Agropolítica
Arrozeiros voltam a defender produção enquanto governo federal retoma discussão sobre o tema do leilão
Federarroz destaca que os preços do arroz brasileiro estão entre os mais baratos do mundo e que produção é suficiente para abastecimento
4 minutos de leitura 29/08/2024 - 08:30
Por: Fernanda Farias | Porto Alegre | fernanda.farias@estadao.com
Dois meses após a crise do arroz gerada pelo polêmico leilão que provocou duas demissões do governo, uma delas no alto escalão, o tema não está sepultado. Mesmo com um clima amistoso entre governo e setor produtivo depois que os produtores se comprometeram a monitorar os preços do arroz e manter o fornecimento do produto para a indústria, o governo federal parece seguir com a intenção de comprar o cereal.
Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou uma Medida Provisória que traz no conteúdo a garantia de R$ 516 milhões para a “formação de estoques”, sendo R$ 416 mi da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – responsável pelos leilões de compra. E,
há poucos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que estava “no pé do ministro” para baixar o preço do arroz, conforme mostra a reportagem do Estadão.
Mas de acordo com a análise do Gerente de Produtos Agropecuários da Conab, Sérgio dos Santos, o mercado está se comportando dentro da normalidade em relação aos preços pagos ao produtor. “Dado esse cenário de oferta e demanda bem ajustado, a tendência é que o mercado opere em patamares elevados, possivelmente com leve viés de alta – nada muito significativo”, disse durante reunião da Câmara Setorial do Arroz, realizada nesta quarta, 28, durante a Expointer, no Rio Grande do Sul.
“Até porque temos uma paridade de outros países, com destaque para a Tailândia, que também é um fator formador de preços e que evita que esse preço descole muito do que está sendo comercializado atualmente”, destacou.
O gerente lembrou que o arroz começou o ano de 2024 com os preços elevados, por volta de R$ 130 a saca. Com os problemas climáticos no Rio Grande do Sul, “o varejo se antecipou e não só travou os preços como começou a subir os preços na gôndola dos supermercados”.
Brasil está em 83º em ranking de preços do arroz
O presidente da Câmara Setorial do Arroz, Henrique Dornelles, mostrou os preços praticados por outros países e disse que o Brasil vende arroz um pouco mais caro do que aqueles países que têm subsídio para a produção. “Temos certeza que o arroz que está sendo disponibilizado aos brasileiros é barato. E não somos nós que estamos falando, são os números”, afirmou Dornelles.
O levantamento apresentado pela Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) mostra que o Brasil ocupa a 83ª posição entre 96 países, de acordo com o preço cobrado pelo arroz. O produto brasileiro é mais barato, por exemplo, que o arroz da Tailândia (78º), da Argentina (75º), do México (62º), de Cuba (37º) e dos Estados Unidos (1º), o país com o maior preço praticado. Enquanto nos EUA, o quilo do arroz está sendo vendido a US$ 4,56 nesta quarta, 28, no Brasil o preço era de US$ 1,14.
“Isso demonstra que nós temos um preço acessível e também mostra a realidade mundial com relação ao preço do arroz. O arroz continua sendo um produto acessível ao consumidor no Brasil”, comentou ao Agro Estadão, o presidente da Federarroz, Alexandre Velho.
Produção de arroz aumenta e saída é a exportação
A produção na safra 2023/2024 somou 10,589 milhões de toneladas, um aumento de 5,6% em relação à safra anterior, enquanto a área de cultivo cresceu 8,6% no Brasil, totalizando 1,6 milhão de hectares. Para a safra de 24/25 já são esperados incrementos de área e de produção no Rio Grande do Sul.
Dados apresentados pelo gerente da Conab mostram que em 2022, foram exportadas 2 milhões de toneladas de arroz, enquanto que em 2023, foram 1,8 milhões e, em 2024, já foram embarcadas 700 mil toneladas.
“Hoje temos um mercado internacional carente de arroz e um mercado consumidor internacional em crescimento, com o consumo na África […] Uma safra além do que consumimos, vai para o mercado internacional”, disse dos Santos. “É um caminho interessante que seja traçado e hoje, tem disponibilidade de produto para continuar esse trabalho”, completou dos Santos.
Para o presidente da Federarroz, os números apresentados só reforçam o que o setor defende desde o início das discussões em torno da importação do produto. “Só fica claro, mais uma vez, pelos números do próprio governo de que não há possibilidade de falta de arroz”, comentou Alexandre Velho durante participação na reunião.
Relembre a polêmica do leilão de arroz
Em meio às enchentes no Rio Grande do Sul, que ocorreram entre o fim de abril e início de maio, o governo federal decidiu realizar leilão para importar arroz, justificando a decisão pela possível falta do produto no mercado e para equilibrar os preços.
Mas, mesmo com problemas de logística, o setor produtivo gaúcho garantia que não havia chances de faltar arroz nos supermercados brasileiros. Porém, o governo realizou o leilão para compra de 263 mil toneladas, que acabou cancelado após suspeitas de irregularidades.
Segundo os números da Conab, a perda na safra gaúcha de arroz por conta das inundações foi de 300 mil toneladas. E a produção do estado ficou muito próxima dos sete milhões de toneladas da safra anterior.
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