Economia
Primeira usina de etanol de milho do Nordeste mira mercado local
Unidade pretende ainda produzir 490 mil toneladas DDGS para exportação; Brasil abriu nove mercados para o produto, incluindo a China
Daumildo Júnior* | Balsas (MA) | daumildo.junior@estadao.com.br
02/08/2025 - 08:00

A primeira operação dedicada à produção de etanol de milho e sorgo da região Nordeste entrou em funcionamento há algumas semanas na cidade de Balsas (MA). A região foi considerada estratégica pelo vice-presidente de trade da companhia Inpasa, Gustavo Mariano, que levou em consideração as duas pontas de uma indústria: fornecedores de matéria-prima e compradores do produto final.
“Um dos predicados foi a disponibilidade agrícola aqui na região, o crescimento e o desenvolvimento exponencial que vem tendo essa região para poder suprir, porque não adianta nada a gente colocar uma usina dessa se a gente não tiver um agro forte por trás”, destacou Mariano ao Agro Estadão. Em termos de milho, o estado é o principal produtor do Nordeste e também do Matopiba, com 2,9 milhões de toneladas na safra 2024/2025 estimadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Do lado das vendas, o diferencial pela escolha do local está relacionada à necessidade de abastecimento, tanto é que a comercialização do etanol hidratado deve ficar praticamente nos postos de combustível do Maranhão e de estados vizinhos. “Nos chamou muita atenção o fato de que o Maranhão era um dos poucos estados que não atingia paridade de consumo. E a gente olhava para dentro e percebia que é um estado que tem uma capacidade enorme de absorver biocombustível”, acrescentou.
O projeto foi elaborado em duas etapas. A primeira, já em funcionamento, tem capacidade de produção de 500 milhões de litros de etanol (anidro e hidratado). A segunda parte será finalizada em setembro e acrescentará mais 425 milhões de litros de produção do biocombustível.
Exportação de DDGS
Apesar desses pontos pesarem na escolha, outro viés que favoreceu a seleção do sul maranhense foi a proximidade com o porto de Itaqui e possíveis ligações de modais. A biorrefinaria gera no processo de produção de etanol o chamado DDGS (sigla em inglês para grãos secos de destilaria com solúveis). Esse material é utilizado principalmente como alimento para animais, já que é rico em proteínas.
A estimativa é que a unidade de Balsas gere 490 mil toneladas desse subproduto por ano. Além do potencial interno, os DDGS tendem a ganhar relevância na pauta exportadora das empresas de etanol de milho. De setembro de 2024 até maio deste ano, o Brasil abriu nove mercados, sendo a China o mais recente, conforme dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
“A gente tem a intenção de fazer exportação de produto aqui através do Porto de Itaqui. O escoamento de ferrovia, integração intermodal aqui no Estado, com certeza absoluta, faz uma diferença enorme para a gente também. Primeira fase já funcionando, a partir de setembro, quando a gente estiver com a capacidade completa de produção, a gente deve aumentar ainda mais a nossa posição e aí sim utilizar mais as instalações do Porto de Itaqui, que hoje nós já utilizamos”, disse o vice-presidente.

Expansão da região
O processo de escolha envolveu o governo do estado do Maranhão, que ofereceu uma renúncia fiscal de aproximadamente 90% da carga tributária. Além do Maranhão, outros estados estiveram no páreo para receber a instalação, como contou o governador do estado, Carlos Brandão, durante a cerimônia de inauguração.
A expectativa agora é de que a usina provoque mais mudanças no sul maranhense. “É um capítulo de atração de novos investimentos, porque a partir de agora a gente vai atrair frigorífico de frango, frigorífico de suíno, frigorífico de bovino, para que a gente possa agregar mais valor [nos produtos]”, comentou a jornalistas sobre o potencial com os DDGS na produção de proteína animal.
*Jornalista viajou a convite do Governo do Maranhão
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