar comercialmente o selo nos produtos comercializados, uma forma de agregar valor ao produto final nas gôndolas dos supermercados.

Como participar do Protocolo de Carne de Baixo Carbono?
A partir do início do próximo ano, os produtores interessados em certificar a produção poderão fazer a inscrição no programa de certificação CBC. Para isso, a Amigos da Terra preparou um passo a passo:
1º Acessar o site Agri Trace Rastreabilidade Animal da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A entidade é a responsável pela gestão do protocolo e do programa de certificação. É neste site que o produtor fará a adesão ao protocolo;
2º Uma vez que o produtor faça a adesão, ele escolherá uma das certificadoras credenciadas para firmar um contrato de serviço de auditoria;
3º Depois, é preciso apresentar a documentação da adesão além de comprovar que o imóvel que será certificado não tem passivo ambiental e trabalhista;
Superada essas etapas a certificadora fará uma auditoria no local e o aval de acesso para começar a implementação do CBC depende dessa análise. É nessa vistoria que a certificadora fará o check-list se os requisitos mínimos para entrar no protocolo são atendidos. São eles:
- Cumprimento da legislação ambiental;
- Cumprimento da legislação trabalhista;
- Ausência de sinais de maus-tratos e ferimentos provocados pela lida inadequada com os animais;
- Sistema de gestão do desempenho zootécnico que contemple pelo menos a identificação individual e idade de entrada dos animais no programa CBC;
- Georreferenciamento das áreas CBC;
- Sistema de fornecimento de água seguro que garanta a oferta e qualidade adequadas de água aos animais;
- Ausência de técnicas de manejo que exponham o solo à erosão pluvial e eólica, uso de fogo entre outras;
- Ausência de sinais de erosão por manejo inadequado do solo e da pastagem;
- Presença de terraços para contenção de enxurrada, na área da unidade rural participante, quando a declividade demandar;
- Amostragem do solo inicial e repetida no mínimo a cada dois anos;
- Densidade do solo inicial de acordo com as Diretrizes para Produção da Carne Baixo Carbono;
- Ajuste da taxa de lotação;
- Suplemento mineral na suplementação a pasto no período das águas;
- Suplemento mineral proteico (0,1% a 0,2% do peso corporal) ou suplemento mineral com ureia em pastagem tradicional (não adubada) no período seco;
- Suplemento mineral em pastagem de Integração Lavoura-Pecuária ou pastagens adubadas ou rotacionadas no período seco;
- Peso do animal produzido em terminação intensiva (confinamento e semiconfinamento);
- Status sanitário (percentual de animais com corrimento nasal, tosse e dificuldade de respirar, corrimento ocular, diarreia, timpanismo, laminite);
- Taxa de mortalidade na terminação intensiva;
- Destinação de dejetos do confinamento;
- Atendimento à legislação ambiental vigente referente à operação de confinamento.
Ao todo, o protocolo CBC tem 67 critérios, sendo que esses 20 listados já devem ser observados antes da adesão ao protocolo. Com esses requisitos iniciais, o produtor já consegue o certificado CBC, sendo que os demais critérios serão cobrados a cada auditoria que será feita de dois em dois anos. A estimativa é de que em cerca de oito anos o produtor já esteja cumprindo os 67 critérios.
Outras dicas podem ser acessadas no Guia para Produção de Carne de Baixo Carbono.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agro na COP30
1
Produtores rurais preservam 29% da vegetação nativa no Brasil, aponta Embrapa
2
Veja a proposta do agronegócio brasileiro para a COP 30
3
Como vai funcionar a AgriZone na COP 30; confira a programação
4
Quais os resultados o Agro do Brasil espera ao final da COP 30? Confira 5 pontos
5
Conheça as propostas da Embrapa para adaptar o agro às mudanças climáticas
6
Comunidade na Reserva do Tapajós, no Pará, quer virar modelo de produção ribeirinha
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Agro na COP30
ABPA defende atualização de bancos de dados internacionais sobre uso da terra
Segundo o presidente da associação, Ricardo Santin, produtores brasileiros podem ser penalizados por informações antigas
Agro na COP30
Entenda o que é a taxonomia sustentável
Instrumento define critérios científicos para atividades agrícolas e combate práticas de greenwashing
Agro na COP30
Fávaro descarta decisão “abrupta” e “impositiva” sobre o Plano Clima
Em entrevista exclusiva, ministro fala sobre as metas climáticas e crítica países que “não põem a mão no bolso” para bancar financiamento climático
Agro na COP30
Fim do uso de combustíveis fósseis ganha força na COP 30
Entidades do biodiesel lançam manifesto em apoio ao “Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis”
Agro na COP30
Inspirada no Brasil, iniciativa global para recuperar áreas degradadas é lançada na COP 30
Estimativa é de que mundo precise de US$ 105 bilhões anuais para a recuperação desses terrenos; nove países já aderiram à proposta
Agro na COP30
Conheça a fazenda de búfalos que virou exemplo na COP 30
Propriedade alia bem-estar, preservação ambiental e ganho de produtividade
Agro na COP30
COP 30 discute a aquicultura como motor da bioeconomia
Setor aquícola responde por 0,5% das emissões; cultivo de algas, moluscos e peixes é visto como caminho para gerar renda e reduzir emissões
Agro na COP30
Embrapa e Japão assinam acordo para a recuperação de áreas degradadas
Fávaro não confirma valores, mas diz que agência do Japão também fará aporte para programa Caminho Verde Brasil