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Agfintechs crescem e viram alternativa para suprir demanda por crédito rural
São Paulo concentra metade das empresas desse segmento, que cresceu 14,1% em apenas um ano no Brasil, segundo o Radar Tech

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
07/08/2025 - 05:00

Consultorias especializadas em agronegócio estimam que o financiamento da safra brasileira demanda, todos os anos, cerca de R$ 1,3 trilhão. Enquanto isso, os recursos anunciados pelo governo federal, para a temporada 2025/2026, são de R$ 516 milhões para agricultura empresarial e R$ 89 bilhões para a familiar — que, somados, correspondem a pouco mais de 46% do que os agricultores precisam de crédito rural para garantir o giro do setor.
As dificuldades de crédito somadas às perspectivas de crescimento da produção para os próximos anos, que devem consolidar o Brasil como fornecedor mundial de alimentos e energias limpas, impõem o desafio de viabilizar outras fontes de recursos. Esse é dos motivos que explicam o crescimento no número de fintechs especializadas no agro no país, as chamadas agfintechs.
As fintechs são empresas de tecnologia que oferecem, em diversas áreas, serviços digitais inovadores do mercado financeiro. De acordo com a A&S Partners, empresa especializada em estruturação de bancos digitais, mais de 1.700 já operam no Brasil — quase 60% do total da América Latina. Na comparação com cinco anos atrás, o incremento foi de 77%. Até 2030, a expectativa é ultrapassar 3 mil.
No caso específico das agfintechs, apenas no período de um ano (de 2023 para 2024), o aumento foi de 14,1%, conforme o Radar Tech. No final do ano passado, eram 97 em todo o território nacional, sendo que aproximadamente metade estava no estado de São Paulo.
Segundo o economista Wiliam Retamiro, de Jacareí (SP), estudioso do ramo, a expansão das agfintechs pode ser explicada por alguns motivos. O primeiro é que, por ter produtos de crédito voltados diretamente às necessidades agrícolas, elas desenvolvem maior expertise em fazer empréstimos de valores menores e, com isso, conseguem atender uma gama maior de agricultores, especialmente médios e pequenos – conforme o Banco Central, 85% dos pedidos de crédito no Brasil são negados em até 15 minutos e 70% do crédito rural do país, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), está atrelado a exigências demoradas e desconectadas da realidade do campo.
O segundo é uma maior previsibilidade financeira. Devido à proximidade estabelecida com os tomadores de crédito, é possível estudar, com profundidade, as condições de pagamento deles e, com isso, reduzir a inadimplência.
“No caso do setor agropecuário, temos observado um acesso maior da população à alimentação e a consequente busca de alimentos de melhor qualidade. Com desemprego em queda e crescimento econômico avançando, a tendência é que se busquem mais financiamentos”, afirma Retamiro. “Lamentavelmente, temos um fator que joga contra a economia, é que a alta taxa de juros”, completa.
O economista destaca, ainda, que várias empresas estão criando as próprias agfintechs, o que deve facilitar as etapas do negócio, como a venda de produtos. “As agfintechs podem possibilitar a formação de parcerias dentro dos próprios grupos e, com isso, gerar fidelidade de fornecedores e clientes”, declara Retamiro.
Crédito rural em cooperativa
Um exemplo recente dessa integração é a Coopercitrus, a maior cooperativa agrícola do Brasil, com sede em Bebedouro (SP), que lançou neste ano, durante a Agrishow, a Fincoop, para oferecer soluções financeiras aos seus mais de 42 mil cooperados.

De acordo com Simonia Sabadin, diretora financeira da Coopercitrus e CEO da Fincoop, a agfintech é um braço que estava faltando à cooperativa. “A Coopercitrus acaba tendo uma abrangência em todos os negócios, desde a preparação do solo até a captura dos produtos, como milho, soja e café, além da venda de máquinas e equipamentos. A gente precisava ter operações para ajudar os cooperados na parte financeira, muito importante também”, comenta.
Entre os objetivos da Fincoop, está o de oferecer condições diferenciadas em seguro rural, um dos grandes gargalos da produção nacional. “São condições de preço, assessoramento e centralização das apólices, para que o custo seja menor. Com isso, contribuir para suprir essa carência, que é geral no agronegócio brasileiro”, conta a diretora.
Perguntada sobre por que criar uma Fincoop, já que a Coopercitrus tem uma cooperativa de crédito rural ligada a ela – a Sicoob Credicitrus –, Simonia afirma que a proposta é que os serviços oferecidos pela agfintech sejam complementares. “A Credicitrus é um parceiro do sistema Sicoob e algumas operações precisam seguir as diretrizes do sistema. Já a Fincoop vem para atender demandas específicas, que não são conflitantes”, diz.
Escola para fintechs
Para Letícia Moschioni, co-fundadora da Finscale, escola de negócios para construção de fintechs, quando organizações do agro integram o movimento de fintechização, operam com mais eficiência, democratizando o acesso ao crédito — sobretudo para os pequenos produtores, que geralmente são submetidos a análises de perfil bastante demoradas.
Ela defende, também, que a criação de agfintechs contribui para otimizar o fluxo de caixa das organizações e para desburocratizar, por exemplo, solicitações de antecipação automática de recursos pelos agricultores e de acesso a linhas de crédito programadas. “Toda empresa que não é fintech pode se tornar uma. O próprio Banco Central incentiva isso. Existe uma evolução muito grande nesse mercado, de modo que criar uma fintech é muito mais fácil hoje do que um dia já foi”, afirma.
Letícia garante que é possível estruturar uma fintech e colocá-la em operação em um prazo de três meses. Para isso, a Finscale oferece, além de um programa de consultoria, capacitação profissional. No primeiro trimestre de 2025, teve um aumento de 150% no número de clientes e um faturamento 102% maior na comparação com todo o ano de 2024.
“Temos clientes em vários setores, inclusive no agro. Para cada um, mergulhamos na realidade dele, entendemos as movimentações do ecossistema em que ele está inserido e as oportunidades de fintechização: para onde quer ir, que rota pode tomar. Enfim, os atalhos para que lance produtos sustentáveis”, conclui Letícia.

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