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Sustentabilidade

Uso de herbicida no Brasil mais que dobrou em 10 anos, aponta Embrapa

Pesquisador indica alternativas para diminuir o uso e evitar super plantas daninhas no futuro

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Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com | Atualizada em 16/07/25 às 11h09

15/07/2025 - 09:42

Foto: Adobe Stock
Foto: Adobe Stock

A utilização de herbicidas nas lavouras brasileiras aumentou 128% entre 2010 e 2020. O levantamento foi feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a Universidade de Rio Verde (UniRV). Os dados revelaram que em 2010 o volume de herbicidas vendidos foi 157,5 mil toneladas. Já no final da década passada, esse número chegou a 329,7 mil toneladas. 

A pesquisa aconteceu a pedido do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que foi questionado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), sobre o aumento do uso de agrotóxicos, como conta o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Sérgio Procópio. “O ministério nos procurou para que a gente fizesse uma análise das principais causas do que estava acontecendo nesse sentido, até para dar uma resposta internacional. E essa classe dos agrotóxicos, os herbicidas, é a principal no Brasil em termos de comercialização”. 

CONTEÚDO PATROCINADO

O estudo também analisou as moléculas mais utilizadas e os motivos para o uso. Uma característica chave é o uso do glifosato. Segundo o pesquisador, a agricultura brasileira adotou esse herbicida como a principal ferramenta de controle das plantas indesejadas. As tecnologias que foram se desenvolvendo também caminharam nessa direção, como o surgimento de variedades de culturas comerciais resistentes ao glifosato. Porém, o uso contínuo acelerou o processo de seleção das plantas daninhas tolerantes ou resistentes à molécula. 

“O glifosato representa mais de 30% de todos os agrotóxicos vendidos no Brasil, não só herbicidas”, comenta Procópio. Ele ainda lembra que outros produtos foram surgindo para combater essas plantas mais resistentes, mas não houve uma troca. “O glifosato não saiu, não ocorreu uma substituição. Ocorreu uma complementação. Então, o agricultor, ao invés de usar um ingrediente ativo, ele usa dois, três, às vezes quatro ingredientes ativos diferentes para fazer essa complementação com foco nas plantas resistentes e tolerantes ao glifosato”, diz o pesquisador. 

Algumas das moléculas que tiveram maior crescimento foram:

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  • cletodim: 2.672%;
  • triclopir: 953%;
  • haloxifope: 896%;
  • diclosulam: 561%;
  • flumioxazina: 531%;
  • glufosinato: 290%;
  • 2,4-D: 233%.
Pesquisa aconteceu a pedido do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Como diminuir o uso dos herbicidas?

O pesquisador também aponta algumas ações, tanto no âmbito governamental e de mercado como no âmbito do produtor, para viabilizar a redução no uso dos herbicidas. 

Controle físico

Controle físico está relacionado a forma de manejo. Ele cita o exemplo do consórcio milho-braquiária. Basicamente, se planta o capim junto com o milho. Após a retirada do milho, a braquiária serve como revestimento para o solo, evitando que as sementes das plantas daninhas germinem no período da entressafra. 

Outro exemplo é o uso de pulverizadores com sensores de presença que fazem uma aplicação mais assertiva e direcionada. Além disso, há alternativas como equipamentos à base de laser e à base de água fervente com espuma selante, propostas ainda pouco utilizadas no Brasil. 

Bioherbicidas e nanoformulações 

Procópio indica que o país precisa avançar na formulação de bioherbicidas. Apesar do uso dos biológicos ter crescido, ainda há pouca oferta no mercado para esse tipo de bioinsumo. Ele revela que a Embrapa Meio Ambiente está trabalhando em um bioherbicida à base de fungo para o controle das espécies de corda de viola. 

Uma das características de alguns desses produtos é a especificidade na ação. De acordo com o pesquisador, isso não é uma barreira para os bioherbicidas, já que o desenvolvimento dessas alternativas para cinco ou seis plantas daninhas já traria impacto significativo. 

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“Se a gente tivesse um bioherbicida específico para buva, poderia trazer uma economia de 15% a 20% no uso de herbicida químico. Porque só essa planta demanda toda uma inclusão de mais de um herbicida por causa dela”, afirma o especialista. Além dessa, ele cita a vassourinha de botão, a trapoeraba, o capim pé-de-galinho, o capim-amargoso e o caruru como as daninhas mais comuns que requerem dois ou mais herbicidas para o controle.

Ele explica que há também soluções biológicas, à base de ácidos ou óleos essenciais, já desenvolvidas em outros países sem ação seletiva. Procópio aponta ainda que a área de desenvolvimento de nanoformulações também pode expandir no Brasil. 

Incentivo ao produtor

Outra ação sugerida pelo pesquisador é o de desenvolver uma bonificação para os produtores que diminuírem o uso dos herbicidas químicos. “Eu acho que deveria ter uma política pública, onde esse agricultor se cadastrasse, colocasse o manejo, a comprovação dos agrotóxicos, e se ele realmente tem uma eficiência maior, ou seja, ele produz alimento usando menos, lançando menos agrotóxico no ambiente, deveria ter uma política de certificação, de premiação e remuneração”, defende. 

O que dizem as empresas do setor de defensivos agrícolas

A CropLife, uma das associações que representa empresas do setor de defensivos agrícolas, se manifestou em nota dizendo que embora os dados indiquem um aumento no uso de herbicidas, o Brasil mantém um elevado padrão de eficiência quanto ao manejo e ao uso adequado de agroquímicos.

Para a associação, o desenvolvimento de novas moléculas com menores impactos ambientais e toxicológicos, o aprimoramento da seletividade e a redução das dosagens estão entre as principais iniciativas para diminuir riscos e promover o uso consciente de agrotóxicos.

“A CropLife destaca a necessidade de priorizar e dar celeridade na avaliação técnico-científica de novas moléculas, fundamentais para enfrentar a resistência crescente de pragas. Para isso é fundamental que haja conscientização da importância dos órgãos reguladores na análise dessas tecnologias”, afirma a nota à imprensa.

A entidade também reforçou que tem compromisso com a ciência como base das decisões regulatórias, além de ressaltar “seu compromisso com a inovação responsável, a sustentabilidade e a segurança alimentar global”.

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