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SP: pesquisas buscam melhorar desempenho da criação de tilápias

Brazilian Fish aposta na edição gênica para aumentar tamanho do filé em 40%, enquanto Instituto de Pesca testa cobertura com plástico

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Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)

09/04/2025 - 08:00

Comparativo entre as tilápias sem e com edição gênica: aumento de 40% no rendimento de carne. Foto: Brazilian Fish/Divulgação
Comparativo entre as tilápias sem e com edição gênica: aumento de 40% no rendimento de carne. Foto: Brazilian Fish/Divulgação

Dois projetos inovadores, um liderado pela Brazilian Fish, empresa com sede em Santa Fé do Sul (SP), e outro desenvolvido no Instituto de Pesca, ligado à Secretaria da Agricultura e Abastecimento (SAA) de São Paulo, visam tornar mais produtiva a criação de tilápias, o peixe mais cultivado e consumido no Brasil. 

A Brazilian Fish, líder nacional na produção em tanques-rede, processando 60 toneladas de tilápias por dia, firmou um acordo com o Center for Aquaculture Technologies (CAT), dos Estados Unidos, para colocar no mercado uma edição gênica da tilápia-do-nilo. 

A expectativa é que, dentro de dois anos, a empresa inicie a comercialização de exemplares com aumento de até 40% no rendimento de carne. “Hoje, o filé representa cerca de 33% do peixe. Com esse incremento, deveremos passar de 44% de rendimento”, afirma o diretor da Brazilian Fish, Antonio Ramon do Amaral Neto. 

A técnica prevê, ainda, melhorar a conversão alimentar — transformação do alimento dado aos peixes em massa corporal — em 15% e reduzir o tempo de cultivo em 20%. “Se somarmos essas informações, a redução do preço no ponto de venda pode ser superior a 25%”, garante. “Em outras palavras, estamos falando que o filé vai custar mais barato, para que o consumidor consiga levar o produto em um valor acessível”, diz Amaral. “Meu sonho é a que a tilápia seja vendida a preço de frango”. 

Investimento em genética

O diretor conta que a empresa investe em genética há mais de oito anos. Até 2024, porém, os programas de melhoramento adotados possibilitaram um aumento tímido de produtividade: entre 1% e 1,5%. “Foi um avanço, mas muito pouco perto da minha ansiedade de transformar o negócio”, explica Amaral. 

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Até que, em março de 2024, ele esteve nos Estados Unidos. Foi conhecer o trabalho de edição gênica feito pela CAT, um processo que tem diferenças em relação à transgenia. Para criar um alimento transgênico, materiais genéticos considerados benéficos em uma espécie são inseridos em outra e alteram o DNA. Já na edição, genes que já existem nos organismos são habilitados ou desabilitados para ressaltar ou minimizar determinadas características.  

“A gente sabe que ainda existe um grande preconceito com os transgênicos. Mas, na edição gênica, você não injeta nenhum material externo. São técnicas completamente diferentes”, destaca Amaral.  

Os estudos são feitos na própria Brazilian Fish. As primeiras tilápias editadas já nasceram. A cada 30 ou 60 dias, os pesquisadores norte-americanos vêm à empresa para acompanhá-los. Além de mantê-los em total segurança, para não haver o risco de escaparem, Amaral afirma que a tilápia editada só vai entrar no mercado quando estiver concluída outra etapa do projeto: uma nova edição que faça com que as matrizes tenham filhotes estéreis. “Assim, esse animal pode escapar, mas ele não vai reproduzir”. Também está nos planos buscar outras melhorias, como obter tilápias mais resistentes a bactérias que provocam doenças comuns nos plantéis.  

Diretor da Brazilian Fish acredita que edição gênica poderá baixar preço da tilápia para o consumidor. Foto: Brazilian Fish/Divulgação

O investimento inicialmente previsto para o projeto é de R$ 100 milhões e engloba, também, um aumento da capacidade de abate da empresa, das atuais 60 para 100 toneladas por dia. “Ainda vou ver chegar o dia em que as pessoas vão consumir mais peixe. Se a gente tem água em quantidade e qualidade, por que as pessoas não comem mais? Porque é caro, não há incentivos, uma série de motivos. Se tudo der certo, a gente pode mudar a história”, conclui Amaral, otimista. 

Cobertura com plástico

No Instituto de Pesca, o mestrando Pedro Lopes Bezerra Neto também está animado. Biólogo, ele desenvolve experimentos com o uso de cobertura plástica e a inclusão da planta aquática Landoltia punctata, conhecida popularmente como lemna, na dieta dos peixes. Os resultados serão divulgados quando Bezerra concluir a pesquisa, entre o final deste ano e começo de 2026, mas ele adianta que os preliminares são promissores. 

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tilápias
Pedro Lopes Bezerra Neto conduz os experimentos no Instituto de Pesca: resultados preliminares animadores. Foto: Pedro Bezerra/Arquivo pessoal

O pesquisador explica que o uso do plástico tem sido ampliado em sistemas de cultivos de vegetais, como hortaliças, pelos bons resultados apresentados na economia de água, no controle da temperatura e no aumento da produção. Já na piscicultura, é novidade.  

As observações são feitas em 18 caixas de 500 litros, que fazem parte de um sistema de recirculação de água e que recebem 18 peixes cada. Metade das caixas é coberta com plástico e outra não, para que haja comparação de desempenhos. E, em todas elas, 25% da alimentação dos peixes é com lemna. 

Bezerra conta que a planta, além de ser uma boa fonte proteica, ajuda a diminuir os níveis de nitrogênio e fósforo da água, decorrentes da própria atividade e que não são eliminados em sistemas de recirculação, podendo ser prejudiciais tanto à água como aos peixes. 

A escolha das tilápias para os testes tem dois motivos. O primeiro deles “é que é um peixe fácil de trabalhar e de manusear, já que, por exemplo, não tem muitos espinhos”, explica Bezerra. 

O outro é a liderança da espécie no Brasil. Só nos últimos dez anos, segundo a Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR), o volume produzido nacionalmente mais que dobrou, saltando de 285 mil toneladas em 2015 para 662 mil toneladas em 2024 — o que representa quase 70% do total de peixes de cultivo no país, devendo atingir 80% até 2030. O estado de São Paulo é o segundo maior criador, atrás do Paraná. Já o consumo, que se aproxima dos três quilos por habitante/ano, era 50% menor há uma década. 

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