PUBLICIDADE

Economia

Produtores afetados pelo clima podem renegociar dívidas; confira o passo a passo

Prazo vai até fevereiro de 2026; economista alerta que recursos podem acabar rapidamente

Nome Colunistas

Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@estadao.com

23/09/2025 - 13:38

Foto: Adobe Stock
Foto: Adobe Stock

Produtores rurais e cooperativas afetados pelo clima podem renegociar débitos afetados por perdas climáticas. O Conselho Monetário Nacional (CMN) regulamentou as condições da Medida Provisória 1.314/2025, que abriu crédito extraordinário de R$ 12 bilhões. O prazo para contratação vai até 10 de fevereiro de 2026, com até nove anos para pagamento e um ano de carência.

Apesar de a resolução já ter sido publicada, a contratação ainda depende de uma circular do BNDES, que trará as normas operacionais para os bancos. O documento é aguardado para a próxima semana. 

O crédito vale para operações de custeio e investimento do Pronaf, do Pronamp e dos demais produtores. Também podem ser renegociadas Cédulas de Produto Rural (CPRs) emitidas até junho de 2024. Para ter acesso, é preciso que:

  • o município tenha decretado estado de emergência ou calamidade em pelo menos dois anos entre 2020 e 2024;
  • o produtor comprove perdas de ao menos 30% em duas safras nesse período, por meio de laudo técnico;
  • a dívida estivesse em dia até junho de 2024, mas em inadimplência em setembro de 2025.

Limites de renegociação

Segundo a resolução, os valores máximos por beneficiário são:

  • até R$ 250 mil para agricultores familiares enquadrados no Pronaf;
  • até R$ 1,5 milhão para produtores do Pronamp;
  • até R$ 3 milhões para os demais;
  • até R$ 50 milhões para cooperativas;
  • até R$ 10 milhões para associações de produtores.

Passo a passo para acessar o crédito

O Agro Estadão ouviu o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, a respeito do tema, que destacou algumas orientações básicas para quem deseja realizar a negociação. 

PUBLICIDADE

Para o especialista, o montante tende a se esgotar rapidamente porque contempla agricultores de todas as regiões do País afetadas por eventos climáticos. “Já que o dinheiro é pouco, a dica é fazer isso o mais rápido possível”, disse da Luz. 

Confira as dicas do economista:

1. Procure o seu credor assim que possível: o primeiro passo é levantar todas as dívidas com o banco onde você já tem crédito. Confira com ele a situação da dívida. Só podem ser renegociadas operações contratadas até junho de 2024. Dívidas que ficaram inadimplentes após 5 de setembro de 2025 não entram na medida.

2. Verifique o enquadramento do seu município: só terão acesso os produtores de cidades que decretaram emergência ou calamidade em pelo menos dois anos entre 2020 e 2024. A comprovação pode ser feita junto à Defesa Civil local.

3. Reúna os laudos de perdas: será necessário apresentar laudos que comprovem perdas de pelo menos 30% em duas safras no período. “Tem que ter as contas organizadas. Para que, quando liberar, ele já esteja na fila, já esteja organizado”, disse o economista.

Ainda de acordo com Luz, com toda a documentação organizada e o enquadramento confirmado, o produtor deve procurar o mesmo banco em que já tem o financiamento. É nessa instituição que será contratada a nova linha de crédito, destinada a liquidar ou amortizar a dívida antiga. O procedimento será feito de forma conjunta com o agente financeiro, que avaliará quais operações podem ser incluídas.

Entenda os juros

A linha de R$ 12 bilhões tem taxas diferenciadas para agricultores familiares, médios produtores e os demais. Para valores que ultrapassarem os limites de renegociação — R$ 250 mil no Pronaf, R$ 1,5 milhão no Pronamp e R$ 3 milhões para outros produtores — os bancos poderão oferecer um novo financiamento nas mesmas condições de prazo e carência, mas com juros livres. “O que muda é o juro, porque daí é uma operação de juro livre, que os bancos são autorizados a fazer com recursos próprios”, explicou Antônio da Luz. 

PUBLICIDADE

“Se for o caso, ele deve buscar um profissional que possa o orientar no que entra e o que não entra nas medidas, para se sentir mais seguro”, complementa.

Insuficiência do recurso

Embora a linha de crédito represente um alívio, entidades do setor veem risco de esgotamento rápido. O economista-chefe da Farsul destacou a disparidade entre o montante liberado e a realidade das dívidas rurais. “Só o Rio Grande do Sul tem uma dívida de R$ 73 bilhões, dos quais R$ 27 bilhões estão estressados [em atraso, já prorrogados ou prestes a entrar em inadimplência]. E a medida é para todo o País. Então, 12 bilhões não dá conta nem da necessidade do Rio Grande do Sul”, afirmou.

O economista destaca que o governo poderia ampliar o alcance da medida se permitisse que os fundos constitucionais também fossem usados como funding (fonte de recursos para o crédito). Segundo ele, hoje, há valores parados nesses fundos, que financiam programas de desenvolvimento em regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Se fossem liberados para a renegociação, o volume disponível poderia dobrar. “Isso botaria mais dinheiro no sistema. De 12 viraria, talvez, 24. E deixaria esse dinheiro [do Tesouro] para as regiões que não têm fundo constitucional”, disse.

A Farsul — e outras entidades do setor — defendem a aprovação de projetos em tramitação no Congresso, como o PL 5.122, que prevê o uso de até R$ 30 bilhões do Fundo Social do pré-sal. Nesse modelo, os recursos teriam menor impacto fiscal, já que viriam de receitas financeiras e não de impostos. “Isso nos parece ser muito melhor para o produtor e muito melhor para o contribuinte”, afirmou o economista.

Siga o Agro Estadão no WhatsApp, Instagram, Facebook, X, Telegram ou assine nossa Newsletter

PUBLICIDADE

Notícias Relacionadas

Queda do tomate no atacado é destaque em pesquisa de preços de agosto da Conab

Economia

Queda do tomate no atacado é destaque em pesquisa de preços de agosto da Conab

Redução média foi de 19,86% e ocorreu, segundo a companhia, mesmo com oferta inferior em relação ao mês anterior

Impacto do tarifaço ainda não foi totalmente sentido, alerta OCDE

Economia

Impacto do tarifaço ainda não foi totalmente sentido, alerta OCDE

Organização aponta que efeito das tarifas avança gradualmente, enquanto empresas ainda absorvem parte dos custos

Azeites brasileiros entram para lista dos melhores do mundo

Economia

Azeites brasileiros entram para lista dos melhores do mundo

Produtos gaúchos e mineiros foram incluídos no guia Flos Olei 2026; confira os nomes

Soja: Argentina zera impostos e ameaça exportações do Brasil para a China

Economia

Soja: Argentina zera impostos e ameaça exportações do Brasil para a China

Decisão vai baratear a soja argentina e já impacta o mercado agrícola, que recua de maneira generalizada neste início de semana

PUBLICIDADE

Economia

Preço do suco de laranja registra leve recuo nos EUA

Apesar da menor produção na Flórida desde 1932, vendas de suco atingem maior volume desde junho

Economia

Abiove: capacidade de processamento de oleaginosas cresce 5,7% em 2025

Segundo a Abiove, número de empresas e de plantas ativas também aumentou, com investimento previsto de R$ 5,9 bi

Economia

União Europeia reabre mercado para carne de frango e de peru do Brasil

Exportações estavam suspensas desde maio; texto autoriza a entrada de produtos brasileiros com data de produção a partir de 18 de setembro

Economia

BB já liberou R$ 40 bilhões em financiamentos na safra 25/26

Banco vai oferecer R$ 230 bilhões em financiamentos para o agronegócio nesta safra, volume 2% superior se comparado à temporada passada

Logo Agro Estadão
Bom Dia Agro
X
Carregando...

Seu e-mail foi cadastrado!

Agora complete as informações para personalizar sua newsletter e recebê-la também em seu Whatsapp

Sua função
Tipo de cultura

Bem-vindo (a) ao Bom dia, Agro!

Tudo certo. Estamos preparados para oferecer uma experiência ainda mais personalizada e relevante para você.

Mantenha-se conectado!

Fique atento ao seu e-mail e Whatsapp para atualizações. Estamos ansiosos para ser parte do seu dia a dia no campo!

Enviamos um e-mail de boas-vindas para você! Se não o encontrar na sua caixa de entrada, por favor, verifique a pasta de Spam (lixo eletrônico) e marque a mensagem como ‘Não é spam” para garantir que você receberá os próximos e-mails corretamente.