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Economia

Chuvas no Rio Grande do Sul provocaram danos de R$ 88,9 bilhões

Levantamento liderado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aponta que, na agricultura, os prejuízos somaram R$ 12,72 bi e na pecuária, R$ 2,68 bi

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Fernanda Farias* | Porto Alegre | fernanda.farias@estadao.com

28/11/2024 - 20:20

Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil
Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), entregou, nesta quinta-feira, 28, ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MDR), em Brasília, o relatório sobre os impactos das inundações ocorridas no Rio Grande do Sul em maio deste ano. Produzido pelo BID em conjunto com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e o Grupo Banco Mundial, em parceria com diversas entidades do Sistema das Nações Unidas, o levantamento aponta para um prejuízo total de R$ 88,9 bilhões no estado.

Desse total, 69% (R$ 61 bilhões) correspondem ao setor produtivo; 21% em setores sociais (R$ 19 bilhões); 8% à infraestrutura (R$ 7 bilhões); e 1,8% ao meio ambiente (R$ 1,6 bilhão). Sobre os impactos projetados para 2024 – provocados pela situação de calamidade pública – no Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho, a previsão era de recuo da atividade econômica de (-) 1,3%.

O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, destaca também a reação do poder público para conter os impactos econômicos das enchentes. “Foi feito um esforço que conseguiu reduzir o custo em 1,1% do PIB Gaúcho. A gente estima danos em R$ 88,9 bilhões com efeitos em quase toda a estrutura produtiva”.

O levantamento considerou como danos, os prejuízos monetários com perdas de casas, máquinas, veículos, móveis e estradas, por exemplo. Perdas foram os bens que deixaram de ser produzidos e os serviços que não foram fornecidos devido ao desastre. Já em custos adicionais, foram incluídos os gastos para o apoio da emergência.

Agricultura e Pecuária

O impacto econômico estimado na agricultura do Rio Grande do Sul foi de mais de R$ 8,5 bilhões em perdas na produção agrícola, perto de R$ 500 milhões em danos aos ativos agrícolas e aproximadamente R$ 3,7 bilhões em custos adicionais para recuperação de solos afetados pela erosão hídrica, totalizando R$ 12,72 bilhões.

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O desastre afetou 64 culturas de 452 municípios, totalizando de 15% a 16% da área agrícola destinada à colheita no estado. Por culturas, os produtores rurais mais atingidos foram de grãos (74,6%, sendo a soja a principal), frutas (12,8%) e hortaliças (12,3%).

Na pecuária, o impacto econômico representa R$ 1,2 bilhão em perdas na produção, R$ 710 milhões em danos nos ativos e aproximadamente R$ 783 milhões em custos adicionais. Das perdas pecuárias totais, chama a atenção o índice de 48% devido à perda de peso dos animais por falta de alimentos no pós-enchentes. Os pesquisadores contabilizaram a morte de 101 mil animais, sendo mais de 70 mil bovinos. 

Relembre o desastre climático no Rio Grande do Sul

No final de abril e início de maio deste ano, grandes volumes de chuva atingiram o Rio Grande do Sul, o que provocou a cheia e transbordamento de rios, deslizamentos de terras e inundações de cidades. O relatório aponta que algumas áreas registraram até 300 mm de chuva em um único dia. “Isso resultou na saturação do solo e no transbordamento de rios e córregos, causando inundações generalizadas tanto em áreas urbanas como rurais”, mostra o estudo.

Dos 497 municípios gaúchos, o governo estadual declarou estado de calamidade para 95 e de emergência para outros 323. Além das 179 mortes, cerca de 2,3 milhões de pessoas foram potencialmente afetadas, segundo o levantamento.

Emprego e renda

Em relação ao emprego, o desastre causado pode resultar em uma redução de 432 mil empregos no estado em 2024, o equivalente à queda de 7,3% do total de pessoas ocupadas no primeiro trimestre do ano.

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O documento ainda prevê que a remuneração dos trabalhadores diminuirá, em 2024, cerca de R$ 3,22 bilhões (0,5% do PIB) e os impostos sobre a produção líquidos de subsídios diminuirão em R$ 89,3 milhões (0,01% do PIB).

Ao receber o relatório dos três principais organismos internacionais que atuam na América Latina e no Caribe, o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, observa que alguns setores econômicos foram muito mais velozes no processo de retomada das atividades e que outros ainda demorarão um pouco mais para se restabelecer. “Isso faz parte do tamanho da intensidade que foi este desastre”, afirma.

Recomendações

O levantamento faz recomendações estratégicas para a recuperação de áreas afetadas no Rio Grande do Sul. Goldfajn destaca que as instituições precisam estar preparadas para situações semelhantes. “Temos várias recomendações mais para frente: alerta precoce, estrutura resiliente, que evita as inundações e protege os mais vulneráveis. O governo já está se articulando para isso, pensando no futuro, porque nós vamos ter mais desastres”, alerta.

No curto prazo, o documento recomenda as ações de segurança: 

  • priorizar a reconstrução de estruturas resilientes para enfrentar as inundações e minimizar seus impactos negativos, por exemplo, diques com altura consistente e sistema de bombeamento e drenagem eficientes; 
  • obras de controle de inundações para proteger a população de áreas de risco, a exemplo de bacia de retenção e muros de contenção; 
  • melhorar os sistemas de alerta precoce e de gestão de emergências; 
  • reconstrução que também aumentem a criação de empregos, sobretudo, para populações mais vulneráveis; 
  • atualização de mapas de áreas de risco e definição de regiões onde residências não devem voltar a ser construídas; 
  • formalização de um órgão técnico-científico estadual para identificação de riscos de desastres.

Já as sugestões de médio prazo incluem:

  • manutenção da gestão de riscos como política pública de longo prazo e formalizar um órgão técnico-científico para identificação de riscos; 
  • fortalecimento da coordenação entre órgãos de diferentes esferas de governo e diferentes municípios com foco na gestão de risco; 
  • atualização dos planos diretores que considerem a possibilidade de que a infraestrutura local possa ser sobrecarregada, em caso de inundação. 

*Com informações da Agência Brasil

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