Inovação
Embrapa lança biofungicida para vários tipos de podridão
Vantagens sobre os fungicidas químicos vão desde um efeito residual de longa duração até aumento de produtividade
Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
29/07/2025 - 08:00

Agricultores brasileiros vão ganhar mais uma ferramenta para controle de fungos de solo que causam diferentes tipos de podridão de raízes e caule. Nomeado como Eficaz Control, o biofungicida é feito à base de duas bactérias, sendo uma com aplicação inédita com essa finalidade.
O produto é fruto de uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Simbiose, empresa gaúcha de desenvolvimento de produtos biológicos. O lançamento oficial deve ser feito durante o Congresso da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), que será em São Paulo (SP), entre os dias 5 e 7 de agosto.
Como explica o pesquisador Rodrigo Veras, da Embrapa Milho e Sorgo, o novo produto é focado em diferentes patógenos fúngicos causadores de diferentes doenças. É o caso da podridão de fusarium (fungos do gênero Fusarium spp.), da podridão do carvão (fungo Macrophomina phaseolina) e antracnose (fungo Colletotrichum graminicola e outros fungos do gênero).
Apesar de ser recomendado para culturas mais conhecidas, como soja, milho e algodão, o biofungicida não tem restrições para outras plantas, já que o foco é controle dos fungos. “Toda cultura que for afetada por esses patógenos podem utilizar o produto”, comentou.
Qual a vantagem sobre os fungicidas químicos?
De acordo com Veras, há pelo menos dois aspectos que conferem um diferencial ao novo bioinsumo. Um deles está relacionado ao fator residual. Enquanto os fungicidas tradicionais atuam, geralmente, por 15 a 18 dias, as bactérias presentes no biofungicida ficam durante todo o ciclo da planta.
“Por exemplo, você faz um tratamento com um fungicida na semente, ele é efetivo. O produto vai inibir o crescimento de fungos, mas a proteção é por um tempo. Após esse período, as raízes ficam expostas de novo. […] O que a gente tem observado é que, usando o produto biológico, esse período é muito prolongado, porque as bactérias não perdem efetividade. Elas continuam se multiplicando e protegendo a cultura durante todo o seu ciclo”, acrescentou o pesquisador.
Além disso, assim como os defensivos tradicionais, a aplicação do produto pode ser feita no tratamento da semente antes do plantio ou no momento da semeadura, no sulco feito no solo. É utilizado só uma vez, ou seja, não exige reaplicação.
Outro ponto é com relação à produtividade. Os testes demonstraram um desempenho que influencia na produção. “Na soja, a gente tem observado que há um aumento de produtividade entre três a cinco sacas por hectare quando utilizado o produto em comparação com o fungicida químico”, completou.
Do que é feito o novo biofungicida?
A composição do produto tem duas bactérias que atuam de forma complementar. A Paenibacillus ottowii, encontrada no Cerrado, é uma cepa em que os estudos para essa finalidade são relativamente novos, do início da década de 2010. Veras aponta que é a primeira vez que ela é utilizada em um produto biológico.
Já a companheira se trata é uma bactéria mais conhecida, a Bacillus velezensis. “Elas têm um perfil de produção de compostos antifúngicos diferentes e complementares. Então, isso garante a esse produto uma efetividade muito grande”, ressaltou o especialista da Embrapa.
Dentro da parceria, a estatal entrou com a parte da pesquisa e seleção das cepas utilizadas no produto, enquanto a Simbiose começou a partir de 2020, para fazer a formulação comercial, já na etapa de finalização.
Novos rumos da pesquisa
Como contou Veras à reportagem, o lançamento do biofungicida é a primeira entrega da pesquisa, mas não deve parar por aí. Segundo ele, os estudos para identificar outros fungos que podem ser controlados também já tiveram início. Além de que os pesquisadores têm verificado outros potenciais usos.
“A gente tem observado que esse produto tem apresentado boa eficiência no controle de nematoides, que não são fungos, mas são microrganismos que vivem no solo e que são um grande problema na agricultura do Cerrado. E, além disso, tem um outro aspecto, e esse a gente já tem bastante informação: essas espécies de bactérias produzem outros compostos que são promotores do crescimento, ou seja, são hormônios, alguns tipos de hormônios ou solubilizadores que promovem melhorias para a planta. Então, além de inibirem a ação de patógenos, eles promovem o crescimento da planta”, indicou o pesquisador.
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