Agropolítica
Fávaro anuncia 8 anos de prazo para renegociação de dívidas dos produtores rurais do RS
O ministro da Agricultura e Pecuária defende taxa de juros de 7%; definição com os bancos deve sair até a próxima segunda-feira
4 minutos de leitura 30/08/2024 - 14:20
Por: Fernanda Farias | Esteio (RS) | fernanda.farias@estadao.com | Atualizada às 19h33
O discurso mais esperado da abertura oficial da 47ª Expointer durou pouco mais de cinco minutos. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, havia prometido anunciar medidas robustas de ajuda ao agronegócio gaúcho. Mas o ministro disse que não iria elencar as medidas durante a cerimônia, e sim, em uma reunião logo após a abertura oficial da feira.
“Vamos sentar e tirar todas as dúvidas. Posso garantir a vocês. Não será o esperado, não será o sonho de todos os produtores, mas certamente serão medidas que permitirão a reconstrução com dignidade de todos os produtores” disse.
A reunião com representantes dos produtores rurais aconteceu durante quase duas horas e contou com a presença do ministro da Reconstrução do RS, Paulo Pimenta; do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e de Claudio Bier, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul e também do Sindicato das Indústrias de Máquinas (Simers).
Na saída, Fávaro confirmou o prazo de oito anos para o pagamento de dívidas aos produtores rurais afetados pelas enchentes. A ideia é que a carência seja de dois anos. Segundo ele, todos serão atendidos: produtores, cooperativas e cerealistas, que poderão acessar os recursos do Fundo Social para empresas, de R$ 15 bilhões.
O ministro reiterou que o Fundo Garantidor criado pelo governo federal diminui o risco das operações bancárias, por isso, a taxa de juros para novos financiamentos pode ser reduzida. “Já há um entendimento com os bancos, em Brasília, de que vai reduzir. […] O risco é o fundo garantidor. É o governo que está avalizando as operações. A gente vai pedir pra trabalhar com 7% juro máximo”, disse Fávaro a jornalistas após reunião com produtores e o governador do Rio Grande do Sul.
Uma taxa de juros entre 6% e 8% está dentro do que esperam pequenos, médios e grandes agricultores, conforme disseram os representantes do agronegócio gaúcho na saída do encontro.
O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, lembrou que o pleito do setor era de 15 anos para pagar com 3% de juros. Algo que o governo não consegue atender. ” O que o governo consegue executar? Dez anos ao redor, talvez um pouco menos, com taxa de juros plausível”, disse Pereira.
Questionado se o produtor prefere prazo ou juros mais baixos, ele foi categórico. “O produtor precisa de prazo. O juro um pouco lá [pra cima] ou aqui [pra baixo], ele vai resolver. Pensar que hj ele tá sem recurso pra plantar a próxima safra, ele já morreu. Isso vai dar vida ao produtor. Pq ele precisa exercer a sua atividade”, comentou.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, disse que “se tudo der certo”, entre 80% e 90% dos agricultores serão atendidos. “Temos até segunda para sensibilizar os bancos para jogar o spread pra baixo. Até segunda ainda tem chance de melhorar essa proposta”, comentou.
Medida virá por meio de Resolução do Conselho Monetário Nacional
O governo federal pretende enviar o texto ao Conselho Monetário Nacional (CMN) na segunda-feira, 2, para que saia uma Resolução complementar à Medida Provisória 1247, anunciada logo após as inundações.
O governador Eduardo Leite reconheceu a complexidade das medidas, pois cada produtor vive uma circunstância específica. “Mas está avançando. [a reunião] Foi um ambiente de maior satisfação, embora, obviamente os produtores estão pleiteando mais”, disse.
O presidente do Sistema Ocergs reconheceu o esforço dos ministros na construção das medidas. “É evidente que a gente gostaria de melhorar um pouco mais, mas acreditamos que foi um bom acordo dentro do possível”, disse Darci Hartmann.
Fávaro destacou recuperação do RS após enchentes
Fávaro chegou à Expointer no final da manhã desta sexta, 30. Na quinta, havia dito que não participaria por falta de avião e problemas logísticos em função da interdição do aeroporto de Porto Alegre, desde as inundações.
No discurso de abertura oficial da Expointer, o ministro destacou a recuperação do Rio Grande do Sul após as enchentes de maio que provocaram mais de 180 mortes e afetaram mais de 200 mil propriedades rurais.
“Meses dessa tragédia e a evolução, crescimento, essa feira que é símbolo da força da agropecuária. O povo gaúcho é sem sombra de dúvidas o mais resiliente. Nós tínhamos que estar aqui para dar o start da próxima safra, que Deus vai nos permitir que seja a safra da reconstrução e do bom começo”, discursou.
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