Gente
Agricultores do RS: “crédito do BNDES acabou no primeiro dia”
Farsul pede mudanças ao Mapa e senadores querem convocar ministros para falar sobre as medidas de ajuda a agricultores gaúchos

Fernanda Farias | Porto Alegre | fernanda.farias@estadao.com | Atualizada às 22h17
11/10/2024 - 17:24

Em minutos, o dinheiro disponível na linha emergencial do BNDES para os produtores rurais atingidos pelas enchentes de abril e maio no Rio Grande do Sul acabou – R$ 420 milhões. Os relatos são de agricultores que procuraram as agências bancárias para negociar dívidas com as condições especiais da linha emergencial anunciada pelo governo federal e circularam durante a sexta-feira, 11, em redes sociais e grupos de mensagens. A informação também foi confirmada pela Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Um dos produtores é Lucas Scheffer, que planta soja em 1.500 hectares no município de Cacequi, na região central do estado. Com R$ 10 milhões em dívidas acumuladas das últimas três safras perdidas por conta do clima, a expectativa era conseguir acessar os recursos que foram anunciados pelo ministro Carlos Fávaro durante a Expointer, em agosto.
“Com a promessa dos recursos da linha do BNDES, ficamos na expectativa, mas o dinheiro acabou e atrasou ainda mais a situação”, conta ao Agro Estadão. Agora, decidiu aceitar as condições dos bancos mesmo com os juros entre 12% e 14%. Segundo o agricultor, não havia mais alternativas. “Pedi para o meu fornecedor de insumos liberar produto para plantar a próxima safra, mesmo devendo a passada, mas não deu”, desabafa ao Agro Estadão.
Scheffer espera a resposta do banco e, se for positiva, acredita que poderá iniciar o plantio de soja depois do dia 10 de novembro. Ele ainda lamenta que não poderá investir na lavoura, o que deve acabar derrubando a produtividade.
“Vamos tentar fazer um ‘feijão com arroz’ bem feito, como dizem aqui no Sul. Tentar plantar do jeito que dá, diminuir um pouco o adubo, economizar o máximo de diesel”, afirma. Os cortes também foram feitos em pessoal, pois dos seis funcionários, dois foram demitidos.


“Agricultores vão quebrar”, diz Farsul
O Fundo Social ressaltado pelo ministro da Agricultura como a salvação para os agricultores gaúchos endividados, tem cerca de R$ 20 bilhões. Porém, a legislação permite que somente 20% desse valor possa ser usado para capital de giro no caso de calamidade, como é o caso do Rio Grande do Sul, ou seja, apenas R$ 5 bilhões.
O economista-chefe da Farsul chama atenção que parte do dinheiro já foi acessado por micro e pequenas empresas (de todas as áreas) e, com isso, restam cerca de R$ 1,5 bi para ser disputado pelos produtores rurais.
“É pouco dinheiro para muita demanda. Por isso, estamos propondo uma alteração para que aumente de 20% para 80% o valor que pode direcionar. Isso significa aumentar de R$ 5 bi para R$ 16 bi”, explica Antônio da Luz ao Agro Estadão.
Da Luz conta ainda que a sugestão foi reforçada pelo presidente da Farsul, Gedeão Pereira, ao ministro Fávaro nesta semana. E, segundo ele, o ministro “demonstrou interesse em resolver o quanto antes”.
Porém, o prazo já é considerado ultrapassado pela entidade. “Se não houver uma solução imediata, não acredito que haverá mudança em área plantada, mas sim com menos tecnologia, porque o produtor não terá insumos. E outra parte importante da área vai mudar de mãos. Produtores pequenos vão ser substituídos por quem tem mais capital”, analisa o economista. Como resultado, ele prevê o pior: “agricultores vão quebrar porque não vão conseguir plantar”.
Senadores querem convocar ministros para se explicarem
A bancada do agro do Rio Grande do Sul e outros senadores ligados ao setor querem explicações de três ministros sobre as restrições nas renegociações do crédito rural no estado. Nesta sexta-feira, 11, foram protocolados na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, requerimentos para convocar os ministros da Agricultura e Pecuária, do Desenvolvimento Agrário e da Fazenda.
“Após a publicação de 13 normas, os obstáculos permanecem, especialmente em um momento em que os produtores já deveriam estar preparando a nova safra, mas se encontram sem crédito e, portanto, incapazes de retomarem suas atividades”, dizem os requerimentos assinados pelos senadores Luiz Carlos Heinze (PP/RS) e Tereza Cristina (PP/MS).
A expectativa é de que eles sejam votados a partir de segunda-feira, 14. “É urgente apoiar o campo neste momento em que desastres climáticos devastaram o país. O que vemos é um governo que, apesar de muitas promessas, não as efetiva. Esses empreendedores, que sustentam nossa economia e a segurança alimentar do país, merecem respostas e, acima de tudo, ações concretas”, afirma em nota a senadora Tereza Cristina.
Sugestões para o ministro da Agricultura
Outro documento foi encaminhado ao ministro Fávaro, também nesta sexta. Entre os pedidos está a sugestão da Farsul, de alteração da Portaria 916 que limita a destinação de recursos para financiamento para capital de giro, para aumentar o dinheiro do Fundo Social.
Também pede um apoio adicional de R$ 10 bilhões e aperfeiçoamento do Fundo Garantidor de Crédito. “Estou convencido de que tais modificações poderão trazer impacto positivo significativo ao setor agrícola gaúcho, promovendo o acesso ao crédito de maneira mais ampla e eficaz, permitindo, assim, a rápida retomada da capacidade produtiva dos produtores atingidos”, diz o documento assinado por Heinze.


O Agro Estadão procurou o Ministério da Agricultura e Pecuária e irá publicar a resposta assim que for recebida.
O BNDES informou que nesta sexta-feira foram aprovados R$ 412 milhões em 400 operações de capital de giro de agricultores do Rio Grande do Sul e que aguarda aporte de recursos para dar continuidade ao plano de contratação do Plano Emergencial.
O banco também informou que as medidas emergenciais do governo federal “permitiram ao BNDES movimentar, por meio de operações indiretas, cerca de R$ 15,6 bilhões em recursos para o estado do Rio Grande do Sul”.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Gente
1
ITR 2025: entrega da declaração já pode ser feita
2
Agricultor teme enterrar safra de manga após tarifa: ‘é desolador’, diz
3
Série Dia do Agricultor: entre perdas, produtor resiste no RS
4
Série Dia do Agricultor: enfermeira vira referência no cultivo de batata-doce
5
Curso gratuito forma profissionais para o mercado de panificação
6
Série Dia do Agricultor: após enchente, produtor recomeça no RS

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Gente
Curso gratuito forma profissionais para o mercado de panificação
Fundação Bunge conecta jovens em situação de vulnerabilidade a vagas em um setor com mais de 140 mil postos abertos

Gente
ITR 2025: entrega da declaração já pode ser feita
Qualquer pessoa ou empresa que tenha, use ou possua um imóvel rural, incluindo aqueles em usufruto, precisa declarar

Gente
Luís Adriano Teixeira é o novo presidente da Asbia
Médico veterinário vai administrar um setor em crescimento no país, que produziu, em 2024, 5,6% mais doses de sêmen bovino que no ano anterior

Gente
Agricultor teme enterrar safra de manga após tarifa: ‘é desolador’, diz
Produtor em Petrolina (PE) investiu cerca de R$ 630 mil para produzir 300 toneladas de manga com destino aos Estados Unidos
Gente
Série Dia do Agricultor: após enchente, produtor recomeça no RS
O agricultor Mauro Soares viu sua produção ser levada pela água em 2024. Hoje, ele comemora à retomada da rotina no campo
Gente
Série Dia do Agricultor: entre perdas, produtor resiste no RS
Leonardo Freitas, produtor de Santa Maria (RS), lembra dos prejuízos causados pelo clima extremo, mas mantém a confiança e a lavoura de soja
Gente
Cafeicultor vê tarifa dos EUA com apreensão
Apesar de os EUA terem parado de comprar momentaneamente, produtor aposta na escassez global para manter exportações em alta
Gente
Série Dia do Agricultor: enfermeira vira referência no cultivo de batata-doce
Com planejamento e inovação, a produtora Lucy Mara levou a batata-doce do interior paulista para o mercado mundial