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Pecuária

Quem paga a conta da rastreabilidade bovina? Especialistas veem adaptação inevitável, mas lenta

Com o maior rebanho do mundo e promessa de identificação individual, Brasil tem desafios no custo e na inclusão de pequenos produtores

Nome Colunistas

Daumildo Júnior* | Cuiabá (MT) | daumildo.junior@estadao.com

30/10/2025 - 18:04

Uma das questões que esquentam o debate é sobre quem vai assumir os custos do brincos dos animais. Foto: Adobe Stock
Uma das questões que esquentam o debate é sobre quem vai assumir os custos do brincos dos animais. Foto: Adobe Stock

Por trás de uma inovação, há sempre o questionamento de quem vai pagar a conta no final. Não é diferente no caso do Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB), lançado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) no ano passado. A meta do programa é ousada: ter o maior rebanho comercial do mundo rastreado de forma individual até 2033. 

No caso do Brasil, a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) é de que o país tem mais de 238 milhões de cabeças de gado. A maior parte dos criadores é de pequenos, e os diferentes elos da cadeia de produção também não favorecem o dinamismo para implementar o programa. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vê que a inclusão desses produtores é o maior desafio, além dos próprios custos. 

CONTEÚDO PATROCINADO

“A partir do momento em que for implementado, vai ser o maior programa de rastreabilidade do mundo. E há diferentes sistemas de produção. Esses animais precisarão passar pelo curral para receber o brinco [identificador individual]. O desafio é que cada propriedade tem um nível diferente de tecnologia e estrutura — e muitos produtores ainda estão tomando ciência dessa exigência”, comentou, à reportagem, o assessor técnico de Bovinocultura de Corte da CNA, Rafael Lima Filho.  

Além dessa dimensão operacional, o especialista afirma que o principal ponto para os produtores é: “Quem vai pagar o brinco?”. Nesse sentido, Lima Filho vê algumas iniciativas de associações e de frigoríficos que se disponibilizam a arcar com o acessório.  

No caso de Mato Grosso, maior estado produtor de carne bovina, os produtores também esperam um apoio do governo estadual. De acordo com o diretor regional da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Amarildo Merotti, cerca de 35% dos produtores do Estado têm menos de 50 cabeças. 

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“A gente tem uma preocupação sim do Estado, o governo, ajudar a bancar os pequenos produtores, vamos dizer aí de 100 animais abaixo ou de 200 abaixo para que isso flua melhor, e o governo já se dispôs a isso”, afirmou.

Carne rastreada vai ter mais valor?

Apesar de ter um crescimento nos custos, os especialistas no setor não acreditam que haverá um pagamento de um prêmio pela carne rastreada. Para o presidente do Instituto Mato-Grossense da Carne (IMAC), Caio Penido, a rastreabilidade no Brasil está ligada ao fator sustentável, ou seja, saber se a origem dos animais vem de propriedades socioambientalmente corretas. 

Ele acredita que essa ligação pode trazer um retorno aos produtores, mas não garante. “É uma coisa que a gente não pode prometer que vai ter um valor agregado, mas a expectativa é que tenha”, disse ao Agro Estadão. 

O técnico da CNA, por outro lado, adverte que é preciso voltar ao ponto original da rastreabilidade, que é a questão sanitária. “A finalidade principal é a sanitária. A partir do momento que a gente tem, por exemplo, outras questões ou outros objetivos, pode prejudicar o objetivo principal, que é o sanitário”, pontuou.

Mesmo assim, Lima Filho diz ser possível, em um segundo momento, incorporar nesse arranjo elementos com a finalidade socioambiental. Neste caso, o PNIB continuaria sendo uma ferramenta de garantia sanitária, sem indicar se a propriedade está regular ou irregular nesse quesito. O que seria feito é a adesão à protocolos, mas de forma privada, ou seja, o produtor colocando mais dados para atestar também essa questão.

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Exigência chinesa

Nesse palco, entra também a China. Em 2024, o país asiático representou 46% do volume exportado pelo Brasil de carne bovina, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). O protocolo de exportação prevê que o Brasil garanta a rastreabilidade dessa proteína. O atual sistema é uma rastreabilidade por lote através das Guias de Transporte Animal (GTA). Devido à relevância dos chineses, a hipótese de uma exigência da rastreabilidade individual por parte deles já está no radar dos produtores brasileiros. 

O assessor da CNA avalia que a possibilidade disso ocorrer é baixa no curto prazo – próximos cinco anos. Isso porque exigiria uma corrida dos produtores para implementar a rastreabilidade individual, o que teria um custo maior para ser feito de forma rápida. “Precisa ver se eles [chineses] estão dispostos a pagar mais por essa carne. Por exemplo, a União Europeia, que hoje é o único mercado que exige a rastreabilidade individual, paga um preço maior pela carne”, destacou. 

Já os produtores dizem estar preparados caso isso venha acontecer. O diretor da Acrimat cita o exemplo do Boi China, em que os produtores brasileiros se adaptaram rapidamente. Ele ainda acredita que um diferencial que pode pesar de forma desfavorável numa eventual exigência da rastreabilidade individual pelos chineses é o preço da carne brasileira. 

“Se você analisar, a carne no Brasil hoje é a mais barata do planeta. Nós trabalhamos em torno de US$ 55 a US$ 60 a arroba. Se você vê a carne americana e europeia, é acima de US$ 120 dólares. Então, praticamente o dobro da nossa”, completou Merotti.

*Jornalista viajou a convite do Instituto Mato-Grossense da Carne (IMAC)

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