Sustentabilidade
Brasil registra mais de 80 mil focos de queimadas de janeiro a agosto
Bioma Amazônia lidera ranking; ONG desenvolve projeto para auxiliar setor agropecuário na prevenção e combate a incêndios
4 minutos de leitura 16/08/2024 - 09:47
Por: Rafael Bruno | São Paulo | rafael.bruno@estadao.com
No acumulado deste ano, de janeiro à primeira quinzena de agosto, o Brasil registra mais de 82,8 mil focos de queimadas, um aumento de 42,3% em comparação com igual intervalo de 2023. Entre os cinco estados com mais casos, em igual período, Mato Grosso segue liderando as ocorrências, com 15,5 mil focos, seguido por Pará (10,7 mil), Amazonas (9,5 mil), Mato Grosso do Sul (7,8 mil) e Tocantins (6,3 mil).
Por Biomas, Amazônia tem o maior número de registros no período, com 39,31 mil focos, conforme o Banco de Dados de Queimadas (BDQueimadas), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Na sequência, aparecem Cerrado (26,1 mil), Mata Atlântica (7,3 mil), Pantanal (7,1 mil), Caatinga (2,5 mil) e Pampa (2,6 mil).
Queimadas e o alerta no campo
“São números que servem de alerta, seja para o ambiente, seja para os negócios de empresas que atuam com ativos naturais expostos a riscos ampliados por um clima cada vez mais sujeito a extremos”, explica a diretora geral da ONG Aliança da Terra, Caroline Nóbrega.
A diretora da organização, que desenvolve projetos para auxiliar na proteção do meio ambiente em harmonia com a produção agropecuária, ressalta que diante do cenário de chuvas abaixo do previsto e vegetação mais seca, o potencial de risco é ainda maior para alguns segmentos agroindustriais, como no caso do setor de florestas plantadas e nas culturas de milho, cana, algodão e até mesmo nas pastagens utilizadas na pecuária.
Entre as ações voltadas ao agro, Nóbrega destaca cinco pilares:
- Planejamento
- Prevenção
- Detecção precoce
- Resposta rápida e qualificada
- Análises e resultados
“O planejamento, por exemplo, é uma arma poderosa e deve contemplar inclusive as áreas agronômicas, que precisa, desde o plantio, considerar variáveis como direção mais frequente dos ventos ou a divisão dos talhões de forma a reduzir o risco dos incêndios e a permitir acesso rápido de brigadistas e equipamentos”, pondera Caroline.
A fim de auxiliar o setor na prevenção e combate a incêndios e outras emergências, a Aliança da Terra desenvolve o projeto Brigada Aliança, um programa que atua em áreas rurais e oferece treinamento voluntário de combate a incêndios por meio de uma equipe de especialistas, engajando comunidades locais, produtores rurais e pecuaristas.
“O trabalho com produtor rural normalmente é feito com grupos de produtores e esse grupo viabiliza o orçamento de uma brigada, geralmente formada por cinco brigadistas, sendo um líder altamente treinado e capacitado, e eles vão atuar principalmente em três frentes, prevenção, monitoramento e combate”, contextualiza a diretora ao Agro Estadão.
Caroline explica que inicialmente esse grupo de brigadistas percorre as propriedades da região para avaliar a situação local, as vulnerabilidades e fazer um reconhecimento dessas áreas para depois elaborar um plano de atuação. Esse trabalho é desenvolvido na chamada pré-temporada, que antecede os meses mais críticos de incêndios florestais. “Depois que inicia a temporada, a época dos combates, a gente começa a fazer o monitoramento de focos de calor por imagem de satélite. A gente tem esse monitoramento em tempo real, durante o dia, madrugada […] em caso de qualquer foco de calor essas equipes são automaticamente acionadas, além disso, a gente também faz um monitoramento terrestre através da locomoção das equipes”.
A especialista ainda ressalta a demora, em muitos casos, quanto à notificação dos incêndios, que leva horas, às vezes dias, fato que compromete a atuação das equipes. “Esse é um dos principais fatores de dificuldade no combate, então o quanto antes uma equipe pode ser acionada e pode responder e já iniciar o combate de imediato, mais rápido e mais fácil se torna. Quando a gente já tem um fogo que se estende, às vezes por dias, a situação fica muito complicada. Tem casos que para poder conseguir finalizar um combate, foram mais de sete dias de trabalho”, comenta ao Agro Estadão.
Quanto aos resultados obtidos, Nóbrega destaca que, apesar de inúmeros fatores de ponderação, a resposta tem sido positiva. ” Depende muito do engajamento, do envolvimento dos proprietários, dos produtores rurais ali envolvidos, mas temos bons exemplos, como quando a gente atuou no Pantanal, em 2021 e 2022, nós conseguimos uma redução de 97%, em média, na área queimada nas fazendas monitoras. Esse é um resultado muito bom, porque a gente teve um grande envolvimento dos produtores, um ótimo resultado”, exemplifica.
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