Pecuária
Brasil e Japão vão testar soluções para recuperar pastagens degradadas
Iniciativa busca, por meio da ciência, criar estratégias sustentáveis para transformar áreas improdutivas em solos férteis
Redação Agro Estadão*
08/08/2025 - 12:26

Um projeto que reúne pesquisadores do Brasil e do Japão vai começar a testar, no Cerrado, soluções para recuperar áreas de pastagens degradadas. A iniciativa está em fase inicial, chamada de “prova de conceito” — um momento de experimentação, em que os cientistas avaliam, na prática, se as ideias propostas funcionam e podem ser aplicadas em larga escala. A meta é contribuir para que milhões de hectares de áreas improdutivas sejam transformadas em solos produtivos e sustentáveis.
Liderado pela Embrapa Cerrados, o projeto é desenvolvido em parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), o Centro Internacional de Pesquisa do Japão para Ciências Agrícolas (Jircas) e a Universidade de Hokkaido. A proposta combina imagens de satélite, análises do solo e modelos preditivos — ferramentas que simulam cenários futuros — para ajudar na escolha das melhores estratégias de recuperação das pastagens.
A partir de abril de 2026, os pesquisadores pretendem ampliar a articulação com outras unidades da Embrapa, como a Embrapa Agricultura Digital, com o objetivo de consolidar um projeto de cooperação técnica de longo prazo, com duração prevista de dez anos.
No horizonte dessa nova fase, está o monitoramento contínuo das mudanças no solo e das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A proposta inclui o acompanhamento químico, biológico e físico da saúde do solo, a avaliação dos impactos da degradação na emissão de GEE e a aplicação de técnicas de recuperação. As áreas que servirão como Unidades de Referência Tecnológica (URT) ainda estão sendo definidas.
O projeto está estruturado em quatro grandes pilares. O primeiro foca na identificação e monitoramento das áreas degradadas, com coleta de amostras, análise de imagens de satélite, levantamento de tecnologias de recuperação, implantação de URTs, avaliações econômicas e produção de dados. A Embrapa lidera essa etapa, com apoio de pesquisadores japoneses.
O segundo pilar trata do desenvolvimento de um sistema de apoio à tomada de decisão, inclusive por parte de órgãos governamentais, indicando onde investir e quais tecnologias utilizar. O terceiro envolve ações de transferência de tecnologia, assistência técnica, extensão rural (Ater) e facilitação do acesso ao crédito por produtores. O quarto pilar é voltado ao desenvolvimento de novas tecnologias, que ocorre em paralelo às demais frentes.
Originalmente, o projeto previa o monitoramento da intensificação agrícola e da recuperação de pastagens no Cerrado por meio de dados de satélite ALOS-4, disponibilizados pela Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa). Ao longo do processo, o modelo foi ampliado e passou a incluir novas linhas de pesquisa, como a análise da dinâmica do carbono e uso do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para simulação de cenários de mudanças climáticas no longo prazo.
Nova métrica avalia equilíbrio entre fungos e bactérias no solo
Um dos focos da pesquisa é propor um novo indicador de saúde do solo, a ser integrado à tecnologia BioAS, já utilizada em escala comercial desde julho de 2020 e desenvolvida pela equipe liderada pela pesquisadora Ieda Mendes na Embrapa Cerrados.
“Para o indicador de saúde do solo já existente, baseado na atividade enzimática, nossa proposta é acoplar a relação fungo-bactéria”, afirmou Shoichiro Hamamoto, professor da Universidade de Hokkaido. Segundo ele, estudos mostram que o tipo de manejo adotado afeta essa proporção, impactando a retenção de carbono e a ciclagem de nutrientes.
O novo indicador também deverá ser integrado a um modelo que traga previsibilidade para o manejo do solo com base em métricas. “O objetivo é que esse indicador e esse modelo de previsibilidade possam ser combinados a avaliações da saúde dos solos por satélite e a análises socioeconômicas, de forma a serem aplicados em áreas de pastagens degradadas e também de sistemas integrados, como ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) e ILP (Integração Lavoura-Pecuária)”, explicou Hamamoto.
A pesquisadora Ieda Mendes destacou a importância de unir informações de campo e de satélites para uma análise mais precisa da saúde do solo. “Ao juntarmos, aos levantamentos em campo, as informações geradas por satélites na análise da saúde dos solos, e identificarmos novas tecnologias para recuperação, pretendemos contribuir para que os atuais 40 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil possam se transformar em áreas de solos saudáveis e produtivos.”
*Com informações da Embrapa
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