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Recuperação de nascentes ajuda no combate a queimadas em SP

Trabalho da bióloga Maria Inácia Macedo Freitas à frente da Superintendência de Meio Ambiente do município começou após uma pesquisa científica

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Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)

26/07/2025 - 08:00

Uma das nascentes recuperadas pelo trabalho liderado por Maria Inácia na zona rural de Colômbia (SP). Foto: Maria Inácia/Arquivo Pessoal
Uma das nascentes recuperadas pelo trabalho liderado por Maria Inácia na zona rural de Colômbia (SP). Foto: Maria Inácia/Arquivo Pessoal

Desde 2007, a bióloga Maria Inácia Macedo Freitas atua na Prefeitura de Colômbia (SP), onde assumiu a superintendência de Meio Ambiente e a coordenação da Defesa Civil em 2011. 

O município, de pouco mais de 6 mil habitantes, compõe a região de Barretos e faz divisa com Minas Gerais. Está separada de Planura (MG) pelo Rio Grande e, por isso, tem na pesca uma de suas principais atividades econômicas. 

Colômbia tem uma extensa área rural e conta com usina de açúcar e etanol, além da produção café, arroz, milho, algodão, batata, laranja, oleaginosas, flores, entre outras. 

Foi observando as dificuldades dos produtores na recomposição de áreas degradadas nas propriedades que Maria Inácia começou um trabalho de recuperação de nascentes, que envolve a busca de parcerias com sindicatos rurais, associações de produtores, entidades ambientais e comitês de bacias hidrográficas. 

“O homem e a mulher do campo não querem destruir a natureza. Afinal, dela sobrevivem e movimentam a economia local”, afirma. “No entanto, o produtor rural não tem muita voz e as legislações ambientais são criadas sem que se conheça a realidade do campo”. 

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Ela explica que, tão logo um problema é identificado, a mobilização para saná-lo começa imediatamente. “A gente utiliza todos os meios legais para que as leis sejam respeitadas e nossos filhos e netos tenham um mundo melhor, com mais consciência”. 

Como começou o trabalho de recuperação de nascentes nas áreas rurais de Colômbia (SP)? 

Maria Inácia é superintendente de Meio Ambiente e coordenadora da Defesa Civil de Colômbia (SP) – Foto: Maria Inácia/Arquivo Pessoal

Iniciei meu trabalho na Prefeitura de Colômbia em 2007. Paralelamente ao cargo público, realizei uma pesquisa científica de recuperação de uma nascente do Córrego da Bernarda, localizada na área urbana de Colômbia, o ponto de partida para o trabalho de educação ambiental junto aos produtores rurais. Percebi a dificuldade enfrentada no acesso às informações corretas, devido ao Brasil possuir várias legislações ambientais e ser muito pequena a divulgação para quem está na ponta. O homem do campo protege as nascentes, córregos e rios, que acabam sendo poluídos pela falta de saneamento das áreas urbanas. É importante dizer que muitas das áreas foram desmatadas por incentivo do Governo Federal nas décadas de 1970 e 1980, por medo da febre-amarela. Na época, se achava que, destruindo as matas, acabaria com o mosquito transmissor. Foi vendo, então, as dificuldades dos produtores na recuperação de áreas degradadas, o custo financeiro elevado para realizar as restaurações e sabendo que Colômbia, apesar de ser um município pequeno, tem uma extensão rural grande, que comecei as visitas nas propriedades. 

Como o trabalho de recuperação e preservação ambiental tem permitido agregar valor à produção agrícola da região? 

Visito a propriedade rural após constatar os prejuízos ambientais no local. Oriento os produtores sobre como podem fazer as regularizações sem o risco de serem autuados. Atualmente, várias resoluções ambientais facilitam o manejo adequado para a conservação das áreas de preservação permanente. Muitos dos problemas são causados pela ausência de vegetação nativa para preservação das nascentes  e dos corpos hídricos que se encontram em processo de erosão, causando assoreamento e crescimento de espécies invasoras agressivas, como capim angolano, napiê, taboas, colonião, leucenas, entre outras, introduzidas no Brasil para alimentação de animais. Esses fatores acentuam a ocorrência de enchentes nas épocas de chuvas, aumentando a degradação ambiental. A ausência da vegetação lindeira para proteger o solo e a redução das matas ciliares já provocaram grandes destruições após chuvas intensas em poucas horas, causando alagamento de estradas públicas e áreas agricultáveis, rompimento de barragens e de tanques de piscicultura. Sem água, não existe vida e nem produção de alimentos. A restauração das matas ciliares, a remoção das espécies invasoras, o desassoreamento de represas, córregos e nascentes e a reconstrução dos aterros das represas são essenciais para armazenamento de água no período chuvoso, para que seja utilizada no outono e no inverno, na irrigação das atividades agropecuárias, da agroindústria, saciar a sede dos animais e para combater as queimadas.

Por falar em queimadas, estamos entrando em uma época em que os riscos aumentam. Em 2024, tivemos uma situação bastante séria em todo o estado de SP. Como vocês têm se mobilizado para evitar um cenário parecido? 

Como representante da Defesa Civil de Colômbia, participo de reuniões no Sindicato Rural desde 2010 para debater meios de aumentar o controle efetivo das queimadas e evitar a propagação dos incêndios. O fogo no campo representa prejuízo ambiental, econômico e para a saúde humana. Após este trabalho de aproximadamente 15 anos, atualmente quase todas grandes e médias propriedades possuem brigadas de incêndio. E agora estamos orientando pequenos produtores. Estamos criando mecanismos de orientação e capacitação para implantar o Plano Ação Mútua no combate aos incêndios em Barretos e região. Para isso acontecer, é necessária a mobilização da sociedade civil, do Sindicato Rural e das Defesas Civis de Barretos, Colina, Colômbia e Jaborandi. Somos um bloco só, porque o fogo não tem fronteira. Ele sai de Colômbia, passa para Barretos e assim por diante. E temos que entender que, em todas essas cidades, o PIB vem da zona rural. O fator primordial no combate efetivo é a resposta rápida, ou seja, avaliação da propagação do fogo e ter equipamentos adequados. Estamos empenhados, também, em conseguir licenças ambientais específicas para remover as vegetações exóticas que crescem nas áreas de preservação, por causa do seu alto poder de combustão. 

Outro problema grave enfrentado pelos produtores é o ataque de javalis. Recentemente, o governo paulista reconheceu o animal como praga. Como tem sido a atuação para combater o problema em Colômbia? 

javali
Javalis se reproduzem sem controle e oferecem riscos, principalmente em áreas próximas a matas – Foto: Acervo/ICMBio

Espécies exóticas como javalis e javaporcos — cruzamento do porco doméstico com o javali — foram introduzidas no Brasil para produção de carne. Após escaparem de cativeiros, se reproduziram sem controle. Com poucos predadores, eles avançam, principalmente, em áreas próximas a matas, revirando nascentes, destruindo plantações de milho, soja, feijão, mandioca e cana-de-açúcar. Enfim, causam grandes danos. Esses animais andam em grupos numerosos, pisoteiam os cultivos e transmitem doenças, gerando prejuízos que podem ultrapassar milhares de reais em uma única noite. Cercas elétricas são instaladas, mas não em todas as áreas. Além disso, elas podem ser rompidas por esses animais, que também cruzam vias públicas e podem causar acidentes com humanos. No município de Colômbia, há pessoas credenciadas para abater estes animais. Mas, infelizmente, é como retirar um grão de areia do litoral.

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