Agropolítica
“Se tiver alguma atitude com o Brasil, haverá reciprocidade”, afirma Lula sobre tarifas dos EUA
Haddad e Alckmin falam em “cautela para tomar medidas concretas”

Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
14/02/2025 - 12:39

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a falar sobre as novas taxações do governo dos Estados Unidos em importações de produtos. Lula disse esperar uma relação “civilizada e harmônica” com o governo de Donald Trump, porém, reforçou que haverá retaliação caso avancem as propostas de ampliação tarifária.
“Sinceramente, não vejo nenhuma razão para o Brasil buscar contencioso com quem não precisa. Agora, se tiver alguma atitude com o Brasil, haverá reciprocidade. Não tem dúvida. Haverá reciprocidade do Brasil em qualquer atitude que tiver contra o Brasil”, reforçou o presidente nesta sexta-feira, 14, em entrevista à Rádio Clube do Pará.
Lula ainda citou a situação do aço, na qual Trump ordenou a imposição de uma taxa de 25% sobre a importação de aço e alumínio comprados pelos estadunidenses. O presidente brasileiro cogita inclusive recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).
“Eu ouvi dizer que vai taxar o aço brasileiro. Se taxar o aço brasileiro nós vamos reagir comercialmente. Ou vamos denunciar na Organização do Comércio [OMC] ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles”, pontuou. Lula ainda lembrou que o país norte-americano tem um superávit nas relações comerciais em relação ao Brasil: “A relação do Brasil com os Estados Unidos é uma relação muito igualitária, ou seja, eles importam de nós US$ 40 bilhões e nós importamos deles US$ 45 bilhões”.
Questionado sobre a relação com o Trump, Lula disse que “não tem relacionamento” e colocou o assunto como um vínculo entre nações. “Eu ainda não conversei com ele [Trump], ele não conversou comigo. O relacionamento é entre Estado brasileiro e Estado americano. Nós temos 200 anos de relações diplomáticas. O Brasil considera os Estados Unidos um país extremamente importante para a relação com o Brasil e eu espero que os Estados Unidos reconheçam o Brasil como um país muito importante”, respondeu.
Fazenda “espera” para tomar medidas efetivas
Na última quinta-feira, 13, após o anúncio de uma ordem de Trump a assessores para avaliação de tarifas aplicadas a produtos de vários países, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, foi um dos primeiros a se manifestar e pedir cautela. Na mesma linha, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se posicionou afirmando que o momento é de espera para entender o que há de concreto. O temor do setor é de que produtos agropecuários sejam alvos do aumento de tarifas norte-americanas, como o etanol.
“Nós [Haddad e Alckmin] chegamos à conclusão de que pela maneira como as coisas estão sendo anunciadas e feitas o melhor é nós aguardarmos para verificar. […] Temos que ver como é que termina essa história. A partir do momento que nós tivermos um balanço do que eles pretendem, aí sim, nós vamos estar com a radiografia feita e vamos considerar”, afirmou o ministro da Fazenda também nesta quinta a jornalistas.
Haddad também bateu na tecla de que a balança comercial com os Estados Unidos é superavitária para os norte-americanos, principalmente, quando observado o setor de serviços. “Não há muita razão nem para nós temermos, porque não é um parceiro que está importando muito do Brasil e exportando pouco. Ao contrário. Então, vamos com cautela esperar as medidas que vão ser anunciadas e enquanto isso a área econômica, sobretudo o Ministério do Desenvolvimento [MDIC], está fazendo um balanço das nossas relações comerciais para que a reciprocidade seja um princípio a ser observado pelos dois países”, afirmou.
De acordo com a plataforma Comex Vis, do MDIC, o Brasil exportou para os Estados Unidos US$ 40,368 bilhões em 2024, enquanto importou US$ 40,652 bilhões. O etanol não figura entre os dez principais itens exportados ou importados pelo Brasil na relação com o país de Trump. Outros produtos agropecuários, como café, suco de laranja, carne bovina e celulose, têm participação mais significativa entre os itens embarcados rumo aos norte-americanos.
No entanto, o superávit geral com os Estados Unidos vem diminuindo, principalmente, depois de 2022. Naquele ano, o Brasil exportou US$ 37,4 bilhões e importou US$ 51,3 bilhões, maior diferença na balança comercial registrada na série histórica da plataforma, que começa em 2014. O ano passado teve o menor superávit dessa série histórica.
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