Sustentabilidade
Pecuaristas deixaram de abrir 253 milhões de hectares em áreas de pastagem nos últimos 40 anos, aponta CNA
Representante da entidade também ressaltou que setor Agro é o que menos vem emitindo gases do efeito estufa
3 minutos de leitura 22/08/2024 - 16:47
Por: Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
A Subcomissão Temporária para Discutir e Analisar o Mercado de Ativos Ambientais Brasileiros do Senado discutiu nesta quinta, 22, a importância dos ativos ambientais na remuneração dos produtores rurais. Durante a audiência pública, o coordenador de Sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nelson Ananias, ressaltou que os pecuaristas brasileiros aumentaram a eficiência na produção, o que levou a uma conservação das áreas florestais.
“Numa mesma análise, dizendo que a eficiência trouxe uma conservação de ativos ambientais, nós deixamos de abrir 253 milhões de hectares em áreas de pastagem se a gente criasse o mesmo boi do mesmo jeito do que há 40 anos atrás. Isso é ativo ambiental”, disse Ananias.
O cálculo para a agricultura também foi enfatizado pelo coordenador da CNA. Segundo ele, para ter uma produção atual utilizando a mesma tecnologia de 50 anos atrás, o Brasil teria que ter mais 156 milhões de hectares em áreas agrícolas. “É o dobro da agricultura hoje no Brasil”, pontuou.
A pesquisadora do Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical da Universidade de São Paulo, Danielle Denny, foi na mesma linha. “A gente tem possibilidade, sem derrubar uma única árvore, de alimentar o mundo todo até 2050 com facilidade, só otimizando e restaurando pastagens degradadas”, disse.
Valorização dos ativos ambientais
Outro ponto que os participantes tocaram foi a valorização e remuneração dos ativos ambientais dos produtores rurais brasileiros. O coordenador-geral de Mudanças do Clima e Desenvolvimento Sustentável do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Jorge Caetano Junior, disse que é preciso discutir e botar em prática o conceito de adicionalidade ambiental, que consiste no reconhecimento e pagamento das práticas sustentáveis adotadas pelo produtor.
“Nesse contexto, a legislação sobre crédito de carbono e pagamento por serviços ambientais desempenha um papel crucial. O crédito de carbono permite que os produtores agrícolas sejam recompensados por práticas que reduzem e evitam as emissões dos gases do efeito estufa. Por outro lado, o pagamento de serviços ambientais poderá recompensar agricultores pela preservação de bacias hidrográficas, proteção da biodiversidade, conservação do solo, consistindo assim em elemento fundamental para o reconhecimento dos esforços que ultrapassem o exigido pela legislação ambiental”, comentou o representante do Mapa.
O coordenador da CNA disse que os produtores já vêm adotando iniciativas para mitigar as emissões. Segundo ele, o Agro foi o setor que menos emitiu gases do efeito estufa desde o início do monitoramento. “[Foram] apenas 7% de aumento das emissões de gases do efeito estufa se comparado com os outros setores econômicos, ou seja, existiu investimentos de produtores rurais que aderiram uma agricultura cada vez mais produtiva, cada vez menos emissora, cada vez mais eficiente no uso dos recursos naturais”, afirmou Ananias.
Apesar disso, a entidade representativa do setor entende que é preciso combater o desmatamento ilegal para se obter essa valorização e reconhecimento. Ananias enfatizou que os produtores estão cientes disso e não são os responsáveis pelo desmatamento fora do permitido pela lei.
“Mas para que isso [ativos ambientais] seja valorado, reconhecido e, no final das contas, remunerado, nós precisamos combater o desmatamento ilegal. Isso é uma questão que o próprio produtor rural tem essa consciência. Nós somos contra toda a ilegalidade. […] Não podemos generalizar essa questão do desmatamento”, comentou durante a audiência.
A subcomissão vem realizando sessões de discussão com especialistas para tratar sobre o mercado de ativos ambientais brasileiros e é ligada à Comissão de Meio Ambiente do Senado. Essa subcomissão tem até dia 30 de setembro para entregar um relatório que irá dar base aos senadores em votações de matérias relacionadas a essa temática. Uma das proposições que podem ser auxiliadas com as atividades é o projeto de lei que cria o mercado de carbono.
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