Economia
Agronegócio vê como positiva sinalização de Trump, mas FPA não acredita em recuo
Conversa entre Lula e Trump deve ocorrer de forma remota; Cecafé espera que café entre na lista de exceções

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
24/09/2025 - 05:00

O aceno do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma possível conversa com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi recebido com otimismo por alguns integrantes do agronegócio brasileiro. Trump e Lula tiveram um breve contato durante a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira, 23, em Nova York (EUA).
No discurso, o chefe do governo americano afirmou que teve uma “química excelente” com Lula. O primeiro encontro entre os dois líderes durou cerca de 20 segundos, segundo o próprio Trump, mas foi suficiente para um pré-agendamento de uma reunião.
“Eu estava entrando [para o discurso no plenário da ONU] e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos. […] Nós concordamos que nos encontraríamos na semana que vem”, disse Trump no pulpito da Assembleia-Geral.
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) destacou que a sinalização é uma “possibilidade de reaproximação estratégica”. Na avaliação do diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos, há uma chance de que um acordo entre os dois países viabilize a entrada do café brasileiro na lista de produtos que não são produzidos nos Estados Unidos e que têm isenções tarifárias.
“O comentário do presidente Trump traz uma visão positiva para o mercado com uma possibilidade de um contato dado a necessidade de acordo bilateral para termos isenções, uma vez que o café já foi reconhecido pela ordem executiva do dia 5 de setembro, que é um produto natural não disponível para os Estados Unidos e que agrega muito valor para a sua indústria norte-americana. Então essa retomada de diálogo em elevado nível é fundamental para a concretização dessa relação bilateral e que o Brasil possa reduzir todos os impactos”, destacou Matos ao Agro Estadão.
O diretor ainda lembrou que as tarifas impostas sobre o Brasil desregularam o mercado do café internacionalmente, chegando a ser cotado em US$ 420 por libra-peso. Essas oscilações trazem prejuízos e riscos, com contratos postergados ou quebrados unilateralmente.
“20 segundos não apaixona ninguém”
Ainda no discurso, o presidente americano chegou a elogiar Lula ao opinar que o presidente brasileiro parece ser “um homem muito bom”. “Ele gostou de mim, eu gostei dele. E eu só faço negócios com quem eu gosto”, completou Trump.
Na avaliação do presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), “tudo aquilo que for positivo para ajudar a resolver esse problema [das tarifas], está ótimo”. Porém, o chefe da bancada do agronegócio disse não acreditar em um recuo completo do líder americano.
“Eu não acho que 20 segundos não apaixona ninguém, só se for amor à primeira vista”, brincou. “Não acredito que o presidente Trump, por causa de um encontro de 20 segundos, vá voltar atrás de tudo que ele disse sobre o Supremo, sobre o Big Tech, sobre o Pix, sobre questões do Estado, sobre posicionamentos políticos. Seria muita ingenuidade de nós todos acreditarmos nisso. É um jogo de estratégia, é um jogo de xadrez. É assim que funciona a geopolítica”, completou Lupion a jornalistas após a reunião da FPA, nesta terça.
Como noticiado pelo Estadão.com, a conversa entre Lula e Trump deve ocorrer de forma remota, por uma ligação telefônica ou videochamada.

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