Sustentabilidade
Amazônia ganha centro para pesquisas em recuperação de áreas degradadas
Com investimento de R$ 14 milhões, unidade da Embrapa reúne mais de 100 pesquisadores e será referência em soluções de recuperação ambiental

Redação Agro Estadão
04/06/2025 - 15:01

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou um centro de pesquisa dedicado ao desenvolvimento de tecnologias para recuperação de áreas desmatadas e degradadas na Amazônia. Com investimento de R$ 14 milhões, a unidade reúne mais de 100 pesquisadores de 33 instituições do Brasil e do exterior, entre universidades, órgãos governamentais, ONGs, empresas privadas e coletivos locais.
O Centro Avançado em Pesquisas Socioecológicas para a Recuperação Ambiental da Amazônia — ou “Capoeira”, como foi batizado pela equipe — tem foco na restauração produtiva e ecológica, por meio de pesquisas e experimentações voltadas ao desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, em temas como sistemas agroflorestais, conservação do solo e da água, recuperação da vegetação nativa e adaptação de práticas produtivas ao contexto amazônico.
Em funcionamento desde maio, a unidade atua de forma virtual (integrando instituições, laboratórios e grupos de pesquisa), e também presencial, na sede da Embrapa Oriental, em Belém (PA), e por meio da criação de “laboratórios vivos” (living labs), espaços de trocas de experiências e conhecimentos entre pesquisadores e a comunidade. Eles serão localizados em três territórios amazônicos, onde já existem trabalhos sendo desenvolvidos:
- Santarém, no Oeste do Pará, com destaque para a Floresta Nacional (Flona) do Tapajós, a Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns e assentamentos rurais;
- Mosaico do Gurupi, região formada por Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas no Pará e Maranhão;
- Nordeste Paraense, abrangendo municípios como Bragança, Capitão Poço, Irituia, Paragominas e Tomé-Açu, região de colonização mais antiga do estado.
“A proposta do Capoeira é ir além da produção de ciência de excelência. Buscamos também articular e promover uma transformação positiva na região, substituindo a cultura da destruição pela da restauração”, informou Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa e coordenadora do centro, em comunicado publicado pela estatal.
O nome “Capoeira” é uma referência à vegetação que cresce em uma área que foi anteriormente desmatada, chamada de vegetação secundária. A Amazônia já perdeu 18% (846.000 km²) da área de florestas, segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). O espaço equivale quase à totalidade do estado de Mato Grosso.

O projeto foi aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no âmbito do edital Centros Avançados em Áreas Estratégicas para o Desenvolvimento Sustentável da Região Amazônica, o Pró-Amazônia.
De acordo com a Embrapa, os pesquisadores vão analisar dados de mais de 100 sítios de estudo em diferentes estados da Amazônia Legal. As áreas correspondem a iniciativas de restauração em locais com florestas secundárias, florestas primárias degradadas, áreas com Sistemas Agroflorestais (SAFs) e restauração de sistemas aquáticos.
Nesses locais, serão avaliados estoques ou incremento de carbono, e recuperação da biodiversidade, resultantes do tipo de restauração aplicado. As iniciativas de restauração podem envolver regeneração natural da vegetação; regeneração natural assistida (quando se enriquece a área com plantios de espécies nativas e outras práticas de manejo); e regeneração por meio de plantio total ou semeadura direta, quando a cobertura do solo já é praticamente inexistente.
Os SAFs, segundo estudos pontuais do grupo da pesquisadora Joice Ferreira, são as estratégias de recuperação mais estudadas na região (37,88%), seguidas pela regeneração natural (30,35%) e plantios florestais (19,55%).
“A maioria desses estudos é pontual e existem lacunas de conhecimento sobre a restauração em importantes aspectos, como as questões socioeconômicas e culturais. O Centro surge, portanto, como uma iniciativa que visa desenvolver estudos mais integrativos, abordando diferentes aspectos da restauração, sejam eles ecológicos, sociais, culturais, econômicos e outros”, detalhou a coordenadora do Centro.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
Governo reconhece falhas no Plano Clima e pode mudar texto
2
Moratória da Soja: debate de leis no STF preocupa mais que decisão do Cade, diz especialista
3
Fim da Moratória da Soja opõe ministérios da Agricultura e Meio Ambiente
4
O que é vazio sanitário na lavoura?
5
BNDES lança programa de R$ 60 milhões para bioinsumos na agricultura familiar
6
Cade suspende Moratória da Soja e abre processo contra exportadores

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Sustentabilidade
Nestlé chega a 3,8 mil propriedades em programa de café regenerativo
Segundo a empresa, fazendas participantes do programa conseguem, em média, produtividade 60% maior que as demais

Sustentabilidade
1ª ligação de fornecimento de biometano do País é inaugurada no interior de SP
Presidente Prudente será o primeiro município a receber o gás renovável: obras do gasoduto estão 80% concluídas, segundo o governo paulista

Sustentabilidade
Voçoroca: entenda fenômeno que engole bairros inteiros no Brasil
De São Paulo ao Maranhão, a voçoroca ameaça lavouras, comunidades e o principal ativo do produtor rural: o solo

Sustentabilidade
Governo cria incentivo para produção de bioinsumos pela agricultura familiar
Portaria publicada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) prevê rede de pesquisa e disponibilização de linha de crédito
Sustentabilidade
De lixo a energia: no Ceará, sistema transforma resíduos da Ceasa em biogás
Tecnologia desenvolvida pela Embrapa e a Universidade Federal do Ceará tem potencial para ser adotado nas 57 centrais de abastecimento do País
Sustentabilidade
Agro terá R$ 30,2 bi para restaurar áreas degradadas
Programa do Mapa, Caminho Verde Brasil, começa com meta de recuperar até 3 milhões de hectares com uso sustentável
Sustentabilidade
Setor sucroenergético celebra decreto que impulsiona uso do biometano
Novo marco regulatório prevê início de programa de biometano em 2026
Sustentabilidade
Confundida com mosca, essa abelha ajuda a manter vivo o ciclo das orquídeas
Apesar de solitárias, as abelhas azuis garantem a reprodução de plantas nativas, mas correm risco ao serem confundidas com moscas