Agropolítica
Roberto Rodrigues: "Uma visão do agro global"
Existem 4 fatores estruturais e trágicos que ameaçam a paz global e dos quais nenhum cidadão ou governo está livre
2 minutos de leitura 07/02/2024 - 14:15
Por: Roberto Rodrigues - Professor Emérito da FGV
Num mundo conturbado por guerras, radicalizações ideológicas e religiosas, triunfo do individual sobre o coletivo, pandemia, insegurança pública, inflação ou estagnação econômica e outros tormentos conjunturais, existem 4 fatores estruturais e trágicos que ameaçam a paz global e dos quais nenhum cidadão ou governo está livre. São os 4 modernos cavaleiros do Apocalipse: segurança alimentar, segurança energética, mudanças climáticas e desigualdade social.
O combate a esses monstros atuais passa necessariamente pelo setor rural. Senão, vejamos.
Segurança alimentar: é tão óbvio que não carece de justificativa. Mas não custa lembrar que o Brasil já alimenta mais de 800 milhões de pessoas em todos os continentes, e crescendo.
Segurança energética : a COP 28 realizada em Dubai no final do ano passado determinou a efetivação de ações que mudassem a matriz energética mundial, aumentando a parcela renovável da mesma, com correspondente redução (até a eliminação) da dependência de fósseis (petróleo, gás, carvão mineral, etc).
A matriz brasileira tem 19% oriunda de biomassa : biocombustíveis, eletricidade vinda da cogeração na indústria sucroenergética, biometano, carvão vegetal, etc. Mudanças climáticas dependerão em grande parte do uso do solo. Temos no Brasil a mais ampla e rigorosa legislação a respeito, o Código Florestal.
A desigualdade social passa pela geração de empregos e renda. O desenvolvimento rural traz isso de sobra.
Portanto, o agro tem muito a contribuir para eliminar os tais “cavaleiros”. Mas qual agro? O tropical, que incorpora toda a América Latina, a África subsahariana e parte da Ásia. Nesta região tem muita terra que permite o crescimento horizontal da agropecuária, e a produtividade ainda é baixa, o que vale dizer que pode haver aí um grande crescimento vertical.
E o Brasil tem tudo para ser o grande protagonista desse processo, não apenas como produtor e exportador de alimentos e biocombustíveis, mas como patrocinador do desenvolvimento tecnológico dessa vasta região, exportando tecnologia, serviços, equipamentos e máquinas, agroindústrias inteiras, legislações, insumos e até políticas públicas; tudo, enfim, que aprendemos a duras penas nessas últimas décadas em que passamos de importadores a exportadores do agro mundial.
O Brasil pode ser mesmo o líder de um projeto sem precedentes na história contemporânea. Basta ter vontade política para isso, montando uma estratégia consistente, com parcerias entre o público e o privado, contemplando infraestrutura e logística, acordos comerciais, pesquisa e extensão rural com vistas a sustentabilidade, política de renda para o campo, apoio a organização rural (cooperativismo), cumprimento das leis (combate rigoroso a ilegalidades como desmatamento ilegal, invasão de terras, incêndios criminosos, garimpos clandestinos, tráfico de drogas), e sobretudo educação, com a formação de técnicos aptos a promover essa grande tarefa. Até porque o resultado final será a Paz, grande legado a ser construído.
As opiniões são do autor, e não refletem necessariamente o pensamento do Agro Estadão.
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