Inovação
Drones reduzem custos e tempo em pesquisa sobre milho resistente à seca
Pesquisa da Embrapa coleta informações ao longo da cultura para simular o desempenho da lavoura em diferentes condições climáticas; drone agiliza obtenção de resultados

Paloma Custódio | Brasília
22/01/2025 - 08:00

Pesquisadores brasileiros desenvolveram uma metodologia inovadora para acelerar a seleção de plantas de milho geneticamente modificadas para resistir à seca e, assim, reduzir os custos operacionais do processo. A técnica utiliza drones equipados com câmeras RGB (um tipo de sensor) para capturar imagens dos experimentos de campos, convertendo-as em indicadores sobre a saúde das plantas. Dessa forma, é possível identificar mais rapidamente os exemplares mais promissores e simular seu desempenho em diferentes condições climáticas, tornando o processo de seleção mais eficiente e preciso.
O estudo foi conduzido por pesquisadores do Centro de Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC), uma parceria entre a Embrapa e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Ao Agro Estadão, a pesquisadora da Embrapa Agricultura Digital Juliana Yassitepe — uma das autoras do trabalho — explicou que, tradicionalmente, a seleção de plantas mais produtivas e tolerantes à seca é realizada após a colheita dos grãos, em experimentos onde houve condições de seca ou estresse hídrico. Também é possível usar equipamentos de análises fisiológicas que medem o status hídrico da planta, indicando quais são mais tolerantes à seca e quais são mais sensíveis.
“No entanto, esses equipamentos são caros e de difícil manuseio. Usando imagens capturadas por drones, podemos coletar informações ao longo do ciclo da cultura, de forma dinâmica, e não apenas no final do ciclo, na época da colheita. Usando modelos estatísticos e computacionais, é possível extrair dados das imagens e convertê-los em índices vegetativos, que são correlacionados com as características das plantas, como altura, tempo de florescimento e produção de grãos”, detalha.
Segundo a pesquisadora, outra vantagem dessa metodologia é poder acompanhar a resposta dinâmica da planta ao longo do tempo. “Como a seca é imprevisível, não sabemos quando irá acontecer e nem com qual intensidade. Com o uso de imagens coletadas por drones, podemos fazer esse monitoramento ao longo do tempo”, explica.
Juliana Yassitepe também ressalta que a metodologia permite predizer o comportamento das plantas em diferentes ambientes sem que seja necessário o plantio do experimento.
Metodologia é aliada diante das mudanças climáticas
Diante das constantes mudanças climáticas, com calor e secas cada vez mais severos no Brasil, a pesquisadora Juliana Yassitepe afirma que o agro tem tido dificuldade para prever quando, onde e com que intensidade haverá esses fenômenos.
“Desenvolver variedades de plantas tolerantes à seca é imprescindível, no entanto, uma tarefa difícil. A metodologia usada neste estudo facilita a coleta de informações e ajuda na identificação das variedades mais produtivas em condições de seca”, ressalta.
Redução dos custos e maior eficiência com drones
Na análise dos pesquisadores do GCCRC, a metodologia foi capaz de reduzir o custo de seleção das plantas de milho geneticamente modificadas para resistir à seca. Conforme explicou Yassitepe à reportagem, há uma queda significativa nos custos de mão de obra.
“Para aplicar essa metodologia, é necessário uma pessoa voando com o drone e processando as imagens, no entanto, essa pessoa precisa ter um conhecimento técnico especializado. Usando metodologias convencionais, é necessário várias pessoas medindo a altura das plantas no campo, o tempo de florescimento, colhendo as espigas e pesando os grãos para estimar a produção”, detalha.
A técnica também permite a realização de estudos em áreas menores, o que é bastante útil em projetos com recursos limitados. Como o drone permite voos baixos, é possível obter imagens de alta resolução e testar mais variedades de milho em uma mesma área.
A pesquisadora da Embrapa destaca que, embora a técnica tenha sido desenvolvida para o cultivo de milho, a metodologia também pode ser adaptada para qualquer cultura, como soja, algodão, entre outras.
Aplicação dos resultados
Os resultados do estudo foram publicados na revista The Plant Phenome Journal e já podem ser usados em qualquer programa de melhoramento de plantas, independente da escala, seja público ou privado.
Segundo Yassitepe, os agricultores também poderiam se beneficiar do uso de imagens captadas pelos drones para identificação de plantas com sintomas de estresse hídrico no campo e, com isso, realizar um melhor manejo da irrigação e do uso da água.
“É possível adaptarmos essa metodologia para isso, mas é necessário desenvolvermos aplicativos para que os agricultores usem de forma amigável, sem ser necessário a etapa de análise dos dados, que é uma tarefa realizada por pesquisadores”, ressalta.
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