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Frutas vermelhas são a nova aposta de pequenas propriedades em SP
Demanda por framboesa, mirtilo e amora preta estimulou a criação de um programa específico de apoio aos produtores

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
19/06/2025 - 08:00

Alberto Umhof trabalhou por muitos anos na área de telecomunicações. Há cinco, quando se aposentou, ele e a esposa, Graciela, decidiram começar outra vida e compraram um sítio na Serra da Paulista, em São João da Boa Vista (SP), a cerca de 1.300 metros de altitude.
A propriedade já produzia amoras pretas e framboesas. Como era a primeira experiência deles com agricultura, decidiram manter o cultivo. Mas havia também uma questão estratégica. “O clima é muito favorável, especialmente pelas noites mais frias e a altitude. E há um mercado crescente de frutas diferenciadas, tanto para consumo direto quanto para produtos derivados”, afirma Alberto.
Segundo a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), que mantém o programa Frutas Vermelhas SP, a amora preta e a framboesa — juntamente com o mirtilo — começaram a ganhar espaço em terras paulistas justamente há cinco anos, época em que o casal decidiu investir no negócio.
Há um ano, o último levantamento da Cati apontava que o Estado de São Paulo já tinha mais de 50 produtores, que somavam 98 hectares plantados com essas três frutas. “Estamos para fazer um novo estudo, porque, nos últimos meses, a procura continuou em alta. Houve um boom de novos produtores”, explica o agrônomo José Eduardo Pereira da Silva, assistente de planejamento da Cati, regional de Campinas (SP).

No caso de Alberto, a estrutura de irrigação dos pomares e de câmaras frigoríficas estava pronta para a produção de frutas congeladas. E, com o tempo, o projeto foi sendo redesenhado. O mirtilo foi introduzido, além de outras culturas, como morango, lavanda e maracujá.
As frutas vermelhas ocupam um hectare, do qual saem quatro toneladas por ano. “Comercializamos principalmente para supermercados, fábricas de geleias artesanais e pequenos transformadores. Em alguns casos, fornecemos também in natura, mas boa parte é vendida congelada para facilitar o transporte e o uso industrial”, conta Alberto, que garante seguir práticas agrícolas de baixo carbono, como uso de energia solar em toda a propriedade e a preferência por entregar os produtos a consumidores regionais.
Sobre os potenciais do mercado, ele vê com bons olhos. “Há espaço para ampliar com cautela, principalmente se o turismo rural da região continuar se desenvolvendo. Já temos vinícolas surgindo por perto, laticínios artesanais, produtores de café especial e cachaças premiadas. Acredito que a criação de um selo regional seja um próximo passo importante para valorizar essa produção diversificada e de qualidade”.

Programa Frutas Vermelhas SP
Alberto é um dos produtores pioneiros de frutas vermelhas no estado. Apostou antes mesmo do surgimento do programa implantado pela Cati, que veio em 2022. A criação do Frutas Vermelhas SP atendeu a uma demanda dos próprios agricultores paulistas, que passaram a demonstrar maior interesse, especialmente pelo mirtilo.
“No início, porém, eles achavam que era impossível, por causa da quantidade de horas de frio que o mirtilo precisava”, diz ele. “Até que soubemos que a Universidade da Flórida tinha lançado variedades mais adaptadas ao clima tropical”, complementa o agrônomo José Eduardo Pereira da Silva.
A framboesa também ganhou cultivares mais resistentes e pintaram interessados em diversas áreas de São Paulo: de cidades próximas à capital, como Jundiaí, até diversos pontos espalhados pelo interior, como Bauru, Campinas e Ribeirão Preto. “Os produtores perceberam que podiam ter produtividades interessantes em áreas pequenas e que não precisavam eliminar outros cultivos, como caqui, goiaba ou atemoia, para plantar mirtilo, framboesa e amora, que são as frutas incentivadas pelo programa”, destaca José Eduardo.
Para o sucesso do Frutas Vermelhas SP, os funcionários da Cati de Campinas foram buscar conhecimento. Participaram de cursos, cujos ensinamentos foram passados a colegas de outras regionais — são 40 unidades distribuídas pelo estado — e depois aos agricultores, que recebiam informações como a de que a amora preta, por ser considerada de clima temperado, não sucumbe tanto ao calor, mas oferece somente uma safra por ano; que o mirtilo pode ser plantado no solo ou em vasos e render, em média, duas colheitas anuais; e que framboesa, que se acreditava ser possível colher apenas no calor, dá frutos o ano inteiro.
José Eduardo lembra que 80% dessas frutas consumidas no Brasil vêm de fora, principalmente do Peru, e, por isso, o mercado está aberto aos produtores nacionais. “O problema delas é que a durabilidade é pequena. A que mais aguenta é o mirtilo, de 20 a 30 dias refrigerada. Por outro lado, é um fator que nos favorece, porque as frutas colhidas em São Paulo são rapidamente entregues nos pontos de venda e chegam frescas aos consumidores”, conclui o agrônomo.

Casal começou com as frutas vermelhas há um ano
No sítio Figueira da Mata, em Joaquim Egídio, distrito de Campinas (SP), a produtora Karine Botelho Moreira confirma o que relata o assistente de planejamento da Cati. Ela entrega a produção a duas redes de hortifrútis ali mesmo em Campinas e uma de Itapira sempre no mesmo dia da colheita. E com outro cuidado: as frutas saem dos pés direto para as bandejas, para que o haja o mínimo de contato manual. “A proposta é que os clientes tenham a experiência que gosto de ter quando sou consumidora: que a fruta esteja cada vez mais fresca”, afirma Karine.
Em 2018, ela e o marido, Luís Gustavo Neubern, adquiriram o sítio, para o qual se mudaram dois anos depois buscando acomodar o Zion, um cachorro da raça Cane Corso, que pode passar de 70 centímetros de altura e pesar mais de 45 quilos. O apartamento do casal estava ficando pequeno para o amigo de quatro patas. Com o tempo, a família cresceu: vieram mais três cachorros e 15 búfalos, que sustentam uma produção de queijos artesanais.
Karine havia morado por quatro anos no Canadá. Lá, consumia muito mirtilo e amora — que foram inspiração para que ela deixasse uma carreira de nove anos como administradora no setor bancário para se dedicar à produção agrícola.
A experiência no sítio começou em janeiro de 2024. Todo o processo, desde o plantio das mudas até a irrigação automatizada, foi estruturado pelo próprio casal e pelo sócio, Marcelo Toledo. O pomar é composto, atualmente, por 5.000 plantas de framboesa, que já fornecem, em média, 200 caixas de 1,2 quilos por mês. Além disso, há 2.500 pés de amora, que já tiveram a primeira safra, e 2.600 de mirtilo em vasos, que produzem de 50 a 70 caixas por mês, mas com expectativa de que atinjam o potencial máximo, de 200 caixas/mês. Tudo em 1,5 hectare. “Já estamos aumentando o pomar de framboesas, esperando dobrar a produção”, declara Karine.
De olho nas demandas do mercado, Karine tem, a favor, as temperaturas amenas da propriedade, que auxiliam no desenvolvimento das frutas, e a prática de não colher fora do ponto ideal de maturação. “São frutas riquíssimas em nutrientes. Se estiverem um pouco verdes, não vão oferecer aos clientes todos os benefícios que possuem”, finaliza Karine.

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